Um Amor à Deriva

Paulo era um homem de meia-idade que vivia sozinho em uma mansão imponente nos arredores de São Paulo. Sua rotina era simples e metódica: todas as manhãs, sentava-se na ampla varanda, cercado por colunas de mármore, com um jornal em mãos e uma xícara de café forte ao lado. Apesar do luxo que o cercava, Paulo levava uma vida solitária, um contraste gritante com a juventude agitada de seu único filho, Leandro.

Leandro cresceu cercado por privilégios, mas nunca se apegou às comodidades oferecidas pelo pai. Ele era um aventureiro nato, apaixonado pelo mar e pela liberdade que as águas lhe proporcionavam. Seu barco, atracado em uma marina discreta, era seu verdadeiro lar. Vivia entre viagens e noites regadas a conversas e risos em bares, onde sempre encontrava moças solitárias. Embora muitas passassem por sua vida, nenhuma ficava. Ele não buscava compromissos e, de certa forma, parecia satisfeito com sua rotina descomprometida.

Tudo mudou em uma noite, quando Leandro estava em um restaurante sofisticado no centro de São Paulo. Entre risos abafados e taças de vinho, ele notou uma jovem que destoava do restante do salão. Renatha, seu nome, estava sozinha em uma mesa próxima à janela, observando o movimento da cidade com um misto de curiosidade e introspecção. Algo nela o cativou imediatamente — talvez fosse o brilho nos olhos ou a postura elegante, mas com uma pitada de timidez.

Leandro tentou se aproximar, mas, antes que pudesse falar com ela, Renatha deixou o restaurante. Ele seguiu-a discretamente até o hotel onde ela estava hospedada e, ao chegar à recepção, tentou obter mais informações.

— Aquela moça que acabou de entrar... De onde ela veio? — perguntou ao recepcionista, Fábio, tentando soar casual.

— Desculpe, senhor, mas não posso dar informações sobre nossos hóspedes — respondeu Fábio, de forma profissional.

Leandro suspirou, frustrado, mas não desistiu. Voltou ao barco, pensativo, decidido a encontrá-la novamente. O destino parecia sorrir para ele quando, no dia seguinte, avistou Renatha caminhando pela marina, admirando os barcos ancorados. Ele não hesitou e se aproximou.

— Interessada em barcos? — perguntou com um sorriso confiante.

— Talvez... você leva turistas para passeios? — respondeu ela, surpresa com a abordagem.

Leandro não pensou duas vezes. Ofereceu-lhe um passeio pelo mar, e Renatha aceitou. Durante aquela tarde ensolarada, entre o som das ondas e a brisa salgada, os dois se conheceram melhor. Renatha contou que era do Rio de Janeiro e estava em São Paulo apenas como turista, buscando escapar da rotina. Leandro, por sua vez, falou de sua vida no mar, das aventuras e do desejo de encontrar algo que realmente o completasse.

A conexão entre eles foi imediata. Enquanto o sol se punha, tingindo o céu de tons alaranjados, Leandro se aproximou e a beijou. Foi um momento intenso, quase cinematográfico, que parecia prometer algo duradouro. Nos dias seguintes, Renatha passou a frequentar o barco diariamente. Juntos, exploraram as águas e compartilharam risos e histórias.

Por uma semana, pareceram viver um romance de filme, intenso e cheio de paixão. Mas Renatha sabia que aquilo era apenas um capítulo passageiro. No final da semana, ela anunciou que voltaria ao Rio.

— Prometo que te ligo assim que chegar — disse ela, com um sorriso que carregava mais melancolia do que esperança.

Leandro, embora relutante, aceitou as palavras dela, acreditando na promessa. Quando Renatha partiu, ele ficou à espera de uma ligação que nunca veio. Os dias se transformaram em semanas, e as semanas, em meses. Ele percebeu que Renatha não voltaria e que suas palavras eram apenas um adeus disfarçado de promessa.

Apesar da desilusão, Leandro nunca se arrependeu do que viveram. Renatha foi como o mar: bela, imprevisível e impossível de ser contida. E, assim como fazia após cada tempestade, Leandro seguiu em frente, voltando ao seu barco, ao mar e à liberdade, levando consigo a lembrança de um amor que, como as ondas, veio e se foi.

Dra. Gabriella Oliveira [2025] _ Todos os direitos autorais reservados

Bella Oliveira
Enviado por Bella Oliveira em 10/01/2025
Código do texto: T8237949
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