O AMOR DEPOIS DO PRIMEiRO - por Olavo Nascimento 

Corria o fim da década de cinquenta e a sensação que Odilon teve quando viu aquela menina pela primeira vez, foi que ela não pertencia a este mundo. O rosto alvo e afilado da jovem, logo marcou presença com seus olhos brilhantes e o sorriso largo. A emoção dela também pareceu a mesma quando os olhares se encontraram e Odilon sentiu o seu peito pulsar mais forte. Foi o sentimento maravilhoso de amor à primeira vista que lhe pegou de surpresa e que faria com que a vida do rapaz não fosse mais a mesma dali pra frente.


Ele estava morando há pouco tempo naquela rua e o seu jeito introvertido dificultavam novas amizades. A sua rotina do trabalho pra casa e da casa para o trabalho, com constantes esticadas à inesquecível comunidade anterior aonde havia nascido e vivido durante dezesseis anos, estava prestes a ser abandonada. Apesar de se sentir bem com os amigos de sempre das peladas de futebol, das brincadeiras, das aulas escolares e das artes que eles aprontavam desde a infância, suas visitas ao bairro de grandes recordações foram ficando mais escassas com o passar do tempo e substituídas por outras amizades no novo endereço.

Depois de algumas paqueras tímidas e inocentes com meninas da mesma idade na localidade onde nasceu, Odilon, ainda desconfortado,
foi conhecendo e se enturmando com outros adolescentes no novo endereço da sua casa. Ajudado por seu extrovertido irmão Alberto que não demorou a se enturmar com a nova rapaziada, Odilon foi conquistando aos poucos o seu espaço nas atividades da nova turma. No entanto, foi a sua irmã Darci quem o colocou diante de uma situação muito desejada e que vinha sendo postergada por conta da sua timidez e falta de ação.

Os encontros de olhares entre o rapaz e a rapariga pareciam que tinham hora marcada. Enquanto Odilon cumpria a sua rotina de sair do trabalho com o pensamento voltado na moça em suas viagens de volta, a jovem não abandonava o seu portão enquanto não se deparasse com ele subindo a rua e passando perto de si. Os olhares eram cada vez mais ansiosos e Odilon sofria pela sua falta de coragem para se aproximar da moça. Mas como fazer isso? O que dizer? Como chegar? Ele nunca tinha vivido algo parecido, porque as paqueras passadas eram entre meninos e ele agora não era mais um menino. Era um rapaz estudioso, trabalhador, responsável e habilidoso para resolver muitos problemas, desde que não fosse aquele. A garota estava deixando-o agoniado por não ter coragem de se declarar, mas quem tem uma irmã como a Darci, não precisava se preocupar.

Depois de um bom tempo de olhares e sorrisos da moça e rosto corado do rapaz, Darci chegou com o impulso que ele tanto precisava, assim que chegou do trabalho em certa noite. E ela foi rápida, sem delongas e incisiva: -- Mano, tenho uma amiga que está doida pra lhe conhecer.

-- Como assim? Que amiga é essa Darci? Retrucou Odilon surpreendido, mas com a certeza absoluta de quem seria.

-- É a Antônia. Uma menina que mora numa pequena vila no início da rua, bem ao lado da quitanda do seu Genésio. E ela diz que vocês já se conhecem de vista.

Pronto! Estava descartada a charada. E agora ele não tinha como correr, porque a iniciativa partiu dela. -- Que vergonha! Exclamou sem sentir.


-- Vergonha de nada meu irmão! Prepare-se que eu já marquei com ela e vou fazer a apresentação de vocês. O encontro será daqui a pouco.

E assim começou a vida romântica do nosso personagem. Enquanto Antônia já havia se envolvido com outros rapazes, Odilon estava iniciando um primeiro namoro de verdade. E tudo pra ele era novidade e o receio de magoar a moça com algum gesto ou palavras era muito forte. Apesar do desconforto do primeiro encontro, com o rapaz mostrando-se calado e arredio, a moça sentiu-se incentivada pela sua timidez e pelo charme que aquilo lhe proporcionava. Ela era mais expansiva, mais atirada e mais alegre do que Odilon e naqueles primeiros momentos, procurou quebrar o gelo que vinha dele. Darci entrou na onda e com suas frases engraçadas, acabou por deixar os dois à vontade e com o irmão mais enturmado com a garota.

Pois bem: não foi nem preciso Odilon pedi-la em namoro (e isso seria uma barreira intransponível pra ele), porque ela se adiantou. Pegou-o pela mão e sentenciou:
-- Dá-nos licença Darci. Vou raptar o seu irmão para um passeio.


