MÃE AOS SESSENTA ANOS

Rosilvânia era uma jovem diferente, levava uma vida simples e tranquila. Vivia só com a mãe, dona Vanessa, uma cadeirante.

Era uma rotina sua vida, e havia uma tristeza em seu coração. Se sentiu usada em seu último relacionamento, tudo por causa do seu jeito pacífico, sua bondade. Sua mãe sempre tentava lhe abrir os olhos, mas Rosilvânia estava tomada pela paixão por Carlos. O taxista se aproveitou da carência da jovem, e ela caiu na armadilha. O cara era bom de lábia, usando o velho golpe do romantismo. Rosilvânia vivia num mundo fantasioso, apesar de já estar na casa dos trinta anos. Queria também te a vida que seus 4 irmãos, todos casados, tinham. A jovem era tranquila, aparentemente nem ligava quando caçoavam dela, dizendo que ela iria "ficar pra titia". Rosilvânia conheceu Carlos numa corrida vindo do Mercado Municipal. Todo mês a jovem ia ao banco receber seu pagamento ( uma pensão que seu pai havia deixado pra ela exclusivamente, devido ela ficar encarregada de cuidar da mãe), e de lá fazia a feira no Mercado. Carlos não se encanto pelo jeito meigo da jovem, infelizmente ele era um mau caráter que colecionava conquistas amorosas. Ele usava o trabalho de taxista como um meio se aproximar das mulheres. A coitada da Rosilvânia não sabia de nada, estava prestes a cair numa armadilha. Carlos foi observando o ponto fraco da jovem. Depois de três meses sempre prestando serviço pra Rosilvânia, o taxista se sentiu mais à vontade pra falar de amor. Amor para Carlos era só sexo e ser beneficiado financeiramente. Rosilvânia tinha o perfil de uma vítima ideal: filha de coronel reformado da polícia, morava numa casa ampla, bem localizada. Tudo isso Carlos foi reparando até chegar a hora de dar o bote. Rosilvânia suspirava toda vez que estava com Carlos. Dona Vanessa, mulher vivida e conhecedora do que há na alma das pessoas, tratou logo de abrir os olhos da filha. Não adiantou! Rosilvânia enchia o seu amado de mimos, muitos presentes, camisas de lojas de grife, muitos carinhos, beijos, dava dinheiro pra Carlos encher o tanque de seu carro. Pior, chegou até dar entrada num financiamento pra comprar um carro pro seu amado. A ficha caiu num certo dia quando pegou no flagra Carlos, na praça da Faculdade onde era o ponto dele, aos beijos com outra mulher. Descobriu que o cara era casado. Mas antes disso, Rosilvânia tinha suportado muita coisa: a família de Carlos sempre debochando da sua voz fanhosa, reparando nos presentes, e Carlos sempre frio, usando de pressão psicológica pra arrancar dinheiro dela.

A gota d'água foi esse flagra! Aí finalmente ela deu razão pra mãe. E foi por água abaixo o seu plano de casar na igreja, ter um filho. Mas Rosilvânia era mulher de fé, chorou por uns tempos e logo tratou de cuidar de si. O aniversário de trinta anos ela comemorou só com Deus e com a mãe. Matriculou-se numa academia, fez aulas de jazz, também curso de culinária. Viu sua irmã ser mãe, pegou a sobrinha no colo. A menina parecia uma bonequinha, muito linda! Leda e Rosilvânia, quando crianças, diziam que quando crescessem iriam ser mães ao mesmo tempo. Só que não se concretizou o sonho para Rosilvânia! Mas ela não desanimou, confiava que Deus iria realizar o sonho da maternidade. Rosilvânia passeava toda feliz com a sobrinha, que titia coruja! Pra onde ia levava a pequena Jordana, a ponto de todos pensarem que se tratava de mãe e filha. No dia do aniversário de três anos da menina, Rosilvânia se arrumou toda. O seu irmão Celso foi quem alugou o salão para a festa. Os pais da menina ficaram responsáveis pelo buffet. A festa foi um verdadeiro acontecimento, parecia festa de artista. Foi na festa que Rosilvânia conheceu Miguel, um jovem dez anos mais novo que ela. Ele era universitário, amigo de seu outro irmão de criação, o Leonel. Miguel também era calmo, era uma pessoa de coração bondoso, era também tímido ( só não tanto como Rosilvânia! )

Ambos começaram a conversar, e já rolou um clima. Miguel era de outro estado, não sabia até quando iria permanecer na cidade. Estava concluindo o curso de Comunicação Social. Tudo aparentemente estava caminhando pra que a vida sentimental de Rosilvânia deslanchasse.

Só que o "porém " era a família do rapaz que não o deixava viver a vida, pais controladores. Rosilvânia e Miguel tiveram que vencer muitas lutas pra fazer prevalecer o amor, o amor que os uniu. A mãe de Miguel não viu com bons olhos o fato de Rosilvânia ser mais velha que o filho. Ficou preocupada de o filho se perder. Na verdade não era isso, a verdade era que ela tinha a consciência pesada de ter abandonado o filho quando este era adolescente, e achava que essa atitude do filho de sair de casa pra morar com uma mulher mais velha era em retaliação ao que ele sofreu.

O pai de Miguel era mais tranquilo, apoiava as decisões do filho. E quando na família existe o diálogo, tudo fica mais fácil de ser resolvido. Cada um tem que entender o lado do outro. Miguel entendia sua mãe, viu que ela tinha se arrependido do que fez e agora queria vê-lo bem! Miguel rompeu o cordão umbilical dos pais e foi viver sua vida. Rosilvânia e Miguel se entendiam bem, a diferença de idade não era empecilho. Entendiam-se bem no dia a dia e também na cama!

O que era incompreensível era o fato de ainda não terem sido pais. Ambos oravam, pediam a Deus um filho, faziam votos no altar de Deus. Miguel queria tanto ser pai. Rosilvânia e Miguel amavam crianças, já tinham adotado a sobrinha, a pequena Jordana, como filha. A garotinha se orgulhava em dizer que tinha dois pais de verdade e mais dois pais ( tios) de coração. A garotinha cresceu, passaram-se vinte anos! Nada do sonho se realizar! Rosilvânia já apresentava os sinais físicos da velhice, mas o seu rosto ainda era de menina por causa da juventude do brilho da fé. Miguel já estava descrente, passava diversas vezes por sua cabeça que seus pais iriam morrer sem ver o netinho. Inverno, dias nebulosos, dias cinzentos de chuva. A vida seguia na mesmice. Mas o sol da fé ainda ardia no coração de Rosilvânia. Deus fala para ambos num sonho que eles serão pais. Deus falou que Rosilvânia daria à luz no dia do seu aniversário de sessenta anos. E foi dito e feito!

E o aniversário de sessenta anos de Rosilvânia foi comemorado na maternidade.

Feliz Dia das Mães também para toda mulher que tem o sonho de ser mãe e acredita, tem fé e jamais deixa de confiar nas promessas de Deus!

( Autor: Poeta Alexsandre Soares de Lima )

Poeta Alexsandre Soares
Enviado por Poeta Alexsandre Soares em 05/05/2021
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