PEREGRINO.
Os meus laços familiares foram desfeitos a partir dessa data, fui desprendido desse meu grupo de pais filhos e irmãos a causa disso tudo a deslealdade conjugal, o amor a meus filhos será sempre como chamas acesas que não apagará já mais foi o que me restou de minha família, a ex-esposa se encontra sobre outros domínios, fui despejado como um inquilino que está em débito com o locatário, mas na verdade durante nossa união nunca deixei faltar nada apesar do grande volume de amor e dedicação de marido cuidadoso que a ela eu entregava, me devolvia em trocas migalhas de amores, ela me tinha, mas não me queria quando nosso amor foi minguando a ponto de me extinguir por total, logo fiquei fora desse casamento, tudo o que foi juras de amores foi desfeitas, estou sendo deportado com coração rescendido e desiludido, mas sem ódio ou mau ressentimento, agora vou tomar novos rumos a minha vida, me livrarei de todos os apegos, levarei comigo somente meus objetos pessoais, me tornarei um andarilho sem parada, sem pátria, tal vez me integro à algum grupo de ciganos nômades até o fim desta vida.
Como eu fosse um pássaro solitário de asas depenadas, impossibilitado de alçar voo, me lanço nessa jornada direcionando meus olhares ao longo dessa estrada. O sol parece estar bem ali, mas sempre viajando por esse espaço sideral cheio de movimentação de vivos astros patronos de nossas vidas terrenas apesar dessa distância imensurável.
Meus passos me guiam enquanto meus pensamentos me levam para longe, meu coração é meu leme o vento bate contrário a mim, mas minha pele é tocada por esse fenômeno invisível, sopra as nuvens ameaçando chover, assolam os campos com imagens de capins dourados e  ressequidos por falta d’água, nas várzeas de grandes charcos sobrevive um pouco dessa vegetação, a brisa rasteira toca as flores multicoloridas de perfumes mostrando que ainda tem vidas ali, levanta ondas nas águas perenes de meu ser recebendo o reflexo do sol como um espelho frente a minha face de olhos profundos e rugas intensas marcados pelo tempo de anos sobre dias e horas vivendo nesse planeta terra.

Minha existência agora se tornou insignificante e tão massacrado por essa desilusão amorosa, me sinto um espantalho em movimento que nem os corvos se importam, horas em movimentos, horas estático, ninguém me lança um olhar de apreço, para uma multidão eu não existo não  me dão atenção, assim eu vou por aí de roupas rotas que se despedaçou devido uso insistente e marcadas pelo do tempo.
Vivo procurando pela cura de minhas dores físicas e mentais, meu mundo é descoberto sem céu, no alto de minha cabeça sem o teto azul tem horas de nuvens escuras sem estrelas, o sereno congela até as raízes de meu cabelo se hoje aqui me repouso amanhã onde será?
Meus olhos buscam um horizonte nessa vasta paisagem de minha alma fria e delirante, meus pés vão marcando em frente enquanto adivinho um ponto de chegada.
A chuva chega tempestuosa, parece mais intensa que minhas agruras entediantes eu sem abrigo exposto ao tempo, às forças da natureza me desafiando, querendo desviar minha rota nesses caminhos que me levam a um lugar ainda não definido, as águas que descem das elevações montanhosas refresca meu pés ulcerados de sangues em chagas, os pingos molham a minha cabeça escorrem pela face lavando o suor impregnado de poeira dessa caminhada, inundando meus olhos me impedindo pestanejar atrapalhando minha direção nesse norte que me levará á esse poente de imenso exílio às vezes livre e outrora preso a um espirito que se diz consolador.
Um dia desses que se aproximava as comemorações aos mortos aconteceu a surpresa à aquela senhora responsável por a história trágica desse senhor tão apaixonado pela família que possuía; senhor Alfred que naquele dia abandonou tudo que possuia para desertar em meio o mundo. Adélia foi despertada por um telefone em horário de altas horas, Adélia se levantou meio sonolenta em passos arrastando pela casa para chegar até onde ficava instalado o aparelho telefone, calmamente o atendeu com os cumprimentos cordiais. Do outro lado uma voz desconhecida disse em som bem pausado:
- Alô...É a senhora Adélia por favor? 
- sim, pode falar, alguma coisa grave?
- foi sepultado nesse dia seu ex-marido, senhor Alfred,  caso queira visitar a sepultura o número é... (disse o numeral, quadra e espaço físico) sem revelar desligou.


Dona Adélia em agradecimento aos anos de casamento vivido em harmonia até ceto tempo não deixou esse momento para o esquecimento, depois dessa separação Adélia não foi tão feliz como o do primeiro casamento, ela trocou um relacionamento solido, pai de seus filhos por vaidades banais.   
No outro dia se dirigiu até o local indicado, prestou suas preces de volta para seu lar antigo de convívio familiar.

16/11/2019/ a/h/p*
Antonio Portilho antherport
Enviado por Antonio Portilho antherport em 16/11/2019
Reeditado em 08/11/2020
Código do texto: T6796382
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