Rita

Eu estava sentado na varanda do meu apto tomando um chimas quente e sentindo um vento gelado adentrar pelos meus ossos, enquanto pensava no que fazer da minha vida. Queria tanto não pensar mais nela, não ver vestígios de mulher pela casa, por mais que a moça da limpeza deixasse tudo brilhando, havia fios de cabelos escuros, havia a bagunça desordenada dela pela casa, havia ela. A Rita criou espaços não mensuráveis pela casa, levou o meu sorriso quando resolveu ir embora sem demora. Tu levaste as tuas roupas, o teu cheiro de relva verde e os meus livros já rotos mas, tão meus. Ela deixou marcas pela casa, uma corrente ali, um creme lá e muitas calcinhas perdidas em lugares escusos. A cada mulher nova que frequentava a minha casa, uma calcinha parecia e as damas sumiam inexplicavelmente. Então, eu lembrava o senso de humor dela como uma maldição e ria sozinho pensando no quanto Rita iria rir se soubesse que as mulheres iam embora quando viam as coisas dela pela casa. Rita, Rita, tu me pediu para sermos amigos, como? Se quando deito o meu corpo em outro corpo, sinto-me submergido em saudades de ti. Pedes-me que não te procures mais, que sejamos amigos, dizes que o meu estômago deixará de estremecer ao sentir o teu perfume e que os teus vestígios de mulher logo, logo serão nada para mim. Rita, se te chamasses Amélia te cantaria que eras a mulher de verdade.Mas era a minha Rita cantada pelo Chico Buarque que imaginara mil histórias perversas para que o meu corpo sentisse essa falta perene de ti.

Marisa Piedras
Enviado por Marisa Piedras em 02/06/2020
Reeditado em 29/11/2021
Código do texto: T6965519
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