Tu
Já tirei as velhas cartas de amor da geladeira.
Recolhi o lápis, peguei os óculos e sentei a observar os cantigos dos grilos ao fundo.
Comecei a escrever sobre a pinta que você tem no canto direito do rosto,
Mas achei que ela não merecia tanto destaque.
Então olhei para sua boca.
Ela me faz querer comer maçãs.
O que me faz querer sentir o gosto do proibido.
A mente divaga pela lembrança do corpo nu que está ao meu lado.
Eu, sentada em meio a rabiscos de memórias fúteis de uma noite passada,
Mas é como se seu cheiro pudesse curar o que eu nunca soube que tinha.
O mundo se dissolve, mas você não percebe que carrega a gravidade em si. Algo que me puxa e ao mesmo tempo me solta.
Então volto a escrever sobre sua pinta do lado direito do rosto
Ela é tão pequena que parece um universo inteiro. Como posso me perder nesse unico ponto?
E volto a escrever sobre as velhas cartas de amor que tirei da geladeira.
Tentando decifrar o que preciso dizer mas cada palavra só complica o enigma
Tentando entender como o infinito passam coisas despercebidas
Mas eu só consigo pensar naquela pinta, a pinta do lado direito do rosto.