E lá se foram eles. A moça sorridente como estivesse mostrando um troféu e Odilon arredio e desconfiado deixando-se levar com o coração aos pulos. Pararam na esquina da rua e Odilon experimentou algo inimaginável pra ele: Antônia pendurou-se em seu pescoço e fez as duas bocas se tocarem com sofreguidão. A sensação que Odilon sentiu com aquele primeiro beijo em sua vida, foi o motivo da sua sanha dali pra frente. E os outros beijos que vieram a partir daquele, eram cada vez mais aconchegantes e extasiantes por conta da experiência da garota que praticamente lhe ensinou aquela deliciosa arte.

Mas não era só isso que acontece num namoro e Odilon começou a ficar incomodado com certos avanços de Antônia, por entender que deveria ter certo respeito por ela. Assim, não demorou muito para o namoro ir esfriando por iniciativa dela, enquanto o rapaz, cada vez mais apaixonado e entristecido, ficava sem entender tamanho desinteresse e repentina distância. Ele tinha certeza que nada fizera pra ela se aborrecer, mas foi exatamente por nada fazer pra ela, que Antônia se decepcionou. A moça queria toques e apertos, Odilon não atendia suas carências e ela foi à luta. A decepção amorosa foi recíproca e até mais contundente para Odilon, quando ele levou um susto ao encontrar a rapariga passeando abraçada com outro rapaz na sua frente. Sem constrangimentos e com sorrisos nos lábios, a moça fez questão de mostrar aquela cena na mesma hora e no mesmo ponto de encontro que havia marcado com ele. Além do bolo enfeitado, Antônia fez questão de ignorar e menosprezar Odilon como se ele fosse um desconhecido qualquer.

Com o ego ferido, Odilon sentiu-se diminuído e com a sua terra arrasada. Descartado pela moça, não conseguiu conter suas lágrimas, que foram as primeiras que ele derramou por causa de uma mulher. O rapaz subiu a rua com o rosto molhado e deixou extravasar seu pranto sentado ao meio-fio até secar os seus olhos. Bastante decepcionado e ultrajado, sentiu que precisava expulsar toda água armazenada em seu peito jurando pra si mesmo nunca mais chorar por um rabo-de-saia. Encontrava-se só e desamparado naquele momento triste, sem alguém para desabafar. Sua irmã Darci não estava por perto para ouvir seus lamentos, mas mesmo que estivesse a sua decisão já estava tomada. Socava a pedra dura e impassível do meio-fio e gritava pra dentro de si: "Nunca mais quero ver essa vadia na
minha frente!" "Pra mim ela acabou de morrer no dia de hoje.

Odilon ainda ficou magoado por um longo tempo e suas voltas do trabalho passaram a ser pelo outro início da via para evitar encontrá-la no portão. Mas como moravam na mesma rua, era impossível deixarem de se ver. E quando acontecia, Antônia não podia deixar de observar o ódio do rapaz. Arrependimentos da parte dela não se soube, mas algumas vezes ela tentou sem sucesso, reaproximações através de Darci. Se por um lado a dor do abandono lhe fez sofrer, por outro lado modificou por completo o temperamento do rapaz. Ele procurou outros caminhos, outras amizades e outras distrações que fizeram dele um moço participativo, alegre, jovial, namorador e procurado pelas garotas que sempre lhe traziam novidades extasiantes e sensuais. A sua timidez foi jogada pra lua de vez e suas atitudes passaram a ser mais audaciosas e atrevidas com as meninas.

Durante um bom tempo, Odilon tornou-se um inveterado namorador sem compromissos e sem se importar com mágoas plantadas nos corações das garotas. Cada vez que ele aparecia com alguma rapariga nova a seu lado, mais olhares e insinuações de outras ele recebia. Chegou a se envolver com mais de duas meninas ao mesmo tempo, sem qualquer consideração ou sentimento sério por elas. Ele tinha receio de se apaixonar novamente por outra garota e ser desmoralizado emocionalmente como acontecera com Antônia. Por isso, sem qualquer sentimento maior, conquistava e despachava as garotas apaixonadas sem dó e piedade.

