DESCONHECIDOS

DESCONHECIDOS

Não sei quem marca estes encontros e por qual a razão. Eu podia não estar ali, eu podia estar ali em outra hora, em outro dia e sei lá que caminhos tortuosos te trouxeram.

Um sujeito pelo “ trago já golpeado” discursa sobre a situação política do país e exclama:

- Ai que saudade da ditadura, lembro das últimas palavras do Figueiredo. Ele disse...

Outro atalha:

- Se tá com saudade da ditadura senta no meu colo.

O borracho se volta para mim:

- Como se explica isso, doutor?

- Não se explica, se sobrevive.

O que eu não queria era pensar nos problemas do Brasil, na verdade nem nos meus problemas queria pensar. Dane-se o Figueiredo e os que vieram antes e depois dele.

Perto da jukebox estava uma mulher de cabelo castanho-claro, de formas bem proporcionadas mas não exuberantes. Cumpro o ritual de lhe perguntar que música ela gostaria de escutar e espero qualquer coisa entre Sertanejo Universitário, Pagode e Funk.

- Coloca Guns pra mim, me responde ela.

Ela prossegue:

- Sabes o que eu gostaria de beber? Uma cerveja artesanal.

Tanto eu quanto ela soubemos que essa opção no momento é inexistente.

Arrisco:

- Tu é diferente do que costumo encontrar.

- Tu também.

Somos parecidos, somos diferenciados de alguma forma da maioria dos seres humanos que andam por essa amostra grátis da fauna humana do planeta.

Em um instante cambaleia no meu cérebro um mundo de possibilidades, um barulho agudo me aparta deste radioso sonho. Aparece novamente a dúvida: quem marca estes encontros tão promissores que não são feitos para durar.

Seríamos felizes na Grécia Antiga, no século XIX ou se tivéssemos a capacidade de construir algo novo.

Mas amanhã, seremos desconhecidos.