A Helena da Glória

Rio de Janeiro, 2019.

Era mais um sábado ensolarado do verão carioca. Eu estava saindo do bairro de Copacabana na zona sul em direção à estação do metrô Cantagalo que fica no mesmo bairro. Tinha como ideia em ficar em algum canto da cidade e admirar sua beleza; então decidi ir em direção ao centro da cidade, o metrô nos fins de semana não ficam muito cheios e como se trata de estarmos no mês de Janeiro, à muitos turistas na cidade. Tanto gente de fora do país e gente de outros estados brasileiros que buscam as praias cariocas. Que orgulho que tenho do Rio de Janeiro; mesmo com os seus problemas, sendo tão ordinária, mas, ainda gosto dela.

Já dentro do metrô, rapidamente decido aonde ir e o lugar onde costumo ir é o aterro do Flamengo ou precisamente, a Marina da Glória, mas antes, decido comer algo para enganar o estômago, como era sábado um lanche no mc donalds era uma boa alternativa para fazer algo diferente e até sair da rotina.

Fui até a Cinelândia e de lá já com o lanche em mãos, fui ao aterro do Flamengo. Costumo passar pelo o MAM e então ao subir a rampa de acesso, vejo um cadeirante com dificuldades para subir, mesmo com as mãos ocupadas, vou ajudá-lo e tivemos dificuldades, foram três tentativas até que duas jovens que também estavam subindo, se ofereceram para ajudar.

– Deixe que nós ajudamos ele, você está com lanche na mão.

– Obrigado.

O cadeirante logo agradeceu.

– Obrigado, garoto.

No aterro por lá vejo pessoas praticando atividades físicas e até atividades referentes ao circo, como perna de pau e etc. É interessante ver aquilo, bem diferente, de onde sou é muito difícil ver uma atividade ligada ao circo principalmente num lugar público.

Enfim, continuo caminhando pelo o local, de um lado vejo o verde das árvores, os pássaros que cantam ou fazem mais barulho do que cantam, vejo muita realidade num local que não só vive paraíso; vejo moradores de rua que a todo momento passam pela as pessoas para ver se elas tem comida. Vejo o mar e a quantidade de barcos que ali estão parados é a famosa Marina da Glória, vejo gente dormindo no gramado, vejo vendedor ambulante indo em direção à praia.

Depois de caminhar e buscar um canto, finalmente chego onde costumo ficar e lá tenho a visão da baía de Guanabara, de pessoas que tem a prática de usar pequenos aviões de controle remoto e vejo também uma linda moça deitada na grama. Ela usava roupas brancas que logo notei que seria uma estudante da área de saúde. Ela se revirava, fiquei nervoso, pois ela começou a me olhar. Logo ficou sentada encostada numa árvore e as vezes olhava para mim. Eu continuei comendo o meu lanche e ficava olhando para ela mas, desviava o olhar para os pequenos aviões de uns caras que os usavam.

Passaram-se alguns minutos e a moça estava deitada tirando um cochilo. Logo o cadeirante que ajudei lá no início chegou até a mim, ele empurrou sua cadeira por um longo caminho e em seguida me perguntou:

– Olha garoto, você sabe onde fica o hotel Glória?

– Acho que fica ali na frente. Tem que subir aquela rampa.

O cadeirante fez uma cara de preocupação.

– Outra rampa? Aquela ali vai ser difícil pra subir, tem curva.

Ele continuou falando e explicou a real situação.

– Eu vim de carro lá de Copacabana que é onde eu moro. Vim com uma sobrinha, a deixei ir à frente, pois eu ia encontrar um lugar para estacionar.

E logo continuou com o seu olhar fixo para a subida que teria que encarar. Vendo o seu desespero, resolvi ajudá-lo.

– Vamos! Eu ajudo o senhor.

– Muito obrigado, é só até aquela subida mesmo.

Ao levantar, percebo que a jovem estava observada a ação, mas, logo virou e se deitou. Pude vê-la de mais perto, seu rosto estava coberto pelo os seus braços mas vi sua pele clara e seus bonitos cabelos castanhos.

Levei o cadeirante até o local onde ele queria ir. Não sabia exatamente onde ficava o hotel glória e então perguntei a um vendedor ambulante onde era e ele disse que ficava na descida da rampa. O cadeirante falou que sua sobrinha era para estar por aqui e ele ficou sem oque fazer. Eu disse a ele.

– Olha, eu vou mais a frente, talvez na praia.