Aquele bloqueio que Odilon colocou em seu coração, por acreditar erradamente que todas as mulheres são iguais, fez dele um ser insensível, egoísta e aproveitador de carinhos sinceros das moças, apenas pelo prazer de cometer uma vingança contra Antônia em seus pensamentos. O seu time de namoradas crescia todos os dias e das ex-namoradas também, até que no meio desse time apareceu alguém diferente e que lhe causou grande interesse. Como sempre, com suas conversas românticas e quase sempre convincentes, Odilon teve o seu orgulho ferido quando se aproximou de Eliete e foi rechaçado por ela.

Eliete também morava na rua quase em frente à sua casa e era irmã de um colega de futebol, passeios e curtição com namoros. Ele já conhecia a garota há algum tempo, tinham uma certa amizade e nunca havia se engraçado para o seu lado por achar que ela era muito novinha. Mas a novinha cresceu, pegou corpo e Odilon passou a se encantar com a beleza dos seus olhos verdes e o charme da sua voz rouca atrás de um sorriso branco e alegre. E foi a partir daquele encanto, que o rapaz passou a viver um caso amoroso que lhe arrebatou o coração.

Apesar das dificuldades de Odilon para conquistar a garota, o que ele não sabia é que ela era perdidamente apaixonada por ele. Ela nunca havia namorado ninguém e se remoia em dores e ciúmes quando via o rapaz passeando de vez em quando com uma menina diferente quase todos os dias. Ela chorava por dentro, às vezes dava a entender seus sentimentos em algum bate-papo, mas guardava aquele amor com bastante discrição. O interesse de Odilon por Eliete começou praticamente após três anos morando no local, ele com dezenove anos e ela com dezesseis. Suas paradas para conversar com a moça em seu portão passaram a ser mais frequentes e ela sentia falta daquela presença quando não ocorria. Odilon também passou a sentir a ausência da mocinha quando não a encontrava e não demorou muito para entender que estava apaixonado e que o mesmo se passava com ela. Mas, mesmo assim, a moça recusou várias investidas do rapaz, mesmo dando a entender com seus olhares e palavras indecisas, o que realmente desejava.

Odilon em suas conversas com a garota, nunca chegava a se declarar por completo, porque a moça sempre o interrompia no meio do caminho. No entanto, certa noite, o papo avançou à frente quando ela reagiu a mais uma iniciativa do rapaz, ao afirmar: -- Vamos parar por aqui Odilon. Eu sei aonde você quer chegar...

-- Se você sabe, porque não deixa chegar? Rebateu Odilon completando: -- Ou você ainda não desconfiou que eu estou gostando de você?

Os olhos da moça brilharam, seu coração bateu mais forte, a sua felicidade cresceu, mas ela quis saber: -- Desconfiada e insegura eu sempre estive perto de você. Por isso eu quero saber: você está falando sério?

-- Nunca falei tão sério em minha vida Eliete. Estou apaixonado por você e quero fazê-la feliz.


-- Quando eu perguntei se você estava falando sério Odilon, é porque não quero brincadeiras com os meus sentimentos. E agora estou imaginando para quantas garotas você falou a mesma coisa.

-- Não falei porque com elas nada foi sério. Foram apenas brincadeiras como você diz.

-- Mas mesmo assim eu vou pensar. Vou dar um tempo para você mudar o seu coração volúvel. Não quero ser mais uma na sua lista, porque ontem mesmo eu vi você aos beijos e abraços com a Dora. Aquela menina que mora perto da igreja.


-- Mas não é nada sério como já lhe disse. A gente está se curtindo sem compromissos. A gente termina quando quiser.

-- E as outras? Quantas eu já vi com você meu caro Odilon? São todas brincadeiras? Será que nenhuma delas esteja querendo algo sério? Fala sério aqui pra mim Odilon!


-- Tudo bem... Estou lhe entendendo... Vou lhe dar o tempo que você pediu me afastando das outras garotas. Mas preciso saber...

-- Saber o quê Odilon?

-- Se você aceitará o nosso namoro se eu cumprir a decisão de me afastar das outras. E quero saber ainda: VOCÊ ME AMA?

-- Isso você saberá na hora certa. Cumpra com a sua palavra que eu mantenho a minha. Gosto muito de você, mas vai ter que me conquistar.


E assim foi feito. Odilon, apaixonado e fissurado a conquistar de vez a garota, mudou completamente a sua rotina de se envolver com outras raparigas e passou a fazer a corte à Eliete, mesmo sem o namoro sacramentado. Seus finais de semana passaram a ser voltados para a mocinha que, mesmo sem qualquer compromisso marcado, aguardava instintivamente a presença do rapaz em seu portão. Esse tempo de conversas e confidências sem outros aconchegos alongou-se e, ao sentir que o rapaz havia mudado e cumprido a sua palavra, Eliete não resistiu e provocou: -- Estava aguardando você voltar ao assunto, mas como isso não ocorreu, eu pergunto: Você desistiu do nosso trato?

