ÉBRIO DESEJO - EPISÓDIO II

ÉBRIO DESEJO

II

Acordou assustado, dando tapas no ar, pois se afogou com a água que entrou em sua boca.

- Socorro! (glup!) Socorro! – foi quando seu rosto foi tocado...

- Amália... Você... (glup!) você veio me salvar...

Abraçou o que parecia serem as canelas da ex-mulher e quase a puxou para dentro do riacho com ele. Ela fazia menção para que ele saísse.

- Mas você me promete? Promete que se eu sair daqui você nunca mais vai me dar motivo para eu tentar (glup!) acabar com a minha vida?

Ela o acariciava mais maternal ainda. Ele insistia em visualizar uma lágrima escorrendo de seu rosto, jovial e femininamente complacente, mas foi a água de sua boca que a alcançou e, por algum motivo, ela não limpava. Só esse gesto na verdade ja foi suficiente para que ele se repetisse:

“Ela me ama. Deus, essa mulher AMA este homem aqui”...

Nisso, ela estendeu o braço e ele segurou firme na tentativa de desatolar dali. Faziam muita força e suas pernas amarradas a dezenas de pedregulhos conseguiam, enfim, desencalhar. Sua Dalila parecia estar mais para Sansão, naquela ocasião. Foi quando fechou os olhos com firmeza e repetia-se:

- É a força do Amor! É a força do Amor!

Deixado em terra firme por uma equipe de resgate, recobrou a consciência quando um daqueles enormes e truculentos bombeiros florestais iniciava, com sucesso, uma reanimação através da respiração boca-a-boca.

Tossindo muito, teve como reflexo abraçar imediatamente quem o trazia de volta à vida que, em seu delírio, só poderia se tratar de uma pessoa...

- Amália, meu amor! Amália... (glup!) Eu te amo!

Ao som de “eu estou bem, eu estou bem” ganhou uma toalha seca e uma xícara de café amargo. Ja o bombeiro que o salvou, teve esse episódio eternizado pelos companheiros como “O Dia em que o Amor Venceu”, e desde então passou a ser identificado sob a alcunha de “Amália”, o que não fez mais feliz a vida do bombeiro, e muito menos trouxe fôlego novo à ressurreição do ébrio.

continua...