História de Amor

História de Amor

- Mãe, já reparaste como o Miguel olha para ti, ele ama-te mesmo de verdade, não compreendo porque insistes em aceitar o seu amor, sei muito bem que também o amas.

- David meu filho, quando o teu pai nos abandonou, eu jurei que nunca mais deixaria que homem algum me machucasse do modo como ele o fez, mas sobretudo prometi a mim mesma que o meu filho, tu, só teria um pai.

- Mãe, eu estou a crescer, qualquer dia arranjo uma namorada e tu ficas sozinha, peço-te, não me faças ficar com remorsos por um dia ver que ficaste só.

- David, tu achas mesmo que conseguias aceitar que ao fim destes anos todos, um outro homem que não o teu pai te pudesse vir a dar ordens?

- Minha mãe, todos nós temos de abdicar de muita coisa na vida, o que é isso de que falas quando comparado com a tua felicidade. Não me negues que amas o Miguel, tanto quanto ele te ama a ti. Há quanto tempo vocês sofrem os dois num silêncio que vos vai matando aos poucos?

- Meu filho, se eu, por acaso, aceitasse experimentar reconstruir a minha vida ao lado do Miguel, tu aceitavas?

- Minha mãe, não só aceitava, como apoiava.

David não conseguiu evitar que mais uma lágrima lhe caisse rosto abaixo, recriminou-se um pouco por tal facto, sabia muito bem que prometera a Miguel não chorar a sua morte, mas era mais forte do que ele.

Inclinou a cabeça para trás e sentiu a fresca aragem daquela tarde de Setembro, ah como recordava aquela outra tarde de Setembro de há quase vinte anos, em que sua mãe lhe comunicara que depois de muito pensar, decidira dar outra hipótese ao amor.

David fecha os olhos e deixa que as recordações se transformem numa verdadeira película de cinema, recorda os dias de grande felicidade que aquele homem proporcionou a sua mãe, recorda o modo como ele o defendia perante toda e qualquer suspeita de perigo, recorda ainda o dia em que perguntou a Miguel se lhe podia chamar Pai e este o abraçou e beijou a chorar, confessando-lhe que tal significava a plenitude da sua felicidade, pois para além de partilhar a sua vida com a mulher amada, acabava de conquistar o filho que sempre desejara ter.

David secou as lágrimas, colocou o braço sobre o ombro da sua esposa e dirigiu-se ao caixão onde Miguel descansava, inclinou-se e depositou-lhe um beijo na testa, tal como Miguel fizera naquela tarde em que se tornaram pai e filho.

A Mãe compreendeu o gesto do filho e dirigiu-lhe um sorriso repleto daquele amor com que Miguel enchera as suas vidas.

Francis Raposo Ferreira

FrancisFerreira
Enviado por FrancisFerreira em 16/06/2011
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