Apenas uma história

Da sala dava ouvir duas gargalhadas contagiantes. John amava ouvir o som da risada de Luiza, era assim que ele sabia que continuava sendo amado e era assim que ela se sentia amada.

Ela estava sentada no sofá lendo Clarice Lispector, com aquela colcha cheia de mandalas sob suas pernas, colcha essa que ele detestava, mas ela havia ganhado de sua avó, então fazia parte agora da decoração. As plantas sempre atrás, penduradas ou descansando nas prateleiras, fazendo fotossíntese, pertinho da janela. O sol da manhã entrava irradiando tudo. Ele chega por traz do sofá e lhe da um beijo muito carinhoso no pescoço, ela sorri contente e o puxa para mais perto, ele diz algo como: "Minha princesa, sabe que preciso sair, não me puxa assim, um dia sabe que vou acabar ficando aqui contigo!", ela faz um pouco de manha, mas acaba cedendo e o deixa trabalhar.

Luiza gostava muito de passar um tempo com sua família, tinha tantos irmãos, que sempre tinha alguém para ver. Seus dias eram ocupados, com livros de psicologia, ansiedades para a formatura, cuidados com as plantas e muitas conversas longas, em mesas cheias de comida com sua família. Em mais um desses dias comuns, um amigo de seu irmão, que há muito não via, estava ali. Os dois se cumprimentaram como sempre e a vida assim seguiu.

Continuou encontrando ele, por acidente em outras ocasiões e sempre se sentia tão confortavelmente certa de seu lugar no mundo, quando estava perto dele. Um dia, em uma visita rápida a casa de seu irmão, o viu cuidando de seu filho, brincando e se divertindo. Sentiu algo inexplicavelmente conhecido. Nunca pensou que sentia algo por ele, afinal, os dois eram comprometidos.

Luiza estava deitada ouvindo o álbum "Dois" de Legião Urbana, as lágrimas escorreram durante "Tempo perdido", uma música que sempre a fez achar que realmente tinha todo o tempo do mundo, pela primeira vez sentiu que estava se enganando. Secou as lágrimas quando ouviu o barulho de uma das portas se abrindo, John estava pronto para ir trabalhar, mas a casa estava em silêncio agora, ele substituiu as doces gargalhadas de Luiza, que eram provocadas por John. os beijos carinhosos foram substituídos por um leve encostar de lábios, rápido e frio, e uma saída sem demoras ou puxões para um abraço. A colcha de mandalas já não compunha mais aquele cenário.

Luiza está em seu lugar favorito no mundo, sentada em um banco, com tantas folhas caídas no chão, que faziam o dia ter cores entre verde claro e amarelo desbotado, o sol aquecia suas mãos que estavam geladas pelo vento cortante. lembrava agora de tudo que aconteceu, desde o inicio do amor, até sua transformação.

A história de amor de Luiza e John já foi contada tantas vezes em textos por aqui. Essa não é a história deles.

John está na Igreja, sentado em um banco, com um ar muito nostálgico agora, lembranças de um amor antigo, pairam sobre sua cabeça, a mulher feliz ao seu lado pergunta se está tudo bem, enquanto segura sua mão, ele acena com a cabeça e lhe dá um beijo carinhoso nos lábios. Uma música suave toca ao fundo, Luiza de braços dados com seu pai, caminha pelo tapete vermelho, carregando rosas da mesma cor, usando um vestido simples e lindo, -"assim como ela"- Pensou John, com uma lágrima de felicidade e nostalgia, escorrendo pelo seu rosto.

Todos estão olhando para ela, com expressões muito alegres, cheios de expectativas, ela consegue notar apenas uma pessoa, o homem que está no altar lhe esperando. Ele retribui esse olhar, com uma paixão que parece existir de outras vidas. Ela ao chegar no altar, fala baixinho no ouvido do quase marido "Obrigada por ter, um dia, conhecido meu irmão! Agradeço aos céus, por te ter na minha vida!

Luiza Bruun
Enviado por Luiza Bruun em 06/07/2021
Código do texto: T7293961
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