CICATRIZES DO TEMPO

Capítulo 1: O Começo da Amizade

Na pequena cidade de Tupã, onde as ruas tranquilas estavam sempre tomadas por uma calmaria que só as cidades do interior sabem oferecer, Pedro e Lucimar começaram a se conhecer. Ambos trabalhavam na mesma loja, um pequeno comércio de artigos diversos que atendia a moradores de toda a cidade e seus arredores. O sol se punha cedo, e a rotina da cidade era simples, mas cheia de histórias.

Lucimar era uma mulher de personalidade forte e prática. Tinha 26 anos e desde jovem aprendeu a lidar com a vida de forma pragmática. Seu olhar intenso e focado dizia mais do que palavras poderiam expressar. Trabalhadora incansável, Lucimar tinha um único objetivo na vida: garantir o seu sustento e o conforto de sua família. Para ela, o dinheiro estava acima de tudo. Era a chave para a liberdade, para a felicidade – ou ao menos para uma vida sem os problemas que ela mesma presenciou na infância.

Seu charme natural não passava despercebido, e Lucimar sabia usar sua beleza e sensualidade. Embora se orgulhasse de ser independente, às vezes se via usando seu corpo para obter aquilo que desejava. Se isso significava vender-se, então que assim fosse. Ela não se sentia envergonhada, pois acreditava que ninguém estava ali para julgá-la, apenas para olhar para seus resultados. A necessidade de dinheiro a impelia a buscar soluções que os outros talvez não compreendessem. Ela carregava consigo o peso de um mundo que exigia muito e dava pouco.

Por outro lado, Pedro, com 45 anos, era a personificação da simplicidade. Ele vinha de uma família humilde, que sempre valorizou a honestidade, a paciência e o trabalho duro. Era um homem calmo, de olhos serenos e um sorriso que parecia estar sempre presente, independentemente das dificuldades. Pedro não tinha grandes ambições. Seu maior desejo era ajudar os outros e cultivar boas relações. A amizade para ele era algo precioso, algo que se cultivava com dedicação e respeito. Ele acreditava que as melhores coisas da vida não podiam ser compradas, mas sim conquistadas por meio de atos genuínos de carinho e generosidade.

Lucimar o via como apenas mais um jovem na loja, um colega de trabalho que ela não precisava, mas que estava ali, sem escolha. No começo, ela não dava muita atenção a Pedro, não conseguia ver mais do que o jovem simples e meio sem graça. Ela tinha suas próprias preocupações e um mundo à parte que não envolvia amizade, mas sim transações e negociações. Ela nunca se cansava de reclamar para sua mãe sobre o rapaz.

“Eu dizia pra minha mãe que odiava aquele Pedro", Lucimar confessava com uma risada irônica. "Ele era tão chato! Sempre se achando tão certinho. Parecia que estava ali só para me irritar. Eu não queria nada com ele.”

Mas para Pedro, a história era bem diferente. Ao contrário de Lucimar, que demorou a perceber a amizade que estava florescendo ao seu redor, Pedro sempre a viu com carinho. Para ele, Lucimar era mais do que uma simples colega de trabalho. Ela era uma amiga que poderia fazer até os dias mais difíceis parecerem leves, com seu sorriso irreverente e suas piadas. Embora não soubesse de tudo o que se passava na vida de Lucimar, Pedro se dedicava a ouvi-la e a compreendê-la da maneira que ele sabia, com empatia e gentileza. Não havia nada de pesado em sua relação com ela, nada que o fizesse pensar que era um fardo. Pelo contrário, ele sentia que era muito mais fácil ser amigo dela do que de qualquer outra pessoa que conhecia.

O que começou como simples conversas durante o expediente de trabalho logo se transformou em algo mais. As risadas diárias se tornaram rotina, e os dois, mesmo com mundos completamente diferentes, começaram a se entender em um nível profundo. Lucimar falava de seus relacionamentos e das situações que enfrentava, e Pedro ouvia, sempre tentando oferecer conselhos, mesmo que fossem simples e diretos. Para ele, o verdadeiro valor da amizade era o apoio sincero e descomplicado, sem segundas intenções.

