TALVEZ EU NÃO VÁ PARA O CÉU

Fui presenteada com o cara mais bonito da rua. O nome dele era Jesus, mas de santo não tinha nada. Mas eu gostei dele do mesmo jeito, desde a primeira vez que pus meus olhos naquele corpo gostoso. Durante o flerte, toda vez que o cara se aproximava, minhas amigas berravam para todo mundo ouvir (inclusive o próprio):

- Tatiana, Jesus está chegando!

Nada mais clichê. Mas pior que deu certo. Jesus achava engraçado, começou a prestar atenção em mim e quando me dei conta estávamos ficando. Sim, me tornei a ficante do Jesus.

Atraí admiração e inveja. Da minha parte, fiquei entusiasmada e perplexa. Nunca imaginei que Jesus fosse dar bola pra mim. Em contrapartida, entreguei meu corpinho para Jesus usufruir como bem ele quisesse. Eu merecia depois de uns dois anos na seca, na merda total.

Salve Jesus.

A questão é que eu nunca tinha namorado um cara bonito. Eu só pegava os feinhos (que tinham o seu valor, é claro) e outros tipos exóticos. De repente. Jesus surgiu em minha vida e eu me vi sem saber como fazer para aquele relacionamento dar certo. Quanta insegurança, Jesus (Cristo).

Antigas ficantes e namoradas (eram muitas) não demoraram a mostrar toda a inveja e desdém. Mandei a todas se foderem. Agora Jesus era meu. Eu fazia de tudo para agradar meu salvador. Comprei um e-book com muitas dicas para fazer sexo gostoso. Aprendi a fazer acrobacias sexuais, tipo transar pendurada no lustre, de pé em cima da rede, algemada e de olhos vendados. Era uma loucura. Descobri que as trepadas com meus ex nada mais eram que um entra e sai desgovernado.

Jesus era louco por sexo e fodia muito bem. Ah, o pica das galáxias master.

Todas as noites eu agradecia a Jesus (o Cristo) pela incrível sorte que eu tinha tido. Quando dei conta eu já havia me tornado a namorada dele. Éramos um casal oficial. Jesus viera ao mundo para me salvar do tédio, das frustrações amorosas e de uma vidinha sem graça. Tempos felizes aqueles.

Tão felizes que passaram rápido demais da conta.

Meu namoro com ele durou exatos um ano e dois meses. Foi quando descobri que Jesus tinha outro relacionamento com meu primo, o Jurandir. A quem, carinhosamente, comecei a chamar de Judas. De orgulho ferido, coração em frangalhos e com a família em polvorosa, dei uma surra no Jesus e uma voadora no Jurandir.

Talvez eu não vá pro céu.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 18/05/2022
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