Segurança de Motel

Matias não queria ter visto, mas viu. Foi no primeiro dia de trabalho dele como segurança em um motel. A coisa estava feia naquela época e foi o único trabalho que ele arrumou. Estava lá, sentado diante das telas de monitoramento, quando viu o carro de Felipe chegar.

Felipe era seu melhor amigo desde a infância. Sabia que ele tinha uma namorada e que era feliz, mas não imaginou que ele fosse com ela para um motel. Até porque ambos moravam sozinhos e eram independentes, não havia muita lógica em ir para um motel. Meia-hora depois ele teve um segundo pensamento: “E se Felipe estivesse com outra mulher?” Ele precisava ver quem era.

Saiu da sala caminhou entre alguns arbustos e se aproveitou do breu da noite para ficar à espreita. Viu quando o carro saiu. Sem películas nos vidros e bem na luz, viu Helena, a namorada de Felipe, dirigindo o carro, mas para sua completa e perplexa surpresa não era Felipe quem estava no banco do carona.

Era um sujeito marombado que frequentava a mesma academia que ele. Nem lembrava direito o nome do cara. Talvez fosse um nome da Grécia antiga ou bíblico. Não lembrava.

Nada demais aconteceu naquela noite durante seu turno de trabalho. Não visualmente, mas dentro da cabeça de Matias um milhão de pensamentos loucos voavam para lá e para cá se chocando no ar e fazendo aquele estardalhaço.

Poderia ligar aquela hora da noite para Felipe e contar tudo. Pensou nisso pelo menos umas dez vezes, chegou a pegar o telefone, mas desistiu logo em seguida. Isso não é coisa que se conta por telefone.

A verdade é que Matias gostava de Helena. Ela era uma moça inteligente e até onde sabia há pelo menos três anos estava fazendo seu melhor amigo feliz. Jamais, nem em seus piores pesadelos, ele sequer imaginou que ela pudesse fazer isso com Felipe. E ainda ir no carro que o cara suava no trabalho de gerente noturno de um posto de gasolina para pagar. Por falar nisso a sacanagem parecia ainda maior, quando ele se dava conta que o amigo devia estar trabalhando no posto no mesmo horário em que ela se dava à atos libidinosos em uma cama de motel com a tal bombadão.

Quando terminou seu turno de trabalho, no raiar das primeiras horas da manhã, pegou a sua CG 2002, verde, que tinha comprado há poucos meses e pilotou o mais rápido possível para a casa de Matias.

O carro do posto estacionado na frente. Não viu o carro de Felipe. “Ela deve ter ido para casa e o pobre coitadoteve de vircom o carro da firma.” Estacionou a moto na frente e quando caminhou em direção a porta o amigo já a abriu sem que ele precisasse bater.

Felipe estava feliz. Estava rindo depois de passar uma noite inteira acordado no trabalho. Ele sentiu até uma angústia ao se dar conta de que estava ali para estragar a felicidade do amigo, mas sabia que não havia outra alternativa. Ele precisava contar.

— Tenho uma coisa para te contar.

Disse Matias, ao passo em que o amigo rapidamente mandou a mesma oração.

— Também tenho uma coisa para te contar.

Os dois se olharam como se cada um deles tivesse receio do que o outro pudesse dizer. Matias em sua mente já imaginou que talvez Felipe tivesse descoberto a traição de Helena e terminado com ela. Poderia ser isso. Seria maravilhoso se fosse, pois, assim livraria-se do peso de ser o portador de tão má notícia.

— Fale você primeiro.

Ordenou Matias com seu coração disparado de expectativa.

— Vou pedir Helena em casamento.

— O quê? — Gritou Matias assimilando o choque.

— Vou pedir ela em casamento, cara. Eu amo essa mulher e tenho certeza que jamais encontrarei outra igual a ela nessa vida.

- Penso que você não deveria. — A voz de Matias estava tremula.

— Devo sim cara! Pensei bem e me dei conta que minha vida não tem sentido sem ela. Se eu perder essa mulher meu mundo desaba, eu acho que sou capaz de uma loucura. Falando sério irmão, para mim não há mais vida sem Helena.

Matias não respondeu apenas baixou a cabeça e voltou a ver a cena de Helena saindo do motel com outro homem.

— E você o que tinha para me contar?

Matias pensou: “É agora vou contar tudo.” No entanto, cometeu o erro de olhar para o rosto do amigo e ver a sua felicidade estampada e não teve dúvidas na resposta.

— Não vou mais trabalhar no Motel. É muita responsabilidade!

Jonas Martins
Enviado por Jonas Martins em 16/05/2018
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