“Pedro, você é muito mais legal do que eu imaginava”, Lucimar dizia, entre risadas, durante uma dessas conversas que duravam horas após o expediente. “Eu não te suportava no começo, sabia? Achava você tão sem graça, tão sério demais, tão... chatinho.”

Pedro ria junto, sem nenhuma animosidade. "Eu sei, Lucimar. Você me disse várias vezes. Mas, sabe, eu também não te suportava muito no começo não." Ele brincava, tentando descontrair o clima, mas seu olhar era sincero. "Eu achava você tão... distante, tão impenetrável. Mas aí comecei a perceber que por trás dessa fachada, tem uma pessoa incrível."

Lucimar ficou pensativa por um momento, mais suave do que o habitual. Ela não sabia bem o que pensava de Pedro naquele instante. Ele a fazia refletir sobre coisas que ela tentava evitar pensar. Havia algo nele que a fazia questionar os valores que ela tinha cultivado durante tantos anos. Mas ao mesmo tempo, ela se sentia confortável com ele, algo que raramente acontecia com alguém.

Conforme o tempo passou, os dois se tornaram uma dupla inseparável. Todos ao redor percebiam a conexão crescente entre eles. Os colegas de trabalho começaram a se divertir com a maneira como Lucimar e Pedro interagiam. Eles se provocavam de forma amigável, faziam piadas, e o ambiente de trabalho nunca mais foi o mesmo depois que os dois passaram a compartilhar tantos momentos. A amizade deles se espalhou pelo ar como um perfume doce, tocando todos ao seu redor.

Embora Pedro nunca tivesse imaginado que sua amizade com Lucimar se tornaria algo tão importante para ele, o tempo lhe mostrou que nem sempre os laços mais fortes surgem de onde esperamos. Ele, que se considerava alguém simples e sem grandes ambições, começou a perceber que a amizade com Lucimar era, de fato, um presente que ele não sabia que estava aguardando.

O tempo passou, e o que antes era uma relação de antipatia e indiferença, tornou-se um laço de amizade sincera e companheirismo. Mas o que Pedro ainda não sabia era que o caminho deles, embora cheio de risos e brincadeiras, estava prestes a se tornar mais complexo do que ele imaginava.

Capítulo 2: Crescendo Juntos

O tempo passava rapidamente em Tupã, e o vínculo entre Pedro e Lucimar se fortalecia a cada dia. Eles compartilhavam risos, histórias e confidências que davam a sensação de que, mesmo sendo tão diferentes, eles conseguiam entender um ao outro de maneira profunda. Pedro, com sua natureza tranquila e observadora, se tornou um confidente indispensável para Lucimar, e ela, com sua personalidade forte e suas experiências turbulentas, oferecia-lhe um tipo de sabedoria que ele nunca imaginou que encontraria.

Lucimar, com sua visão prática da vida, sempre teve uma abordagem pragmática para seus relacionamentos. Para ela, o amor era algo que se resolvia com atitude, com as coisas do dia a dia, e muitas vezes se via atraída por homens que não a valorizavam da maneira que ela gostaria. Isso acontecia com frequência em seus relacionamentos. Ela nunca se apaixonou verdadeiramente, ou pelo menos nunca deixou que seus sentimentos tomassem conta de sua vida. O que importava para Lucimar era que, com suas aventuras e encontros casuais, ela encontrava algo que preenchia um vazio em seu coração, algo temporário, mas suficiente para aliviar o peso que ela carregava.

Mas havia algo em sua vida, algo muito mais significativo do que qualquer homem ou relacionamento passageiro. Quando Lucimar descobriu que estava grávida, o mundo ao seu redor foi virado de cabeça para baixo. Era uma notícia que a pegou de surpresa, algo que ela jamais esperaria de uma de suas aventuras. Mas, apesar da confusão e do medo, uma nova sensação tomou conta de seu coração: o amor incondicional de uma mãe. O que ela considerava ser um erro, um acaso de sua vida, transformou-se em uma bênção que ela não sabia que precisava.

