Os Anjos

Os Anjos

Lucy era linda, cabelos loiros e cacheados, olho azul, um exemplo de humildade, jovem muito especial, amava sua família, estudava jornalismo, dançava balé, tocava piano como ninguém era verdadeira virtuose.

Seu Pai Sr. Peterson era um rico fazendeiro e sua Mãe Lílian era Professora, mas não lecionava, pois tinha que cuidar da casa, dos empregados e do filho menor Renan de doze anos.

Sua belíssima fazenda ficava no interior de São Paulo, com vários alqueires de plantação de café, tinha muitos empregados e a maioria morava em casa simples e boa, mas na própria fazenda. Trabalhava com muito amor, sendo bem tratados, o trabalho era árduo principalmente na época da colheita, mas valia a pena, pois ganhavam mais. Na própria fazenda tinha a separação dos grãos que ia para exportação, tudo na mais perfeita ordem e harmonia.

Lucy estudava jornalismo na cidade próxima a sua fazenda e toda noite depois do jantar se reunia com a família na sala principal e ali ficavam horas e horas tocando músicas dos mais variados gostos, indo do clássico ao sertanejo, mas o que ela gostava era do clássico. A família era muito unida e existia muito amor entre eles.

O Sr. Peterson tinha o maior zelo pela filha, a admirava e desde que ela nasceu ele a chamava de “meu rouxinol”.

Ela estava com dezenove anos e era apaixonada por Hugo, um músico e um grande artista, mas namorava o Eric que cursava a mesma faculdade. Esse músico de quem era apaixonada, judiava dela, não lhe dava a devida atenção, não respondia aos seus e-mails, não agradecia presentes recebido e muito mais... Ídolo com pé de barro.

O maior sonho de Lucy era um dia poder tocar no Teatro Municipal de São Paulo e Rio de Janeiro. Ela estudava muito e era lindo vê-la tocar: Ave Maria de Gounod e Ave Maria de Schubert. Para facilitar a vida de Lucy que estudava muito, seus Pais contrataram dois professores: Uma era Letícia a professora de balé, uma jovem muito bacana que logo se tornou parte da família e José, professor de piano, um jovem também muito legal e otimista, um virtuose.

E a vida seguia em paz na fazenda, com muitas alegrias, sonhos e Lucy era muito apegada com o seu irmão Renan e sempre que sobrava um tempo ela saia com ele para cavalgar e junto com eles ia a sua cachorrinha Lilica que era fox paulistinha e bem esperta e que ela tinha o maior xodó. Depois sentavam em baixo de uma árvore na relva macia e ficavam conversando. Falava muitas coisas lindas e a personalidade dele ia ficando cada vez mais marcante. Ela era muito religiosa, todo o domingo ia à missa com seus Pais e era muito temente a Deus e tinha muita fé. Era mágico o momento a qual passava ao lado do seu irmão, como era bom contar histórias pra ele e ver a alegria e a satisfação naquele rosto tão lindo e perfeito, ele era ruivo, cabelo todo encaracolado, olhos verdes e já era bem forte. Como era gratificante ficar ali abraçados, olhando as flores do campo balançado ao vento, o céu azul, os passarinhos gorjeando, os raios de sol iluminando as pétalas das flores deixando-as prateadas... Ela ficava olhando para o horizonte e seu pensamento se perdia e quando percebia estava pensando em Hugo, como estava apaixonada por alguém que não merecia, e o Eric era tão apaixonado por ela, fazia todos os seus gostos, ela estava em primeiro plano na sua vida... E aí Renan e Lilica a tiravam de seu pensamento. Apesar dos seus 12 anos, Renan era esperto, aprendia tudo com o Pai, sabia como lidar com os empregados e já era um homenzinho a qual todos o chamavam de patrãozinho.

Lucy estava estudando balé, pois ia se apresentar no final do ano como todos os anos e estava lindo, quando levantou os braços para fazer os movimentos de acordo com a dança sentiu uma dor muito forte no braço e nas mãos. Reclamou com Letícia e essa lhe respondeu que deveria ser cansaço, estava estudando muito piano, digitando demais por causa da faculdade e escrevendo bastante.

Passaram-se os dias e a dor fora aumentando cada vez mais. O Sr. Peterson e a Sra. Lílian levaram-na em um especialista e depois de muitos exames constatou-se tratar de tendinite aguda nos braços e nas mãos e que ela teria que ficar no começo imobilizado, injeção e remédio e depois fisioterapia durante um ano. E que ela tinha que parar os estudos, a dança e a música. Largou a faculdade que tanto gostava.

