O DOCE SABOR DO AMOR (Capítulo 8)

Para o almoço Jacques foi até o lago do castelo e providenciou peixes. Com a ajuda de Louise, Marrie limpou-os e preparou saladas de verduras e legumes para acompanhar. Vinho não podia faltar e Jacques foi até a adega buscar um dos preferidos do conde. Para sobremesa, frutas. Marrie achava que os amigos do conde e o próprio precisavam de algo leve e que ajudasse na digestão depois de tanta comida. O aroma de peixe ensopado na cozinha estava delicioso e Marrie sabia que tinha feito o melhor possível. Depois que tudo ficou pronto, ela enxugou as mãos no avental e perguntou para Louise:

- Quem irá servi-los?

- Eu e Jacques. Você pode ficar aqui, se preferir.

- Acho melhor me esconder no alojamento. Ou lá fora. Temo que o conde me chame novamente. Vocês não terão mais desculpas para dar daqui a pouco.

Louise pensou um pouco e concordou. Disse:

- Por que não vai passear no bosque? Você está desde cedo da manhã dentro da cozinha. Eu e Jacques nos viramos por aqui.

- Boa ideia, Louise. Por favor, me chame quando tudo terminar.

Haverá muita coisa para lavar.

- Não se preocupe. Deixe por minha conta e do nosso amigo Jacques.

Marrie ficou por um bom tempo passeando pelas terras do castelo, cuidando para se manter afastada da edificação principal. Apesar da falta que sentia da mãe, gostava da vida que estava levando por lá, de Jacques e Louise. Eles eram boas pessoas e pareciam gostar dela também. Por volta das três horas da tarde, Marrie percebeu que a última carruagem havia partido. Pôde observar o conde de longe também, protegida atrás de alguns arbustos. Sem dúvida, o conde de Montevérgine era um homem fascinante. O modo que ele caminhava e falava encantou Marrie mais uma vez. Era impossível afastar os olhos daquele homem. Imaginou-se frente a frente com ele. Sabia que sequer seria capaz de articular alguma palavra caso isso acontecesse. Definitivamente, não estava preparada para aquilo.

Lentamente, Marrie se dirigiu até o castelo e entrou pela cozinha. Lá dentro Louise e Jacques olhavam para um pedaço de papel, em silêncio e concentrados. A garota percebeu algo estranho e perguntou sussurrando:

- Aconteceu alguma coisa?

Os dois levaram um susto e encararam Marrie. Ela também se surpreendeu pelo jeito esquisito deles.

- Tudo saiu bem? Quer dizer, a comida foi aprovada?

- Sim, sim. O almoço foi bastante elogiado – a voz de Jacques estava estranha. – O conde quis conhecer você novo. Não sei por quanto tempo você conseguirá escapar dele. Louise disse que você é minha prima.

Algo estava errado. O comportamento de Jacques e Louise não era normal. Talvez tivesse algo a ver com aquele pedaço de papel que ambos seguravam…

- O que é isto que vocês estão segurando?

Jacques então expôs o papel frente aos olhos de Marrie. E ela gritou.

*

Marrie chorava sem parar no quarto que dividia com Louise. Frente a ela estava o casal de amigos esperando uma justa explicação.

- Por que não nos contou logo a verdade, Marrie?

No colo da garota havia um retrato desenhado dela e que Julie estava desesperadamente distribuindo a quem passasse na estalagem. Um dos amigos do conde havia trazido e mostrado durante o almoço.

- Eu não podia… - murmurou ela entre lágrimas. A porta estava fechada para que os demais empregados não pudessem escutar nada.

- Ei, agora já sabemos que você fugiu de casa – falou Jacques firmemente. – Para que possamos continuar a lhe ajudar precisamos saber o que você fez.

Marrie olhou de um para outro quase sem poder se expressar.

- Não… não fiz nada. Eu juro!

- Mas o que aconteceu de tão grave que fez você fugir de casa, Nicolle? Ou melhor, Marrie…

Ela encarou Louise que esperava ansiosamente uma resposta. Estava tão nervosa somente de lembrar-se de tudo o que lhe acontecera que parecia impossível revelar qualquer coisa. Jacques alcançou-lhe mais um copo de água. Marrie tomou um pequeno gole. Nada parecia passar na sua garganta.

- Eu fui… fui atacada pelo namorado da minha mãe.

Ao dizer aquilo, Marrie pôs as mãos na cabeça como se fosse demais para ela. Mesmo assim prosseguiu aos prantos:

- Meu pai morreu há anos e deixou a estalagem para minha mãe cuidar. É dali que tiramos nosso sustento. Sempre trabalhamos muito… Então, há uns três anos minha mãe arrumou um namorado. Ele é… ele é um porco! Sempre me olhou diferente e eu o odeio! Antoine é viajante e não é sempre que aparece na estalagem. Mas… mas quando voltou da última vez, Antoine me atacou no bosque. Consegui escapar e eu o machuquei. Ele ficou furioso e me perseguiu. Ainda assim corri mais que ele. De repente me senti mal e devo ter desmaiado. E acordei aqui.

Marrie terminou sua triste história praticamente em um sussurro. Louise ajoelhou-se em frente a ela e segurou-lhe as mãos com carinho:

- Você não precisava ter mentido para nós, Marrie. Iríamos ajudá-la do mesmo jeito...

- Como eu iria saber, Louise? – ela enxugou as lágrimas e continuou. – Vocês entenderam meu medo de encontrar o conde? Uns dias antes ele esteve na estalagem e ficamos frente a frente. Ele irá me reconhecer, ainda mais agora que sabe que eu desapareci. E irá me mandar para casa!

- O conde é um homem bom, Marrie – retrucou Jacques. – Ele entenderá a situação.

- E caso não entenda? Eu não posso voltar para casa enquanto aquele monstro estiver na estalagem.

Ela sabia que não era apenas isto. Queria ficar no castelo para poder estar perto do conde, mesmo que somente pudesse vê-lo à distância. Porém este detalhe seus amigos não precisavam saber.

- Escute – disse Louise calmamente, - ninguém vai mandar você sair daqui do castelo. Somente lembre que sua mãe deve estar desesperada...

- Eu sei disto tudo – suspirou Marrie. – Porém quando chegar o momento, eu tomarei uma decisão sobre o que fazer. Por enquanto não gosto nem de pensar que um dia terei que voltar para lá.

Jacques e Louise se entreolharam.

- Não sei até quando conseguiremos manter você longe dos olhos do conde – riu Jacques. – Principalmente se você continuar fazendo comidas gostosas!

Marrie riu juntamente com Louise, contudo mais tarde, quando foi dormir, a jovem se viu pensando no conde. Por mais que o desejasse, o destino tratara de afastá-los. Destino cruel aquele que a fizera se apaixonar por um homem que jamais seria seu.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 28/11/2014
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