*Um Anjo de Luz*

Perdoe-me meu amor... Perdoe-me de coração.

O meu dia havia sido horrível... Tudo deu errado.

Comecei batendo o carro... Cheguei atrasado no serviço e o meu patrão passou dos limites até discutirmos e me despedirem... No caixa eletrônico, fui tirar dinheiro e digitei a senha errada até travar o meu cartão... Dois viciados tentaram me assaltar... Chegando em casa, o cachorro havia escapado e quase matou o cachorro do vizinho, dando motivos para uma discussão que quase chegou as vias de fato.

Este foi um dia que eu não deveria ter levantado da cama... Mais coisas ainda estava por vir.

Entrei em casa e fui tomar um banho quente para tentar aliviar um pouco da tensão nervosa, só que não adiantou, continuei com aquela raiva incontida.

Sentado no sofá, tentando me acalmar e ver quais opções eu teria, para começar a resolver os problemas em que me meti... Procurar emprego, arranjar dinheiro para pagar o conserto dos dois carros, ir ao banco desbloquear o meu cartão... Affff, quanta merda em um único dia.

Toca a campainha e um rapaz da floricultura entrega um ramalhete de flores com um bilhete em nome da minha mulher... Assinei o recibo e coloquei o buquê dentro de um vaso com água... O cartão dependurado me deixou com a pulga atrás da orelha e não resisti.

Débora... Eu te amo... Fabiano.

Desespero... Ódio... Meu coração disparado e minha mente pensando milhares de besteiras... Traição... Eu estava sendo traído.

Quando Débora chegou no final da tarde, eu já fui soltando aquele caminhão de impropérios... Fui xingando e falando milhões de besteiras... Xinguei de tudo que era nome, sem pensar por um minuto que eu poderia estar errado.

Pega de surpresa, Débora ouviu tudo sem falar uma única palavra... O sorriso em sua face deu lugar ao desapontamento, mas, o ódio que tomava conta de mim, não me deixou ver o quanto eu estava sendo ignorante... Depois de falar os piores absurdos, saí batendo a porta... Comecei andar sem rumo e sem saber o que pensar.

Parei em um bar e comecei a beber... Eu não estava acostumado com bebidas e logo fiquei totalmente bêbado e só quando os primeiros raios de sol começaram a me incomodar é que dei conta de onde estava... Dormi na sarjeta, na rua... Que ridículo.

Enfiei a mão no bolso e só estava o chaveiro, mas, o pouco dinheiro que eu havia levado, sumiu... A dor de cabeça estava insuportável e fui caminhando devagar até chegar em casa... Subi, tomei um banho, coloquei o roupão e desci para tomar um comprimido para a ressaca... Depois de umas três horas, a dor de cabeça amenizou e então fui me alimentar... Na cozinha, faltavam vários utensílios e achei estranho.

Ainda estava meio zonzo da ressaca e dos comprimidos que havia tomado, entretanto, alguma coisa me inquietava... Subo correndo as escadas e olho para a cama arrumada... Abro desesperadamente as portas do guarda roupa e da cômoda... Vazia, vazia!

A ressaca passou... Acordei completamente para o que estava acontecendo.

Você partiu... Ao lado da cama um bilhete.

- Sandro... Não sei o que aconteceu para ter me tratado daquela forma... Nunca lhe dei motivo para que me humilhasse e me espezinhasse como fez... Doeu muito meu amor, muito mesmo... As letras estão tremidas porque a minha a minha indignação me faz tremer e as lagrimas não me deixam escrever direito... Você sabe que leciono em uma escola de Crianças Especiais e lá, é um mundo de amor... Amor puro e verdadeiro igualzinho ao amor que sempre lhe dediquei... Quando quiser conhecer o Fabiano, basta ir à Escola... Um rapaz de vinte e seis anos, muito lindo, gentil e carinhoso... Ele irá te mostrar mil desenhos lindos e os carrinhos que ele faz com palitos de sorvete... Se brincar o dia inteirinho com ele, você será presenteado toda semana com um buquê de flores, igual ao que ganhei... É uma pena que o seu amor não seja tão límpido, verdadeiro e transparente, como o coração destas crianças que são especiais.

- ESPECIAIS SIM! Porque elas amam de verdade... Elas são simples e verdadeiras... Elas são puras como a água que brota em uma nascente... Elas... Elas são anjos de luz.

- Fiquei magoada de verdade Sandro, mas, não vou sentir a sua falta, pois, eu sei que sou amada de verdade pelos meus anjinhos, que fazem do meu dia a dia, um mundo de amor e alegria...