Lucy chorou muito, se revoltou, tentou tocar, dançar, mas não conseguia a dor era muito forte. Letícia, José, Eric, Lilica, Renan não a deixavam sozinha, os empregados da fazenda estavam fazendo corrente de oração para ela sarar. O Sr. Peterson e a Sra. Lílian estavam desolados, a casa estava triste sem o rouxinol agitando. A noite não se dormia mais na fazenda, pois ela gritava o tempo todo de dor, não havia posição para dormir, o seu belo rosto com seus lhos azuis lindos se destacavam devido às olheiras.

Passou-se cinco meses de luta, tristeza, fazendo fisioterapia e Eric o tempo todo ao seu lado. Ela andava muito assustada, deprimida e sua mão começou a inchar, voltou ao médico e constatou que o medo havia provocada uma distrofia e que teria que ficar imobilizada outra vez e mais um ano de fisioterapia.

Uma manhã ensolarada, de céu azul e frio, Lucy foi andar pela fazenda, acompanhada de Lilica que não a largava. Chegando a casa da roda d água, sentou-se no gramado e ficou a escutar o barulho da água caindo da roda e de uma pequena cachoeira, ali tudo era paz, sentiu-se mais serena, mas nada impedia das lágrimas descerem por sua bela face então orou: “Jesus me cure, se eu errei em alguma coisa me perdoe, se eu não dei tanta importância para fazer a contemplação e só pensava em estudar, agora eu aprendi que tudo na vida tem que ser moderado”. Olhou para o céu e viu nuvens brancas que pareciam algodão e pensou: Nossa!... Eu vi o céu tão azul e agora essas nuvens!... E continuou orando: Pai nosso... Ave Maria... E ficou a olhar para as nuvens que corriam tão rápidas e percebeu que elas formavam dois anjos tocando, depois dois anjos dançando, parecia que eles sorriam para ela, e era tão nítido o desenho formado nas nuvens que pareciam reais. E ali ficou um bom tempo, naquela paz: ela, Lilica e os Anjos. E pegou um gravetinho e ficou tentando desenhar os anjos num pedaço de terra, mas a dor era muito forte e a impediu e quando olhou para o céu, cadê? As nuvens havia se dissipado.

Nessa noite dormiu mais tranqüila e sonhou que os Anjos desceram na terra e a curava, via-se tocando e dançando num teatro maravilhoso e eles ao seu lado sorrindo e diziam para ela ajudar as pessoas. E por um mês teve esse tipo de sonho.

O Sr. Peterson para alegrá-la trouxe-lhe de presente um cordão de ouro com um pingente com dois anjos tocando grudados pela asa. Ela lembrando-se do sonho, das nuvens, colocou a pequena e delicada corrente no pescoço e ficou muito linda.

Já fazia um ano e meio de fisioterapia, ainda doía, mas aos poucos, estava voltando a tocar devagarzinho piano, arriscava alguns passos de balé, mexia um pouco com o computador, mas ainda estava travada.

Renan a convidou para cavalgar, junto com ele no seu cavalo e ela foi e a Lilica atrás latindo e ele disse enquanto cavalgavam: ânimo minha irmã, logo você estará curada, eu, prometi ajudar as pessoas e uma creche de crianças órfãs pois se nós olharmos para os necessitados a ajuda vem do céu... Pararam naquela árvore, sentou-se na relva macia e Lilica corria, saltitava, latia toda faceira para deixar a sua doninha feliz. Embalados por aquela natureza mágica adormeceram e Lucy sonhou outra vez com os anjos e acordou sobressaltada e olhando para o céu lá estavam as nuvens com formato de anjos, hora eles dançavam, depois lhe sorria e tocavam. Ela acordou Renan e lhe disse: Olha para o céu naquelas nuvens e fala pra mim o que você vê... Parecem anjos... Estão se movimentando?... Não!... Porque?... E ela contou tudo a ele... Ele ouviu e lhe disse: são sinais que os anjos estão lhe dando e tem que tentar entender. Só você vê.

No outro dia, ela separou roupas, calçados, bolsas, bijuterias... tudo o que não usava e o que usava também e mandou entregar e uma obra de caridade e depois comprou cestas de alimentos e enviou para uma creche de crianças órfãs. E prometeu ajudar sempre. Pegou um salão da fazenda que não era muito usado, reformou, mandou pintar, colocou tapete, vaso com flores, barras na parede e o seu velho piano num canto... E começou a dar aulas balé e de piano para as crianças da fazenda e da redondeza gratuitamente.

Sr. Peterson, Sra. Lílian e Renan felizes com a decisão que ela havia tomado pois a alegria e o rouxinol estavam voltando, apesar da dor que ela sentia, resolveu agarrar a vida com as duas mãos. Logo Letícia e José pediram para ajudar e ali começou a pequena escola de Lucy com muito amor. Ela colocou o nome de “Escola de Artes Rouxinol”.

