Amor de Papel

Amor de Papel

Abri a gaveta e deparei-me com as lembranças escritas de um amor que passou. Na verdade do amor.

Um soluço escapou de meu peito, deixando para trás multidões deles aprisionados. Meus olhos molharam-se com lágrimas que eu jurava já não possuir, minhas mãos tremiam frente a possibilidade de tocar as recordações de momentos maravilhosos que pareciam ter ficado no passado, mas levantava-se em formas de cartas, poemas, cartões e até papeis coloridos de bombons e balas, tudo prova de que relembrar é viver outra vez.

O problema de lembrar um amor que se foi é que sentimos tantas alegrias ao recordar, revivemos momentos que o tempo não conseguiu apagar, lembramos de lugares onde estivemos, de perfumes que sentimos juntos, das canções que dançamos no terraço, ou das vezes que dançamos sem música mesmo, embalados por acordes que só nosso coração ouvia, mas no mesmo compasso.

Sentimos de novo o arrebatamento do primeiro olhar, a surpresa do primeiro beijo, a delícia da primeira carícia, a ternura do roçar dos lábios na pele sedenta, a vida renascer em esperanças.

Vivemos de novo a mesma alegria, desejamos de novo as mesmas carícias...

Então despertamos da letargia e descobrimos que tudo não passou de um recordar e que o que temos nas mãos são apenas marcas do que se foi, fragmentos de um sonho que vivemos tempos atrás, mas que se acabou.

Neste momento nos perguntamos o motivo que fez com que tudo ficasse no passado e percebemos que os motivos não importam, que o que de fato nos interessa

é que queríamos de volta aquela alegria, mas o que nos restou de concreto são apenas papeis no fundo de um compartimento secreto de nossa gaveta na cômoda.

Cambaleando, zonza com as lembranças despertas, fecho novamente meus segredos na gaveta e empurro com cuidado, temendo que escapem dali.

Era amor, hoje é só papel.

Elisabeth Lorena Alves
Enviado por Elisabeth Lorena Alves em 28/01/2013
Reeditado em 06/03/2016
Código do texto: T4109601
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