Embriaguez

Um homem banhado em calma e meditação.

Quem eu vê assim, pensa, falta um amor? Que nada, bêbado das belezas que o rodeiam. A música O alcança, trazendo com ela as pupilas verdes de Elisa, os lábios entre abertos num sorriso maroto capaz de despertar pecados mortais. Uma embriaguez o invade: vontade de cantar canções antigas, de dançar agarradinho, de recitar poemas ao pé do ouvido, tirando a poeira das rugas que hoje saltam aos olhos de coração. Passa a mão no rosto como a querer dissipar esse fiozinho de tristeza que o remete ao tempo que passou.

A morte é uma fêmea desalmada, tão brasileira e desgraçada que mata os rios, as matas, os animais.

Da varanda vira Elisa entrar no carro, os faróis se perderem entre tantos na avenida movimentada. As luzes coloridas e a Lua alcançam com as mãos. Não lembra muito. Lágrimas o desmontam.

Lucirene Façanha
Enviado por Lucirene Façanha em 03/02/2025
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