Passou-se mais um ano de fisioterapia, dores e muita luta e fé. A pequena escola já abrigava trinta alunos. Dez alunos eram piano e os outros balés. Toda tarde às 18:00h, ela sentava-se em seu piano na sala grande da fazenda e tocava lindamente Ave Maria de Gounod e Ave Maria de Schubert para Nsa. Senhora em agradecimento e todos na fazenda paravam os seus serviços para ouvirem.

Estava chegando o Natal, Letícia e José resolveram fazer uma surpresa para Lucy, com a ajuda da família. Como o Pai era um homem influente, fazendeiro e tinha muitos amigos na Capital que lhe deviam favores, conseguiu fechar o Teatro Municipal no dia 23 de dezembro para a apresentação da filha.

José e Letícia voltaram a dar aulas para Lucy, bem moderadas mas preparando-a para o final do ano. Ela estava feliz, o Eric sempre presente em sua vida, chegou com um enorme pacote e pôs em cima da mesa e disse que era para enfeitar a sua Escola. Ela foi abrindo na presença de todos e para sua surpresa eram dois anjos de cristal tendo cada, uns oitenta centímetros, um anjo estava tocando e o outro dançando. Ela olhou para o irmão e esse disse: Muito lindo, ótimo gosto, vai ficar lindo na Escola de Lucy... Eric respondeu: obrigado, mas aconteceu algo engraçado, eu entrei numa loja para comprar um vestido longo estampado para ela e na frente tinha uma loja de acessórios com esses dois anjos na vitrine e toda vez que eu olhava parecia que estavam se movimentado sorrindo, e fiquei tão intrigado que fui lá e comprei também e aqui está seu vestido meu anjo.

Lucy estava dançando lindamente, só não podia esticar os braços e nem coloca-los para trás. E no piano ia bem, só que tocava lento, pois ainda não tinha tanta firmeza nos dedos e doía.

Depois de um dia exaustivo, aproveitando que todos estavam assistindo TV, foi sentar-se na varanda com a Lilica no colo e ficou a pensar no Hugo, como gostava dele, era tão apaixonada, desde os seus onze anos quando o viu cantar pela primeira vez, que era aquilo, ficava com raiva dela mesmo. O Eric era tão presente na sua vida, tinha lhe dado tanto apoio, a colocava em primeiro plano, a família dele a adorava, eles eram tão finos e elegantes. E o Hugo nem ligava, era artista, viajava muito, nem havia respondido o e-mail que ela passou quando ficara doente, ele era totalmente ausente e isso a irritava... Nisso ouviu: o que o meu rouxinol está tão pensando... Nada, Papai! A noite está tão linda... Veio sua mãe e seu irmão e disseram: Já falou pra ela?... E o Pai respondeu: Nem deu tempo... Filha nós temos um presente para lhe dar e espero que goste... Outro!... Você irá se apresentar no Teatro Municipal de São Paulo no dia 23 de dezembro, no seu aniversário... Gostou?!...

Mas, Gente eu não estou preparada e é daqui a dois meses!... Você está sim filha, todos nós iremos ajuda-la e vai dar certo!...

Uma semana antes da apresentação, ela não resistindo foi até o computador e digitou: Hugo. Eu o convido para ir à minha apresentação que será no dia... e no final terminou assim: ficarei muito feliz com a sua presença... E ouviu a voz do Eric no seu ouvido: Lucy quem é Hugo?!... Porque a presença dele é tão importante!... Olha não e nada disso que está pensando!... e Eric saiu batendo a porta com força e ela ficou chorando. A Sra. Lílian que assistiu a tudo lhe falou: Filha o Hugo é um artista, não tem intenção nenhuma de ficar com você, ele quer viajar, conhecer o mundo,. conquistar o seu lugar ao sol, fazer carreira... O Eric te ama e quer constituir uma família, quer casar... Você acha que ama o Hugo porque ele é algo impossível... Pense nisso minha querida e lute pelo Eric.

Todos viajaram para São Paulo dois dias antes da apresentação, se acomodaram em um luxuoso hotel perto do Teatro Municipal. Lucy foi com a Sra. Lílian, Letícia e José conhecer o teatro, ver o piano, ensaiar. A hora que chegou e subiu a escadaria de mármore com tapetes vermelhos, foi dando uma emoção que ela nunca havia sentido e chorou muito. Ficaram o dia inteiro ensaiando e à tardinha foram ao shopping fazer compras, encontrar o resto da turma e jantar. Durante o jantar sentiu muita falta do Eric, pois ele que animava todos, desde aquele dia não conseguiu mais falar com ele. Chegando ao hotel, entrou em seu quarto e chorou muito, medo da apresentação, saudade do Eric, raiva do Hugo, dor nos braços e nas mãos e finalmente adormeceu e sonhou que os anjos desceram na hora da apresentação e a ajudaram.