“Pedro”, ela dizia com os olhos marejados, “você sabe, não é fácil para mim falar sobre isso. Eu nunca fui a mãe ideal, nem quero ser, mas meu filho... meu filho é a única coisa que me faz sentir algo real no meu coração. Ele veio de uma das minhas aventuras, sim, mas quando ele nasceu, algo em mim mudou para sempre.”

Pedro a olhava atentamente, com um olhar compreensivo, como sempre. Ele sabia que Lucimar não se abria facilmente, mas ele a tinha visto mudar. Seus olhos, antes vazios e distraídos, agora brilhavam com um amor imenso quando ela falava sobre o filho. Ela o amava de uma maneira pura, algo que Lucimar não havia conhecido até então.

“Eu sei, Lucimar. Eu percebo como ele mudou sua vida”, Pedro respondia, com a voz suave. “E sei que, por mais que tenha sido difícil para você, ele se tornou o centro do seu mundo, não é?”

Lucimar assentiu, com os olhos agora fixos no vazio, como se sua mente estivesse em outro lugar. Ela nunca falava sobre o pai do filho, mas Pedro sabia que ele nunca esteve presente, ou se esteve, foi de maneira irrelevante. Para Lucimar, o amor não dependia de figuras masculinas. Ela nunca esperou algo romântico ou profundo. Mas, seu filho... ele era sua razão de viver, sua verdadeira paixão. A presença do pequeno em sua vida, mesmo com todas as dificuldades, tinha um poder transformador. Quando ela segurava o filho nos braços, tudo parecia fazer sentido. Os erros do passado, as aventuras vazias e os momentos de solidão pareciam desaparecer, como se o universo tivesse dado a ela uma chance de recomeçar.

"Eu olho para o meu filho e vejo um futuro diferente para ele", Lucimar continuava, agora mais vulnerável, “Eu prometi para mim mesma que faria tudo o que estivesse ao meu alcance para garantir que ele tivesse uma vida melhor, que ele nunca sentisse o peso da minha escolha. Ele é a razão pela qual eu deixo de lado todas as minhas fantasias e minhas ilusões. Ele é meu maior amor e meu maior medo, Pedro."

Pedro sentiu uma mistura de compaixão e tristeza. Ele sabia que Lucimar carregava o peso de um passado difícil e de escolhas que talvez não se encaixassem naquilo que a sociedade esperava dela. Ela, que tanto almejava estabilidade financeira e prazer superficial, agora se via diante de um amor tão puro, tão profundo, que a fazia questionar todas as suas crenças e suas escolhas de vida.

O que Pedro não sabia era que, enquanto Lucimar falava sobre seu filho com uma intensidade que ele nunca havia visto, algo estava mudando dentro dela. A amizade deles, que antes parecia inquebrantável, agora começava a esmorecer. Lucimar sentia uma confusão crescente em seu coração. Por mais que amasse Pedro como um amigo, algo dentro dela, algo silencioso e insistente, estava começando a tomar forma.

A Confusão Interior

O que antes era uma amizade simples, sem segundas intenções, agora estava sendo invadido por pensamentos conflitantes. Lucimar não queria sentir nada mais por Pedro do que amizade, mas a maneira como ele a olhava, como ele a tratava, começou a despertar sentimentos que ela não estava preparada para lidar. Ela sentia um carinho profundo por ele, algo mais intenso do que qualquer outra amizade que tivesse experimentado antes. Mas ela também sabia que não podia deixar que isso interferisse em sua relação com o filho, em sua busca por estabilidade e segurança.

Ela sabia que Pedro era diferente de todos os homens com quem se relacionou até então. Ele não se aproximava dela por interesse físico, não a via como um objeto. Ele a via como uma pessoa, com sentimentos, com falhas, com dores. Ele a compreendia de uma maneira que ela não estava acostumada, e isso a fazia se sentir vulnerável de uma forma que ela não sabia como lidar.

Mas, em algum lugar dentro de si, Lucimar sabia que Pedro estava se tornando mais do que apenas um amigo. Ela tentava afastar esses pensamentos, mas eles se intensificavam a cada conversa, a cada olhar. O que ela temia estava acontecendo: o que antes parecia ser uma amizade inocente, agora estava se transformando em algo mais, algo que ela não sabia controlar.

