Casada?

O sol se punha longe pela vista da janela, a moça encarava fixamente seu próprio reflexo no espelho.

As pessoas ao seu redor, alinhavam sua vestimenta, penteavam o longo cabelo negro, tiravam partes da joalheria que a fazia se sentir tão pesada.

Ela ainda se sentia perdida quanto a língua que elas falavam ao seu redor, os poucos meses em que se dedicou a aprender a língua daquele povo, não foram o suficiente para ela conseguir entender conversas ao seu redor.

Seu rosto parecia tão vazio.

Seus lábios pareciam secos.

O cabelo começava a ser alinhado ao redor do seu rosto. Uma das amas toca seu rosto que um dia já foi tão rosado, os olhos das duas se encontram no espelho.

-Pele branca é tão bela. -A mulher desconhecida, nessa terra desconhecida murmura para ela. Os seus olhos vazios seguem inexpressivos.

Mas nesse momento ela lembra, em como corava rindo no jardim do casarão onde cresceu, pensa então que, entre a beleza do branco marfim e o calor harmônico do rosa suave.

Ela elegeria o rosa suave.

A liberdade de correr no jardim de casa.

A possiblidade de poder vê-la uma última vez.

Sua amada.

As mãos brancas vão inconscientemente em direção aos seus próprios lábios.

A lembrança e apenas ela. Do toque suave daqueles lábios macios, o cheiro do longo cabelo castanho quando deitavam juntas entre as flores.

-Seu marido está esperando a senhora! -A mulher a trouxe ao presente. Ela levantou os olhos para encarar os seus próprios no espelho.

Uma lágrima solitária, uma única.

Desceu lentamente pelo seu rosto.

Não era a dor de perder seu lar.

A liberdade que era dona de todo o seu ser.

Mas a lancinantemente verdade.

Alguém tocaria seus lábios e eles deixariam de refletir o sabor cítrico dos lábios dela depois de comerem laranjas em uma tarde de primavera.

A lágrima então, tocou sua boca em uma lentidão dolorosa.

E assim, a lembrança dela foi capaz.

De apenas, umedecer seus lábios.

Ayla Stankovsky
Enviado por Ayla Stankovsky em 26/06/2022
Código do texto: T7546566
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