Na sombra de um ipê. Parte II
O dia no escritório se arrastava, não parava de pensar nela, a moça de cabelo ruivo que chamou minha atenção a beira do Guaíba. Por alguns momentos me via totalmente desligado do trabalho, meus colegas perguntavam onde eu estava com a cabeça, não respondia, a resposta seria: “Em Júlia”, e uma série de perguntas iram ser feitas.
Às dezessete horas não pode esconder a pressa, peguei minha pasta e a passos largos fui para a casa a alguns metros dali. Cheguei, preparei o chimarrão, coloquei uma roupa esportiva, queria parecer mais jovem, mas o espelho me mostrava o contrário, um homem de trinta e oito anos, cansado e nada atlético.
Arrumei o cabelo com gel,, raspei a barba, passei meu melhor perfume. A muito tempo não me preocupava tanto com a minha aparência. Estava pronto.
Cheguei no lugar onde a vi pela primeira vez, o sol refletia sua beleza à margem das águas. Sentei na sombra do mesmo ipê amarelo, e esperei, a térmica foi esvaziando, a noite chegava, e nada dela, foi assim nos três dias seguintes, ela não apareceu.
Era quarta a noite, o GreNal passaria na tv às nove, na saída do trabalho fui ao mercado comprar cervejas e aperitivos, já na fila do caixa senti uma coisa tocar no meu calcanhar:
- Desculpe - Disse aquela voz doce, que combinava perfeitamente com seu rosto angelical. Era Júlia que bateu com a bengala em mim, meu coração disparou, mas não tive tempo de abrir a boca, um rapaz loiro, alto, se aproximou.
- Achei as amêndoas. - Disse o rapaz, na qual beleza me envergonhava.
- Obrigada Lipe. - Respondeu Júlia, voltei a me senti trouxa, como me sentia a vida toda. Pensei em trocar de caixa, mas eu já era o próximo.
- Débito ou crédito? - Perguntou a caixa com cara de poucos amigos.
- Crédito! - Respondi em tom desanimado.
- Pedro? - Júlia incrivelmente conseguiu reconhecer a minha voz.
- Oi Júlia tudo bem?
- Tudo ótimo, Pedro esse é Felipe meu irmão, Felipe esse é Pedro… um amigo.
Sorrir descaradamente como se Felipe não pudesse me ver também.
- Prazer Felipe! - Apertei sua mão tentando não mostrar a animação em vê-la novamente - Não apareceu mais na orla?
- Ah! Estive muito ocupada, provavelmente só conseguirei ir no próximo domingo.
- Ótimo, eu também irei, nos vemos lá! - Droga, não podia ter dito isso. - Quer dizer...- desculpe.
Ela riu:
- Eu entendi, não se preocupe.
No domingo lá estava eu novamente, a sua espera, as horas passavam e nada, resolvi ir embora e a esquece-la. Até que um labrador de pelo cinzento passa correndo em direção à água, era Max, e mais adiante estava Julia com seu irmão, eles se aproximaram, Julia sentou ao meu lado e seu irmão foi brincar com o cão.
- Como está o dia hoje? - Me perguntou.
- Perfeito, o sol já está se pondo, há pássaros passando no céu, Max está pegando o frisbee na água, há pessoas sentadas em lençóis, e você está linda. - sua bochechas coraram na hora.
E assim foi o terceiro, quarto, quinto encontro, embaixo daquele ipê amarelo. Depois de vinte e cinco anos de casados ainda sentamos naquele velho ipê, Tivemos filhos, netos e ainda me surpreendo como tudo aconteceu de repente, era para acontecer, era para estamos ali sendo felizes um ao lado do outro.
A vida lhe da escolhas para você ser feliz, preste atenção e não despedisse as oportunidades.