Ai meu Deus! Como pude ser tão idiota... As lagrimas correm livremente pelo meu rosto... Ai ai ai... Meu peito dói, dói demais... Eu grito desesperadamente o seu nome... Que besteira que eu fiz... Pego o telefone e ligo para a escola... Você não tinha ido trabalhar... O meu desespero aumentou... Ligo para seus familiares, para a sua Mãe e nada... Me jogo na cama e choro como criança... Que besteira que eu fiz... Chorei até adormecer.

O sol começava a se por quando acordei... Troquei de roupa, peguei o carro todo amassado e saí te procurando... Casa das amigas, escola, casa de parentes, até encontrá-la na casa de sua tia... Seu tio me recebeu com cara de poucos amigos e me fez esperar até que você permitisse a minha entrada.

- Débora... Por Deus, me perdoe.

- Eu nunca havia levantado a voz contigo e por mais que eu tente justificar a minha atitude, não vou ter um único motivo para ter falado o que falei... Nossa, eu não sei o que falar, nem mesmo sei como pedir para que me perdoe... Dor... Estou sentindo uma dor enorme em meu peito e o pior de tudo, é a vergonha.

- Estou tão envergonhado... As lagrimas e os soluços não me deixam continuar a falar... Choro convulsiva e desesperadamente... Não consigo levantar a cabeça e olhar para Débora... Não sei o que dizer para tentar diminuir a dor que lhe causei.

Débora se levantou e me chamou.

- Vem comigo... Vamos!

Ao abrir a porta, se espantou ao ver o carro muito amassado, mas, não fez nenhum comentário... Entramos no carro e Débora foi dirigindo até uma determinada casa... Descemos do carro e ela tocou a campainha.

- Oi Dona Carmem, poderia falar um minutinho com o Fabiano?

- Oi minha querida, entrem, por favor... Sejam bem vindos.

- Fabianoooo, tem visitas para você, meu querido... Dona Carmem grita ao pé da escada.

- Obaaa... Quem é Mamãe, diz Fabiano já descendo as escadas.

- Um jovem desce esbaforido e entra na sala com um sorriso encantador.

- Olááá Débora... Você veio brincar comigo?

Fabiano dá um beijo e um gostoso abraço em Débora... Débora retribui o carinho e aquele sorriso que conquistava a qualquer pessoa.

- Fabiano, deixa eu te apresentar o meu marido... Ele é muito bacana... O nome dele é Sandro.

Sem esperar, Fabiano dá um forte abraço em Sandro e lhe dá um beijo estalado no rosto... Sandro, pego de surpresa, não soube o que fazer.

Sandro, parado no meio da sala, começa a chorar olhando para aquele rapaz que lhe sorri.

- Débora, ele está chorando por quê? Ele está machucado?

Dona Carmem carinhosamente leva Sandro para a cozinha, deixando Débora conversando com Fabiano.

Sandro sentou-se a mesa da cozinha e começou a falar para Dona Carmem sobre a grande idiotice que havia feito... Falou sobre todos os dissabores que ocorreu naquele dia... O quanto humilhou Débora... Falava enquanto chorava um absurdo.

Foi preciso Dona Carmem lhe dar água com açúcar, tamanho o seu desespero.

Débora entra na cozinha acompanhada de Fabiano e Sandro levanta-se, segura em suas mãos e pede pelo amor de Deus para perdoá-lo... Pede insistentemente o seu perdão.

Nesta hora acontece algo mágico... Algo que só um coração desprovido de qualquer sujeira poderia tomar tal atitude.

Fabiano olha para Débora e diz:

- Perdoa ele Débora... Perdoa, sim?

Fabiano nem sabia o que havia acontecido, mas pedia a Débora que perdoasse o marido.

Desta vez, foi Sandro que abraçou fortemente Fabiano e o beijou... Abraçados, Sandro falava no ouvido de Fabiano.

- Obrigado meu querido amigo... Muito obrigado.

Não teve quem segurasse a emoção... Todos começaram a chorar menos Fabiano, que olhava sem nada entender.

Sandro, ainda chorando, olhava para Débora, aguardando ansiosamente por uma palavra.

Débora abriu os braços e Sandro a abraçou com força.

Somente o pedido de um Anjo como Fabiano, poderia apaziguar o coração de Débora, para que perdoasse a humilhação sofrida.

UMA CRIANÇA ESPECIAL OU UM ANJO?

Camaro CMRS
Enviado por Camaro CMRS em 05/09/2012
Reeditado em 17/10/2012
Código do texto: T3866919
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.