O que é o amor?

Estou sentada na porta de casa. Gosto de fazer isso no fim do dia, me ajuda a relaxar e refletir sobre o que se passou. Tudo é silencio e sou só eu e mais eu na rua quieta, com um caderno e uma lapiseira na mão, meu celular, um fone e somente isso. Quase posso sentir o silencio e todo o seu poder tocando pela rua como se fosse música. Talvez seja música, só não paramos para apreciar.

-Filha! Vem jantar!- minha mãe grita, quebrando o silencio entre mim e o mundo. Eu entro, vou até a cozinha para me servir e me sento na mesa. Ela começa a tentar puxar assunto. Primeiro fala sobre seu dia, coisas triviais como: hoje o chefe trocou o almoço dele e eu fiquei completamente perdida e; sabia que a criança da Marina nasceu? Não que eu não me importasse com as coisas que ela falava, era só que eu queria ficar sozinha...- como foi seu dia?- ela realmente parecia querer saber e eu ficava um pouco chateada por não ter uma vida igual a dela, que interessasse a ela do mesmo jeito que interessava a mim.

-Normal- eu era alguém de poucas palavras, pensava muito, mas falava pouco. A única coisa que tinha orgulho de mim era dos meus textos, ela amava eles, mesmo não entendendo o que significavam. Ela me olha curiosa, como se pedisse por mais- tá bom. Eu tive aula de filosofia hoje e o professor ensinou sobre o amor e pediu para que escrevêssemos um texto sobre o que pensamos a respeito do amor.

-Você vai se dar muito bem nessa- o resto do jantar foi exatamente como eu queria e esperava, em silencio, o belo e poderoso silencio. Quando acabamos de jantar, me arrumo para ir deitar e me recosto em minha cama. Começo a pensar: o que é o amor para mim? Eu já amei alguma coisa na vida? Isso poderia ser definido realmente como amor? Ou, o amor é só mais um mecanismo do meu organismo? Minha cabeça me inunda de pensamentos e eu começo a gritar em silencio, sempre em silencio. Pego meu celular e meu fone e faço o que sei fazer de melhor: escutar música. Começo a balbuciar baixinho a letra: nothing comes close... to the way there I need you, I wish I could feel... your skin...and I want you, from somewhere within...

Quando chega no refrão e estou escutando pela décima vez a mesma música, eu adormeço.

-O que é o amor? O que é o amor? O que é o amor?- ouço alguém perguntando para mim. Eu estou sentada numa sala e essa pessoa está girando e girando e girando pela sala como se estivesse se divertindo- o que é o amor? Vamos, Alicia, só você pode me responder, o que é?

-Onde eu estou? Quem é você e por que está me perguntando isso?

-Aqui é um lugar em qualquer lugar do mundo e eu sou só mais um alguém. Você não me reconhece, Alicia? Sou a personificação dos seus sonhos mais distantes. Um alguém que não existe, mas existe. Uma contradição por si só. Já que você é uma contradição por si só, eu sou você. Só que melhor, é claro- diz ele rindo. Esse sou eu? Penso. Como eu poderia ser assim? Ele está finalmente de frente para mim, tem olhos escuros, um cabelo encaracolado longo e um sorriso de escárnio que estava começando a me irritar- vamos, me diga, o que é o amor?

-Como eu posso saber?

-Me diga logo, não esconda coisas de mim.

-EU NÃO SEI. ME DEIXA SAIR DAQUI

-Só preciso que me diga, Alicia.

-Eu já disse que não sei nada sobre o amor, ok? No mundo que eu vivo, tudo é tão falsificado que até o nada parece amor. Quer dizer, eu tenho sentimentos pelas pessoas, isso não é falsificado... mas pode ser chamado de amor?

Acordo pela manhã com somente uma questão na minha mente: o que foi aquilo?

Debora B Ribeiro
Enviado por Debora B Ribeiro em 14/01/2022
Código do texto: T7429406
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