A Distância Crescente

As conversas de Lucimar começaram a se tornar mais raras, e sua presença, que antes era constante, começou a se afastar. Ela passava mais tempo em casa, com seu filho, tentando organizar sua vida de uma maneira que a fizesse sentir que estava no controle novamente. Pedro, por sua vez, não entendia o que estava acontecendo. Ele sabia que Lucimar estava passando por mudanças, mas não sabia o que se passava dentro dela. Ele sentia que algo estava errado, que ela estava começando a se afastar dele, mas não conseguia compreender os motivos.

“Lucimar, o que aconteceu?” Pedro perguntou em uma tarde silenciosa. “Você está diferente. Eu sei que algo está acontecendo, mas não sei como te ajudar se você não me contar.”

Ela o olhou com um sorriso triste, mas não respondeu. Era como se um muro invisível tivesse se erguido entre os dois. Algo tinha mudado, e Lucimar não sabia como voltar atrás.

Ela olhou para Pedro, e por um momento, seus olhos brilharam com a intensidade da dor e do conflito que sentia. Mas então, ela virou o rosto e, sem palavras, se afastou.

O que antes era amizade, agora estava sendo consumido pela incerteza e pela distância. As palavras de Lucimar, antes doces e abertas, estavam se tornando amargas, difíceis de serem ditas. O que estava acontecendo entre eles? O que estava por trás daquelas palavras não ditas? Pedro não sabia, mas uma coisa ele tinha certeza: o tempo, que antes parecia dar respostas, agora parecia ser o maior mistério de todos.

Capítulo 2: Crescendo Juntos

À medida que os meses passavam, a amizade entre Pedro e Lucimar parecia se consolidar. Aquele vínculo, inicialmente modesto e simples, estava se tornando algo mais forte e mais profundo. Em um cenário tranquilo, como o da cidade de Tupã, onde todos se conheciam, a relação deles se destacava pela autenticidade e pela maneira como cada um de nós podia ver uma genuína troca de confidências.

Mas havia algo dentro de Lucimar que não se via refletido apenas em sua amizade com Pedro. Ela, que sempre teve a vida marcada por relações superficiais, por aventuras que se seguiam uma após a outra, agora começava a ver seu filho, fruto de uma dessas relações passageiras, como a principal razão de sua existência. Ela tinha um filho pequeno, de três anos, e sua vida já não girava mais em torno de aventuras ou namoros rápidos. Agora, seu mundo estava moldado ao redor dele.

O pequeno, com os olhos brilhantes e sorriso sincero, era sua maior razão para seguir em frente. Lucimar olhava para ele com um amor intenso, quase desesperado, como se estivesse tentando dar tudo o que não teve em sua infância. Ela era muito consciente de que o dinheiro, o status e as conquistas não significavam nada se não tivesse alguém para compartilhar a vida de forma verdadeira. O filho era tudo para ela. E ainda assim, em sua mente, ela sentia uma dor crescente, uma sensação de que ela não estava sendo capaz de proporcionar ao garoto a vida que ele merecia, pois o peso de sua história, os erros cometidos e as escolhas ruins que fizera, sempre estariam ali, como sombras que não a deixavam em paz.

A Revelação de Lucimar

Pedro era a única pessoa com quem ela se sentia confortável o suficiente para falar abertamente. Sem filtros, sem medos. Ele sempre teve uma maneira especial de ouvi-la, sem julgamentos, sem pressa de oferecer soluções. Em muitas noites, depois de um longo dia de trabalho, eles se sentavam no banco da praça central da cidade ou, em dias mais silenciosos, em sua casa modesta. Ali, Lucimar falava de seu filho com uma paixão que Pedro nunca imaginou que ela tivesse.

“Pedro, você sabia que quando meu filho nasceu, eu realmente não tinha ideia de como seria ser mãe? Eu tinha medo, muito medo.” Ela dizia, os olhos marejados, mas com um brilho inconfundível. “Ele nasceu em meio a uma confusão, no meio de uma das minhas aventuras que eu preferia não contar. Aquele momento foi um choque pra mim, sabe? Mas quando eu o segurei pela primeira vez, tudo o que eu senti foi amor. Um amor que não sabia que existia dentro de mim. Ele me fez querer mudar, me fez querer ser mais... mais do que eu era.”