Chegou o grande dia, se arrumou com a ajuda da mãe e da Letícia, se olhou no espelho e gostou do que viu... Seu vestido era de princesinha, cor cor-de-rosa desmaiado, renda bem fina, manga fofa, o vestido com recorte na cintura e semifranzido, deixando sua bela silhueta a amostra, um pouco rodada e a renda subiam até o pescoço e por cima, um tipo de avental de seda bem fina estampado com pequenas rosas douradas, o comprimento era na canela e usava um sapato boneca na cor, rosa com dourado e o cabelo, uma longa trança e uma rosa ornamentando. A pintura bem suave, estava linda.

Sua mãe e Letícia a deixaram sozinha no camarim para refletir , orar, curtir os ramalhetes de flores e presentes que havia ganhado pela apresentação e pelo aniversário. E ela orou: Anjos do céu me ajude, fiquem do meu lado... Pai nosso...Ave Maria... Ouviu batidas na porta e disse: Entre!...Era José e lhe disse: Lucy quer dar uma espiada quem está na platéia e daqui quinze minutos você vai entrar?... Espiou pó detrás da cortina, e viu, teatro lotado, na primeira fileira sua família, a família do Eric, mas ele não estava e para sua surpresa o Hugo estava na primeira fileira, mas do outro lado... muita emoção... Mas o que ela queria era ver o rosto tão amado de Eric, olhou para o teto e viu anjos pintados, nisso dois deles se movimentaram como nas nuvens e depois desapareceram do teto... José a tirou dos seus pensamentos... Vai Lucy, agora as cortinas se abrem e eu lhe chamo e ela ficou esperando com o coração na mão.

Quando ela olhou no final do palco dois moços lindos vestidos de anjos entraram, um ficou parado e o outro foi e parou bem atrás do piano e aí ela percebeu que o cenário a decoração era toda com anjos dançando e tocando em homenagem ao natal... E José falando... E agora recebam a jovem Lucy que se superou para tocar para todos e se encantem... Ela adentrou e foi muito aplaudida, agradeceu, olhou para sua família para pegar energia e sentou no banco, se arrumou, pôs os dedos no piano, garganta seca... Sentiu uma mão no seu ombro e o moço vestido de anjo lhe disse: Não tenha medo, estamos aqui... e ela começou a tocar Ave Maria de Gounod, devagar, com muita dor nos braços e nas mãos, dedos travados... Nisso foi passando a dor, seus dedos se soltaram e ela tocou divinamente e todos ficaram muitos emocionados e foi aplaudida de pé. José não acreditava o que estava ouvindo... E ela continuou: Jesus, alegria dos homens; Imagine; Hino ao Amor; Fascinação; Luzes da Ribalta; Romeu e Julieta; Love Story; Branca; Io Che amo Solo te; Monte Castelo; Como é grande o meu amor por Você; Então é Natal... e para finalizar ela tocou Ave Maria de Schubert... Muitos aplausos e quando ela olhou para sua família eles estavam chorando de tanta emoção e ela também chorou...A cortina se fechou e Letícia a chamou: Lucy venha colocar as suas sapatilhas, agora você vai dançar com os seus alunos... E antes que ela pudesse dizer alguma coisa o outro anjo veio e disse: Vamos, não tenha medo!... Ela se emocionou a hora que todas as suas aluninhas correram a abraça-la...

E a cortina abriu-se, José no piano tocou um popurri com as músicas Boas Festas; Fim de Ano; Bom Natal e Noite Feliz... Ela no centro e suas aluninhas em volta, dançaram lindamente e ela percebeu que seus braços e suas mãos não doíam mais... Estava curada!... Muitos aplausos... Fechou-se cortina atrás dela e o Sr. Peterson subiu no palco abraçou a filha e disse: Hoje foi um grande dia, o meu rouxinol se superou, hoje eu posso afirmar que aconteceu “O milagre da Vida”, eu te amo minha filha e quero lhe dar esse presente pelo seu aniversário... Abriram-se as cortinas e no centro do palco havia uma caixa enorme parecendo uma caixa de geladeira e ela tremula foi puxando as fitas e com a ajuda de seu Pai abriu-a e de dentro saiu Eric com um ramalhete de rosas e disse: eu te amo e a beijou... Aplausos, muitos aplausos... E quando ela voltou a si da emoção, estavam todos que se apresentaram no palco, até a sua família e olhando para trás viu os anjos saindo e acenaram para ela e quando olhou para o teto lá estavam eles pintados mais lindos do que nunca.

“O milagre da Vida”

Do meu livro: O Milagre da Vida

Sonia Maria Marques
Enviado por Sonia Maria Marques em 20/05/2013
Código do texto: T4300416
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.