-- Claro que não querida. Tenho cumprido o nosso trato só para conquistá-la. Quero muito você.
Confessou o rapaz.

-- Se você prometer agora honrar o nosso compromisso, pode se considerar meu namorado. Rebateu a moça com um sorriso e brilho nos olhos.

A resposta de Odilon para aquele sublime momento, foi pegá-la pelas mãos, aconchegá-la num abraço e tocar seus lábios úmidos e carentes de sensualidade. O beijo foi bastante retraído e não tão bem compartilhado como nos tempos de Antônia, mas Odilon sentiu o gosto saboroso que lhe transmitia aqueles lábios receptivos de um amor verdadeiro. Foi uma sensação indescritível para ela e um alívio confortante para ele, por sentir que, finalmente, conquistara alguém realmente interessante e que fizera o seu coração bater em polvorosa.

O namoro evoluiu e os dois não se largavam mais. A vontade de sempre estarem juntos, no entanto, começou a criar problemas. A mãe da moça, que não via com bons olhos aquele envolvimento da filha por achar que ela ainda era muito jovem, proibiu o namoro e passou a perseguir os dois. Seus encontros passaram a ser longe do seu portão e em locais previamente marcados que, muitas vezes não ocorriam por culpa da vigilância ferrenha da mãe da garota. Mas apesar de sempre conseguirem alguma maneira de se encontrarem, aquela objeção foi minando aos poucos a resistência dos dois. Eles se amavam demais e chegaram a se separar em três ocasiões por causa da mãe irredutível de Eliete que, entre outras coisas, acreditava que o namoro estava prejudicando seus estudos.

E foi nessas idas e vindas entre beijos, lamentos, abraços, choros e promessas que aquela gangorra amorosa tomou outro rumo quando Eliete, num momento de troca de carinhos fervorosos, propôs ao namorado: -- Odilon, não aguento mais a pressão da minha mãe. Não tem um dia que eu chegue da escola ou de algum lugar qualquer, que ela não pergunte por você, o que eu fiz e aonde eu fui. Está demais!

-- Pois é querida, não sei o que fiz para ela ter tanta raiva de mim. Lamentou-se Odilon, continuando: -- Mas eu acho que você não deve brigar com ela, porque nenhuma mãe deseja o pior para seus filhos.


-- Mas o pior pra mim meu amor, é perdê-lo. Será que ela não entende que eu estou apaixonada?

-- De repente entende e é exatamente por isso a sua preocupação. Portanto, o melhor nesse momento, é não contrariá-la.

-- E é isso que quero fazer, sem desfazer o nosso compromisso.

-- Como assim? Qual é a ideia?

-- Vou dizer pra ela que nós terminamos, sem terminarmos de verdade. Vou amansar a fera com essa decisão.

-- Continuo não entendendo. Como vamos mostrar para ela esse engodo?

-- Terminando de verdade Odilon, mas com o compromisso mantido. Mas para isso você tem que concordar.

-- Concordar com o quê minha querida?

-- Preste bem atenção meu amor. A minha mãe já nos encontrou juntos algumas vezes, fez escândalos, colocou-me de castigos, dificulta minhas saídas sozinha e não cansa de falar mal de você. Diz que você não presta, só vive junto com esta vagabundagem na rua e que cada dia está com uma namorada diferente.

-- Mas eu não sou nenhum vagabundo. Trabalho e tenho uma família. Tenho minhas responsabilidades e ajudo minha mãe com a manutenção da casa.

-- Eu sei disso meu querido e já disse isso pra ela. Temos discutido muito por sua causa e ela não aceita meus argumentos em sua defesa. Está irredutível e até ameaçou pedir à minha tia de Minas Gerais, que fique comigo algum tempo até você cair no esquecimento.


-- Nossa! Que bronca hein! Agora estou entendendo aonde você quer chegar. Qual o plano?

-- O plano é a gente acabar de vez, deixar de nos encontrar e dar um tempo para retornar com mais força. Enquanto isso, eu continuo com meus estudos, termino o segundo grau no final de ano e faço a vontade dela entrando no curso normal para professora.

-- E eu, em vista dessa distância, ficarei morrendo de saudades. Não posso concordar ficar sem você, mas sei que tenho que fazer algo para conquistar a sua mãe.