Pedro a ouvia com atenção, seu coração apertado pela sinceridade nas palavras dela. Ele sabia que Lucimar carregava uma história que muitas vezes ela escondia, mas o que ele não sabia era como ela realmente se sentia a respeito da maternidade.

“Eu nunca pensei que alguém como eu, com a vida que eu levei, teria um filho, Pedro. Eu sempre vivi para mim mesma. Mas ele me fez entender que há algo maior do que qualquer aventura, qualquer erro que eu tenha cometido... ele é a minha redenção. Ele me fez mudar, e eu ainda estou tentando entender como, mas eu sei que não posso falhar com ele. Ele é tudo o que eu tenho.”

Pedro e a Incerteza

Pedro, que sempre a via com tanto carinho, não sabia o que dizer. Ele sentia uma grande admiração por Lucimar, mas também via a dor em seus olhos, a luta interna que ela escondia por trás de sua fachada. E, enquanto ela se abria sobre seus sentimentos por seu filho, algo dentro dele começou a mudar também. A amizade que ele pensava ser puramente platônica, agora parecia carregada de emoções que ele não sabia como lidar. Ele estava começando a perceber que Lucimar não era apenas uma amiga. Ela era alguém com quem ele se importava profundamente. Havia algo mais ali, algo que se estendia para além da amizade, mas Pedro não sabia se poderia cruzar essa linha.

“Lucimar, eu... não sei o que dizer”, ele confessou uma vez, depois de uma conversa longa e cheia de sentimentos. “Você é uma pessoa incrível. Eu vejo o quanto se importa com o seu filho, o quanto você mudou. E isso é admirável. Mas... será que você realmente acredita que o que aconteceu no seu passado define quem você é agora? Você tem tanto para dar a ele, Lucimar. E eu estou aqui, como seu amigo, vendo você crescer, e isso... isso é algo que eu nunca imaginei que veria.”

Ela o olhou fixamente, sentindo o peso das palavras de Pedro. Havia algo nas palavras dele que tocava um ponto sensível, algo que ela tentava ignorar. O medo de ser julgada, o medo de falhar como mãe, tudo isso estava pesando em seu coração. E, por um momento, ela olhou para Pedro e se deu conta de que ele talvez fosse o único que realmente a compreendia.

A Mudança na Relação

À medida que as conversas deles se tornavam mais íntimas e profundas, Lucimar começou a se afastar. Não fisicamente, mas emocionalmente. As conversas começaram a se tornar mais curtas, menos espontâneas. Ela estava começando a lutar contra algo dentro de si, algo que ela não queria enfrentar. A amizade deles, que sempre fora leve e sem compromisso, estava se tornando algo mais carregado. Os sentimentos de Lucimar estavam começando a transbordar de uma maneira que ela não sabia como controlar.

Ela percebeu que não conseguia mais olhar para Pedro como um simples amigo. Havia algo em seu olhar, na maneira como ele a tratava, que despertava nela uma necessidade de algo mais. E isso a assustava.

"Pedro, eu não posso... eu não posso te ver dessa maneira", ela dizia com o olhar desviado. “Eu preciso de um amigo, só um amigo. Meu filho é tudo para mim agora. Eu não posso me perder em algo que não posso controlar. Eu tenho medo de me perder, entende?”

Pedro, que estava começando a entender o que estava acontecendo, ficou em silêncio. Ele a observava, tentando processar a luta interna que ela estava enfrentando. Mas ele sabia que Lucimar precisava encontrar sua própria paz. Ele não poderia forçar nada, mas ao mesmo tempo, não conseguia negar o que sentia por ela.

“Eu entendo, Lucimar. Eu entendo mais do que você imagina. Só... não se afaste de mim. Eu sou seu amigo, e estarei aqui, não importa o que aconteça.”

