L á p i d e

Não foram apenas beijos. Se você estivesse ali no meu lugar certamente chegaria a mesma conclusão. Foram dois gritos de socorro. A noite estava triste (como esta de hoje). Os bares quase vazios. Não à conhecia, nem fui eu que à encontrei. Foi tudo obra dela. Ela me abordou numa daquelas mesas vazias. Foi ela que me disse prontamente que iria se jogar dum viaduto, ou tomaria chubinho na manhã seguinte. Gostava da sua voz, e não conseguia parar de imaginar seu salto no vazio (magnifico)... mas é claro, não ousava falar isso e nem nada mais, e ela não parecia se importar comigo, quando ela falava me fazia pensar que na verdade só falava consigo própria, eu era apenas um de seus muitos devaneios; um monólogo de solitários. O meu silêncio continuou até ela perguntar como me chamava, respondi, e foi sua vez de se calar. Ela não me disse seu nome, talvez esperasse eu perguntar, ou talvez só não quisesse mais falar. Pouco depois nos beijamos. Penso que trocamos nossas angústias mais do que mera salíva. Ela se foi, e eu não sei se posso dá-lhe flores... por deus! Nem sei onde fica sua lápide.