Entre Cafés e Marmelos
 

                         
A distância une os pontos extremos da paixão. O lado dela é das montanhas da Serra Geral. Um lugar frio onde a cerração persiste até as dez da manhã e se acaba trazendo o sol. O dia é interrompido na ventania uivante e sombria  na entrada do  entardecer. A cidade exala a doçura suave e requintada  do marmeleiro (os melhores doces estão guardados nas compotas, impedindo que o sabor se perca).

                            
Do outro lado um vale árido e tórrido, o cerrado propriamente dito. O lado dele, vivendo meio ao calor que queima e abafa a alma, onde o sol namora os moradores até a noite. Aqui a temperatura de muitos graus dispersa o perfume exótico dos cafezais e o vento se encarrega de levá-lo até as casas - humorizando  o coração e a cabeça das pessoas.   
                       
O aroma do café e a doçura do marmelo separam o amor e o encantamento contido em um par de alianças, da mesma maneira desperta o desejo entre o homem e a mulher nos limites dos seus territórios, uma união de opostos entre o quente e o frio, o masculino e o feminino, que se encontram  e confundem-se no perfume saboroso e no paladar aromático entre cafés e marmelos. Se tudo fosse diferente, talvez não agradaria: quem comeria doce quente ou tomaria café frio? Nem mesmo a distância encurtaria. Esta mistura icônica entre o café quente e o marmelo frio parecia destino de ambos. A mulher se avistara perdida e laçada nos prazeres com café quente no calor do corpo de uma noite a pino.

 
Débora Muniz
Enviado por Débora Muniz em 16/10/2019
Reeditado em 31/10/2019
Código do texto: T6771210
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