Um conto de Natal brasileiro

Era uma tarde cinzenta em São Paulo, a metrópole onde o concreto e o asfalto desenhavam o horizonte, entre os prédios arranha-céus, casas e variadas construções, e o Natal se aproximava com suas luzes piscando entre o caos das praças, árvores, lares e edifícios. No bairro periférico Higienópolis, onde morava, Pedro, um menino de dez anos, observava as decorações nas vitrines do centro pela televisão da vizinha. Seus olhos brilhavam ao ver o Papai Noel sorridente, rodeado por presentes e crianças alegres. Mas, no fundo, ele se perguntava: "Será que existe mesmo o Papai Noel de verdade?"

Pedro vivia com sua mãe, Dona Rosa, que trabalhava como faxineira em um edifício comercial. A realidade deles era dura e difícil, mas sua mãe fazia o possível para garantir um pouco de alegria durante o tempo do Natal. Ainda assim, a ideia de conhecer o verdadeiro Papai Noel alimentava o imaginário do garoto.

Uma tarde, enquanto explorava os corredores da pequena biblioteca comunitária, Pedro encontrou um livro antigo com a capa desgastada. O título dizia: “A Verdadeira História de Papai Noel”. Curioso, ele o levou para casa e mergulhou na leitura. O livro contava sobre Nicolau de Mira, um bispo da Igreja Católica, que viveu na Ásia Menor (Turquia) há muito tempo, entre o século III e IV depois de Cristo e ficou conhecido por sua generosidade. Ele distribuía presentes para crianças pobres de modo escondido, acreditando que o maior presente era aquele dado com amor e sem espera de recompensa ou reconhecimento, pois se vestia com sua roupa de frio e ia nas casas das pessoas mais pobres da sua região para presentear as crianças. Nicolau fazia isso ao seguir o gesto dos Reis Magos que presentearam Jesus com mirra, ouro e incenso após o nascimento do Filho de Deus, o Messias.

Na história de São Nicolau de Mira, a referência a Mira é o local do seu episcopado onde exerceu, mas que sua origem de nascença é da Grécia. A região de Mira na época se chamava Patara, província do Império Romano, que nos dias atuais, é a região da Turquia. E, Mira, atualmente, é chamada Demre. Também constava no livro que Jesus foi o nome aportuguesado que atribuíram para entender melhor o nome de Ieshuá da língua aramaica e que Maria era o nome aportuguesado do nome hebraico Miriam e José, pai adotivo de Jesus, Yosef, também em hebraico. No hebraico, o nome de Jesus é Yehoshua, mas ficou mais conhecido pelos seus pelo nome de Ieshuá no aramaico.

Nicolau se envolveu em disputas religiosas, quando o Império Romano queria lhe impor a negação da fé em Jesus Cristo e ele se recusou. Depois, internamente, pela própria Igreja Católica, foi questionado no exercício de sua fé até que deu um tapa num herege chamado Ário, o que lhe acarretou em não continuar como líder da Igreja. Apesar de tal penalidade, Nicolau continuou sua missão em fazer o bem aos pobres, às crianças e às pessoas necessitadas.

No livro, também consta que São Nicolau faleceu no dia 6 de dezembro ano de 342 e sepultado no dia 19 de dezembro. Era extremamente devoto ao Menino Jesus, que tanto rezava, orava e colocava em prática a caridade por amor a Jesus, através das crianças pobres, viúvas, estudantes, marinheiros, comerciantes e casais. Também, pregou e pastoreou a cidade de Taumaturgo, na Patara (Turquia). Devido a sua generosidade, por seguir o amor de Jesus, atribuiu a Nicolau vários milagres. Por ter falecido próximo a comemoração do Natal, foi chamado de Pai Natal, e depois Papai Noel, por causa de sua barba longa branca e que carregava uma grande sacola cheio de presentes, dias antes do Natal para presentear crianças carentes.