-- E isso você pode conseguir Odilon, basta pensar melhor no futuro. Aproveite a sua inteligência e gosto por leituras, para melhorar sua vida. Procure evoluir no seu trabalho, tente alguns concursos públicos, retome seus estudos e volte pra mim com a bênção da minha mãe.


-- Não deixa de ser um desafio, mas é um desafio que vale a pena por você minha querida.

-- Não só por mim Odilon, mas principalmente por você. Mas tudo isso tem um certo porém.

-- Mais desafios Eliete? Qual a ordem agora?

-- Não é ordem. É um pacto. Nós temos que prometer agora, neste momento, que enquanto durar o nosso distanciamento, nenhum dos dois irá namorar mais ninguém. Ou seja: eu me guardarei pra você e você também deixará outras meninas pra lá.

-- Deixar as outras meninas pra lá eu já deixei e posso continuar deixando. O que não posso deixar pra lá é você. Não quero concordar com isso Eliete. Se a sua mãe está colocando barreiras, preciso saber o que ela exige de mim. Quero conversar com ela e pedir a sua autorização para o nosso namoro. E para o seu pai também.

-- Nossa! Que bonito querido! Estou orgulhosa da sua coragem e da prova do seu amor, mas os meus pais, numa conversa no outro dia, já decidiram que não querem recebê-lo quando tentei marcar o seu pedido.

-- Então não tem jeito. Vamos continuar nos encontrando às escondidas...

-- Não assim Odilon. Tente entender a minha situação. Não vamos colocar mais lenha na fogueira para deixar o fogo se amainar. Portanto, vamos dar tempo ao tempo.

-- Se você quer assim, lamento muito, mas não vou insistir.

-- Então está combinado? Cada um vai se guardar para o outro? Você promete não se envolver com mais ninguém até eu me livrar das objeções da minha mãe?

-- Prometo desde que eu não veja você com outro. E se você também me encontrar com outra, o nosso trato fica desfeito em ambos os casos.

-- Combinado querido. Mas lhe garanto que se for depender da minha parte esse acordo nunca será quebrado.


E foi com essas promessas de fidelidades mútuas longe de suas presenças, que Odilon e Eliete se separaram de verdade e deixaram de se encontrar. A mãe da moça, algum tempo depois, mesmo desconfiada, começou a acreditar no rompimento dos dois. Ela observou a nova rotina da filha preocupada com os estudos, dedicada aos afazeres da casa e mais chegada aos diálogos que a incentivaram, definitivamente, a anunciar a notícia do fim do seu namoro com o rapaz.

O tempo se alongou, a poeira abaixou e os dois mantiveram o acordo durante dezoito meses, apesar de se verem de vez em quando e se cumprimentarem ao longe quando passavam um diante do outro perto de suas casas. Nesse período, realmente, nenhum dos dois quebrou aquele acordo, que era fácil de constatar pela proximidade de suas moradias e com relatos de colegas quando perguntados sobre a rotina de cada um. Mas...

Após Eliete ter completado o segundo grau para alegria da sua mãe, Odilon foi surpreendido, ao receber das mãos de Darci, um envelope fechado contendo uma carta escrita pela mocinha, que dizia:


“Querido Odilon.

É com o peito apertado que estou lhe pedindo a liberação do nosso acordo, por não achar justo que você continue esperando por mim, sem ter certeza que eu possa levar o nosso pacto em frente. Quando você receber este bilhete, eu já estarei longe daqui. Estarei em Belo Horizonte, na casa dos meus tios, que passarão a cuidar de mim até a conclusão do Curso Normal naquela cidade. Foi uma facada em nossos planos e uma surpresa desagradável que os meus pais me aprontaram.

Sei que você cumpriu o nosso acordo até aqui e isso me deixou orgulhosa de você, mas agora entendo que não posso exigir que você continue me esperando nessa distância toda. Mas se o destino for nosso, quem sabe se quando eu voltar a gente ainda se encontre e escreva o final tão esperado da nossa história.

Lamento por esta notícia tão triste pra nós, cujo enredo está terminando com minhas lágrimas jogadas nestas letras.

“Beijos da sua querida de sempre, Eliete.”


E ASSIM TERMINOU MAIS UMA HISTÓRIA DE AMOR ENTRE JOVENS POR INTERFERÊNCIA DE UMA FORÇA MAIOR.

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Abraços. BLOG DO POETA OLAVO NASCIMENTO
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POETA OLAVO
Enviado por POETA OLAVO em 24/04/2016
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