– Já que você está indo pra lá, eu também vou.

E voltei a ajudá-lo, empurrei sua cadeira por um bom percurso. O senhor não parava de falar, era o tempo todo fazedo perguntas e logo senti um papo estranho e então disse a ele que precisava voltar, pois tinha que ir embora ele agradeceu.

– Muito obrigado Victor.

Isso por que durante a conversa, ele perguntou o meu nome.

O cadeirante então, seguiu até a praia pois provavelmente, sua sobrinha estaria por lá. Era só descida e então ele não teria problemas e chegar ou iria pedir ajudar a alguém enfim, achei o papo muito estranho e voltei para estava.

Voltei para o canto onde estava, os caras com os pequenos aviões ainda estavam por lá e a menina também estava lá.

Deu para notar que era estudante, tirou da mochila um caderno e começou a fazer anotações. Tive a mesma ideia mas, era para escrever este conto. Ela foi à musa inspiradora deste texto. Não podia chama lá o tempo todo de moça, menina, mulher de branco e etc. Queria dar um nome a ela como se fosse um de meus personagens mas, ela é real. Todas as descrições sobre ela acontecia ao vivo é como se Pablo Picasso tivesse pintado um quadro; a cada movimento seus mexendo em seu cabelo, abaixando a cabeça e olhando para mim era colocado neste conto. Decidi chama lá de Helena.

A Helena… Vejamos, estou na Marina da Glória. Vai ser helena da Marina da Glória! Não este não. Ficou muito grande. Vai ser Helena da Glória! Assim como Manoel Carlos em suas novelas terem sempre uma Helena. A Helena da Glória continuava com seu caderno aberto hora na grama e outro apoiado nas pernas escrevendo algo. Fiquei imaginando se Helena não estava escrevendo um conto também ou até uma poesia sobre um cara que está sentando olhando e escrevendo um texto sobre ela. Isso seria incrível, poderíamos trocar textos.

Chegou o momento em que queria entregar o texto a Helena, o foda era criar coragem e bater de frente com as vozes que estão na mente dizendo: – Se você for lá, a menina vai se assustar! Ela pode gritar ou até mandar você sair. Mas, ai veio uma outra voz: – Vai lá guerreiro! Você consegue, ela não vai te tratar mal e aliás, o não você já tem. Transforme isso em um sim. Sorria!

Fiquei alguns minutos me dividindo entre: Vou ou não vou, vou ou não vou.

Até que Helena, começou a colocar as meias nos pés e também os tênis. Levantou-se, colocou o caderno dentro da mochila. Foi ai que parei de escrever, foi ai que o conto terminou e foi ai que tirei as duas folhas do caderno e fui até ela. Helena já estava andando até parei ela, disse boa tarde e entreguei o texto.

O conto terminou na folha de caderno mas, ele continuou na conversa que tivemos ao caminhar.

– Fiz um texto para você mas, a minha letra é feia.

Helena sorriu e disse:

– Tudo bem, eu vou ler em casa, tá bom?

– Tudo ótimo.

Fomos nos conhecendo no caminho de volta. Perguntei o seu nome e descobri que a Helena, se chama Paula, uma carioca, estudante de enfermagem, tem seus trinta anos o que no começo não tinha acreditado, evangélica. Fomos conversando até o seu destino que era a estação de metrô da Cinelândia. No final peguei o seu telefone e me despedi beijando o seu rosto e dizendo:

– Foi um prazer em conhece-lá, Paula. Vai com Deus!

Ela respondeu:

– Foi um prazer também Victor. Tchau, vai com Deus!

Chegando em casa, fui enviar uma mensagem para Paula e vi que no whatsapp, a foto de perfil era de um homem. Lembrei que Paula disse que estava dando um tempo no namoro dela, isso quando perguntei se ela tinha namorado. Não fiquei muito desapontado, consegui entregar o texto, fui até ela para conhece-lá e conversamos. Se ela me dei o número errado de propósito isso não sei, mas, me fez tirar uma lição de que o medo só esta nos nossos pensamentos e quando estamos a ponto de fazermos algo, o medo bate a porta da mente e mostra vários roteiros e os finais que podem acontecer. Preferi o final feliz, o final de ir contra as ideias do medo e por em prática as minhas ideias.

Não tem como ligar, e espero encontrar a Helena… Quer a dizer a Paula, naquele mesmo lugar algum dia.

Um texto de Victor Nunes.

Victor Nunes Souza
Enviado por Victor Nunes Souza em 14/01/2019
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