Relacionamento Virtual (revisado)

Ricardo estava no bar do restaurante onde havia feito uma reserva. Ele já tomava a segunda dose de conhaque. Uma pessoa muito especial era aguardada. As expectativas eram grandes por parte dele.

— Tudo bem, meu rapaz? — perguntou o Balconista, após servir a bebida.

— Tudo.

Ricardo balançava constantemente uma das pernas.

— Você parece ansioso.

— Um pouco.

— Posso saber o motivo desta ansiedade?

Ricardo sorriu, envaidecido. Pegou o smartphone e mostrou uma foto para o Balconista.

— Fiu! Fiu! Que gata! Quem é?

— É a Iza, uma amiga minha. Bem… posso dizer que ela é muito mais que uma amiga.

— É sua namorada?

— Não. Ela é casada. Eu a conheço só pela internet, mas já somos bem íntimos.

— Um relacionamento virtual, é isso?

— Isso mesmo. E posso afirmar que a nossa relação é bem intensa. Trocamos fotos íntimas, juras de amor…

O Balconista continuou com seus afazeres. Ricardo, na intenção de dar mais veracidade aos fatos, resolveu mostrar outra foto.

— Olha essa foto aqui.

O Balconista olhou e esboçou um sorriso sacana.

— Que gostosa!

— Essa mulher é muito quente, meu chapa — disse Ricardo, orgulhoso.

— Acho que ela gosta mesmo de você, hein?

— É claro que gosta! Você acha que ela me mandaria uma foto tão insinuante assim se não gostasse realmente de mim?

O Balconista deu de ombros. Ricardo tomou mais um pouco da bebida.

— Ela não é nenhum brotinho, já tem filho criado, mas acho que dá um show em muita menina por aí.

— Vocês vão jantar juntos?

— Vamos. A gente vai jantar, conversar, tomar uma boa bebida… Depois vamos dar uma esticada. Já tratei de reservar a Suíte Master de um motel bacana. Quero fechar a noite com chave de ouro.

— Boa sorte — disse o Balconista, limpando o balcão.

Vários minutos se passaram. Ricardo já havia pedido a terceira dose. Iza estava atrasada. O Balconista olhava para o rapaz, sua ansiedade transformando-se em descrença.

Ricardo virou o último gole. Foi quando avistou um raio de luz diante dos olhos. A porta do céu se abrira. Iza, feito um anjo que fora expulso do paraíso, acabava de entrar no restaurante. Ricardo se levantou e foi até a mesa que tinha sido reservada ao casal. Esperou por sua “amante”, como um legítimo cavalheiro. Iza o reconheceu e abriu um largo sorriso. Ele pegou na mão dela e a abraçou. Trocaram dois beijinhos.

— Eu tava muito ansioso pra te conhecer, Iza.

— Eu também, lindeza. Você é muito mais bonito pessoalmente.

— E você também.

Iza olhava nos olhos de Ricardo. Na certa, encantada com a beleza do rapaz.

— Esperei muito por esse momento.

— Também estou feliz em te conhecer — disse ela.

Ricardo estava com as mãos trêmulas.

— Você tá nervoso? — perguntou Iza.

Ricardo sorriu timidamente e, em um gesto impulsivo, levou uma das mãos até a cintura de Iza, puxando-a contra o seu corpo. Em seguida levou a outra mão até a nuca dela, ela pendeu a cabeça e abriu a boca. Ricardo sabia que era o momento certo, sabia que ela também queria aquilo. Rosto a rosto. Boca a boca. Os olhos de Iza ficaram dormentes. Ricardo estava prestes a sentir o gosto daquele beijo tão aguardado. Estava prestes a dar início aos rituais que levariam os dois ao tão sonhado ninho de amor…

Foi quando Iza colocou o dedo indicador nos lábios do rapaz.

— Uai, moço, o que é isso?

— Isso o quê? — perguntou Ricardo, incrédulo.

— O que você pensa que tá fazendo?

— Eu… eu…

— Vamos nos sentar, Ricardo, as pessoas estão olhando.

Ricardo puxou a cadeira para Iza. Ela se sentou. Ele olhou para o bar. O Balconista tentava segurar o riso que insistia em escapar.

Ricardo também se sentou, estava visivelmente constrangido e decepcionado.

— Tá chateado comigo?

— Não, de jeito nenhum.

Iza pegou na mão do rapaz.

— Sei que você queria muito aquele beijo. Pra ser sincera, eu também queria, mas não seria certo.

— Eu achei que depois de tudo que nós fizemos juntos…

— Fizemos o que juntos? Estamos nos conhecendo agora. E além do mais, sou uma mulher casada. Você sempre soube disso. Talvez você tenha imaginado coisas demais.

— E as nossas juras de amor?

Iza balançou a cabeça, compreensiva.

— Existe um abismo entre as fantasias virtuais e a realidade, moço.

— E as fotos que você me mandava? Aquelas fotos picantes?

— Entenda uma coisa, lindeza: eu posso ser um livro aberto, mas só um homem tem o direito de me ler. E este homem não é você.

Ricardo ficou ainda mais cabisbaixo. Iza beijou a mão dele.

— Mas quero que saiba que eu gosto muito de você. Sou uma mulher que sabe amar de várias maneiras.

Todas as expectativas do rapaz se findavam naquele momento. Uma grande mulher estava ao seu lado, mostrando a ele que nem sempre as coisas são o que parecem ser. Uma grande mulher que, por mais que muitos pudessem pensar o contrário, carregava, no lado esquerdo do peito, o manual da fidelidade e do respeito.

— Espero que entenda o que eu estou querendo dizer.

Ricardo entendeu o que ela quis dizer. E logo depois, jantaram juntos e conversaram sobre vários assuntos. Formavam um lindo casal. Um casal de amigos. Sem carícias, mas com carinho. Sem beijos, mas com muita química. Sem sexo, mas com muito amor.

Isso é coisa rara hoje em dia.

Renato A
Enviado por Renato A em 08/05/2020
Código do texto: T6941216
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