Coisas que existe sem você saber

Na saída do aeroporto internacional aeroparque, en Buenos Aires, eu ouvi uma menina dizer que, "se Maomé não vai até a montanha, é porque ele não gostava dela tanto assim".

Eu desembarco. Passo pela fiscalização, um agente me pergunta onde ficarei. Digo que estou de conexão. Ele sorri, agradece a minha presença em seu país. Em seguida, me pergunta se João está comigo. Digo que não virá. Os olhos do agente se estendem sobre mim, aparentemente já sabe de tudo. Essas coisas são um padrão. Mais uma vez agradece, e me orienta que me divirta.

Sigo o corredor estreito e mal distribuído. Meu celular está prestes a descarregar. Compro um carregado de quarenta e seis dólares, em um freeshop. Logo após, eu percebo que as tomadas elétricas do aeroporto são adaptadas. Não me importo. Não tenho me importado muito com as coisas. Faço o que tem que ser feito, dessa forma as pessoas deixam de se preocupar.

É normal. As pessoas aceitam o comum. Eu posso me considerar uma pessoa? Não me importo. Novamente aquela falha do ar, a gilete na garganta, a falta.

Vou até uma casa de câmbio. Troco uns poucos reais. Ando por aí, por Buenos Aires. Ele não está aqui, e se estivesse não teria saído do aeroporto. Talvez, com muito esforço iria até o outro lado da rua, onde se encontra um rio, que pode ser confundido com a Baía de Guanabara. Provavelmente ele diria "grandes coisas. Achei que seria diferente". Eu também.

Eu camnho pelo calçadão. Algumas pessoas pescam. Eu ando. Me sento sobre um banco de pedra. Abaixo a cabeça, mais uma vez aquela maldita falta de ar. Os olhos marejados. Peço ao universo. Deixo escapar em voz alta, que provavelmente ele está rindo do meu pedido. Uma senhora de meia idade se aproxima. Estou exausto. Logo em seguida um cara se chega. Estou muito cansado. Os dois me abraçam. Ela diz que meu interior é um lago escuro onde bate um vento frio, que resisto esperando o verão. Não me contenho. Eles me apertam. Quem sou eu?

O tempo está frio. O vento gelado bate no meu rosto ainda quente. Não sei o que isso significa. Lembro de alguns trechos de Beauvoir, Sagan e Duras. Nunca entendi como elas sempre leram a minha alma.

Novamente a frase adaptada de Maomé soa na minha lembrança. Ele não vai me procurar, ele não vai tentar. Eu estou exausto, não existe paz para uma alma fria. Eu não entendo o que as coisas significam. Procuro ele nos meus dias, ele não está, vem como algo que nunca (r)existiu.

No meu corpo você se fortalece, se mantém quente. Mas talvez um dia, talvez uma hora dessas você sinta algo que você não sabe.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 26/04/2018
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