DIÁRIO DE UMA GORDINHA - Cap. 10

Voltei para a minha sala muito puta e com um pote de salada de fruta na mão. A Cássia era realmente uma babaca. Tomei todo o cuidado para sentar e tentei me deliciar com aquele troço insosso. Duas garfadas depois joguei toda aquela porcaria no lixo e me resignei a passar fome até a hora de ir embora. Quando eram quatro horas da tarde e eu estava praticamente dormindo em cima da mesa, a porta do gabinete do Doutor André se abriu de repente. Ele e o Aírton saíram rindo de alguma coisa sem nem olharem para minha cara. Fui solenemente ignorada. Ah é?

- Também quero rir da piada

Meu tom ligeiramente elevado fez com que as risadas dos dois cessassem no meio do caminho. O Doutor André olhou para o Aírton e depois para mim.

- O que você disse, Gisele?

Fiz merda.

- Nada, não. Boa viagem para vocês.

Meu chefe se despediu com um aceno e o filho da puta do Aírton nem tchum. Saíram batendo a porta da sala e eu fiquei só e abandonada. Aguentei cinco minutos me retorcendo de raiva. Aí não deu mais.

- Cretinooooo!

Peguei o grampeador e atirei contra a porta. Azar da Bárbara que resolveu entrar bem naquela hora.

*

Voltei da enfermaria da empresa meia hora depois. Minha colega Bárbara levou cinco pontos na testa e eu achei por bem pagar um táxi para levá-la até em casa. Para fechar com chave de ouro a merda de dia, tive que aguentar a Cássia e a Virgínia fodendo minha paciência por eu ser tão emocional. Onde já se viu atirar um grampeador contra a porta só por causa de uma TPM? Ainda bem que elas acreditaram na mentira.

- Francamente, Gi! - disse a Cássia com as mãos na cintura (eu sempre morri de inveja daquela cintura). - Você anda muito raivosa ultimamente. Eu tenho Rivotril na bolsa. Você quer? Toma dois de uma vez só para aliviar.

Virgínia fez o favor de concordar com ela.

- Rivotril é muito bom quando se está com a macaca.

Jesus, cadê meu fuzil? Peguei minha bolsa com um gesto dramático, encarei as duas vacas e falei em alto e bom som:

- Por que vocês não vão tomar no cu?

Acho que até portaria deve ter escutado o meu chilique. Se eu estivesse bem alimentada aquilo não teria acontecido. O fato é eu que estava morrendo de fome e havia sido ignorada pelo Aírton. Uma coisa de cada vez. As duas juntas nem sendo a Mulher Maravilha para suportar.

A primeira coisa que fiz quando saí da empresa foi parar no armazém do seu Joca. Ficava a duas quadras de casa e ele me conhecia desde que eu era uma mocinha inocente e virgem. Eu o chamava de tudo, menos de Joca. Não preciso dizer que entrei no estabelecimento do véio falando bem alto.

- E aí, Joca, o estuprador! O que tem de bom para comer nesta pocilga hoje?

A clientela me olhou feio, mas eu nem dei bola. Talvez um Rivotril realmente caísse bem, mas agora era tarde demais. Muito calmo, seu Joca apontou a assadeira dos frangos. Tinha sobrado um. Por sinal, bem gordo e com a gordura escorrendo. Quase me babei.

- Pode pegar. Ele vai ser meu café da tarde.

Dez minutos depois eu entrei no apartamento vesga de tanta fome. O cheirinho do frango estava me deixando zonza. Coloquei-o com todo o cuidado em cima da mesa e fui até o quarto colocar uma roupa mais confortável. Voltei cantarolando para a cozinha, antecipando o momento glorioso em que eu cairia de boca literalmente em cima daquele frango gordo, de pele dourada e salgadinha cobrindo as coxas tenras. Com os olhos fechados entrei na cozinha praticamente em transe. Quando os abri novamente me deparei com o gato atracado no frango. Bicho filho da puta.

- Saddammmmm!!!!!

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 24/10/2015
Reeditado em 24/10/2015
Código do texto: T5425879
Classificação de conteúdo: seguro