Após sua morte, sua história foi bastante popularizada e São Nicolau foi beatificado e canonizado Santo pela Igreja Católica e se tornou padroeiro da Rússia, Grécia, Holanda (Amsterdã), Noruega, dos vigilantes da Armênia, dos coroinhas na Itália e da cidade de Beit-Jala próxima a Belém (Palestina/Israel). Dos milagres, o mais famoso foi o dom de ressuscitar crianças, transformar hóstias em pão, providenciar dotes para moças pobres poderem casar e saciar famintos nos rigorosos invernos com pão bento, além de converter hereges com sua paciência e atenção.

Em 1691, na cidade de Guimarães (Portugal), constituiu-se a Ordem de São Nicolau (os monges são chamados de nicolinos) em honra a tudo que ele viveu e representou a seguir o Menino Jesus com todo amor e dedicação. Na sua Oração Apolitikion, assim reza: "A verdade das tuas obras, ó pai e bispo Nicolau, tornou-te regra de fé para o teu rebanho, modelo de doçura e mestre de temperança. Pela tua humildade obtiveste ainda a exaltação e, pela tua pobreza, a riqueza. Roga, pois a Cristo nosso Deus, pela salvação de nossas almas!" Com muito amor no coração, São Nicolau presenteou seu coração a Jesus para amar e presentear as pessoas, principalmente, as crianças, os mais fracos, pobres e necessitados, e colocou em prática a caridade cristã em vida.

Pedro ficou fascinado. "Então o Papai Noel começou como um homem de verdade?" pensou ele. A história de Nicolau não tinha renas nem trenós, mas tinha algo ainda mais especial: a vontade de fazer o bem aos outros. Na época, ele também espalhava a mensagem de que o nascimento de Jesus Cristo era o maior presente que a humanidade havia recebido.

Animado e fascinado com sua descoberta, Pedro foi compartilhar com sua mãe. Dona Rosa sorriu ao ouvir a empolgação do filho e explicou: "O Natal, meu filho, é muito mais do que presentes. É sobre abrir o nosso coração para o amor de Jesus. Ele veio ao mundo para nos transformar, nos ensinar a amar e a cuidar uns dos outros."

Assim, naquela noite paulistana, enquanto as luzes de Natal brilhavam ao longe, Pedro teve uma ideia. Ele decidiu que, mesmo sem presentes caros, poderia ser como Nicolau e espalhar alegria no bairro. No dia seguinte, juntou papéis coloridos descartados e começou a fazer pequenos bilhetes com mensagens de esperança e compaixão. Junto com outros amigos, espalhou os bilhetes pelas casas da comunidade de Higienópolis. Em cada mensagem, ele escrevia: "O maior presente do Natal é o amor!" "Dê de presente o seu amor no coração neste Natal!" "Viva o Natal com muito amor no coração ao fazer o bem para as pessoas que mais precisam de você!"

No dia 24 de dezembro, a vizinhança estava mais unida do que nunca. Dona Rosa preparou um jantar simples, mas cheio de carinho, e convidou algumas famílias para compartilhar, convidando todos para uma grande mesa na calçada e com um convite de luzes escrito: "Venha para o nosso Natal comunitário: vai ser a nossa Noite Feliz". Enquanto isso, as crianças brincavam com Pedro, que agora não sonhava mais apenas em conhecer o Papai Noel verdadeiro, mas em viver o verdadeiro espírito e sentido do Natal.

À meia-noite, Pedro olhou para o céu estrelado e sorriu e sabia que não era preciso um homem de roupa vermelha ou renas voadoras para fazer o Natal ser mágico. O verdadeiro Papai Noel estava no coração de cada pessoa disposta a fazer o bem, assim como Nicolau havia ensinado e testemunhado com sua prática de vida.

E então Pedro sentiu que tinha presenteado o melhor que podia: o seu coração. E, no silêncio da madrugada paulistana, ele sussurrou: "Feliz Natal, Jesus. Ou melhor: feliz nascimento e parabéns, Ieshuá! Obrigado por nos ensinar o que é o verdadeiro amor nas nossas vidas."

Lúcio Rangel Ortiz
Enviado por Lúcio Rangel Ortiz em 22/12/2024
Código do texto: T8224566
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.