O Conflito e a Distância

Lucimar, naquele momento, sabia que algo dentro dela estava mudando para sempre. A amizade com Pedro, que antes parecia ser uma rocha firme, agora estava se tornando um terreno incerto. Ela precisava de espaço para refletir, para entender o que estava acontecendo com seus sentimentos. O amor que ela sentia pelo filho era inquestionável, mas o amor que estava nascendo por Pedro... esse amor a confundia. Ela não sabia se estava pronta para lidar com isso. Talvez nunca estivesse.

A amizade deles, que parecia imbatível, agora estava à beira de se transformar em algo que Lucimar não sabia como controlar. A dor de suas escolhas passadas, o peso de ser mãe e a confusão de seus sentimentos por Pedro estavam criando um abismo entre eles. Ela sabia que, de alguma forma, precisava afastar-se para encontrar a resposta para o que se passava dentro de seu coração.

Mas, mesmo na distância, algo continuava a ligar os dois. Algo que nem mesmo Lucimar conseguia compreender. A amizade, o amor, a luta interna – tudo isso se entrelaçava de uma maneira que os tornava mais próximos, mesmo quando estavam mais distantes.

apítulo 4: O Último Ato

A noite que parecia ser o fim de tudo havia chegado com uma intensidade insuportável. A cidade de Tupã, que sempre fora um lugar tranquilo, agora se via coberta por uma escuridão inquietante. O silêncio da noite foi quebrado por um grito abafado, o tipo de som que não se pode ignorar. Pedro acordou com o coração acelerado, a sensação de pavor a invadir seu corpo como uma corrente elétrica. Ele não sabia o que estava acontecendo, mas sentia que algo estava profundamente errado.

Quando Pedro correu até a janela de seu quarto, o que ele viu o fez parar, seu corpo congelado de pavor. As chamas iluminavam o céu como uma visão de pesadelo, tornando o ambiente quase irreconhecível. O calor parecia vir até ele, e o medo tomou conta de seus pensamentos. A primeira coisa que ele pensou foi que se tratava de algum acidente, mas logo soube, no fundo de seu ser, que não era algo simples. Não poderia ser. Ele sabia, em sua alma, que essa cena tinha um significado mais profundo, algo que tinha a ver com ele.

Sem perder tempo, Pedro correu para fora, seus pés pesando como se o destino o estivesse empurrando em direção a um futuro irreparável. Ele não sabia o que esperar, mas sentia que o pior estava por vir. Quando chegou ao centro da cidade, a visão que encontrou lhe arrancou o fôlego. Uma fogueira gigantesca, o fogo tão alto que parecia querer engolir o céu. E no meio daquela fogueira, estava Lucimar.

Ela estava lá, queimando, sua pele e roupas sendo consumidas pelas chamas. Mas o que mais perturbava Pedro não era a cena em si, era o grito de Lucimar, um grito que parecia ecoar diretamente em sua alma. A dor dela estava ali, escancarada, e Pedro sentiu seu corpo tremer, seus músculos fracos, incapazes de reagir diante daquela visão apocalíptica.

“Por que fizeste isso, Pedro? Sempre te tratei com carinho! E você me negou, me afastou, me abandonou! Foi isso que você fez comigo!”

As palavras dela ecoavam no ar, cortando a noite com uma precisão cruel. Pedro sentiu o peso de cada palavra como se fossem lâminas afiadas, atingindo-o diretamente no coração. Ele não sabia como reagir. Ele queria correr até ela, tentar salvar a mulher que havia sido sua amiga, mas seus pés estavam fixos no chão. Ele não conseguia se mover, não conseguia sequer gritar.

Lucimar estava ali, com o corpo consumido pelas chamas, mas o que mais ardia nela era o fogo do ódio. As palavras dela não eram apenas um grito de dor, mas uma acusação direta. Ela estava se consumindo por dentro, mas as chamas em seu coração, a dor que ela carregava, estavam ainda mais intensas do que o fogo que a queimava.

“Eu te banhei com álcool e te ateei fogo, Pedro,” ela disse com uma calma perturbadora, suas palavras atravessando o ar como se fossem lâminas de gelo. “Nunca mais vamos ter paz. Estamos queimando juntos neste inferno que você criou dentro de mim.”

Pedro sentiu seu estômago se revirar. Ele estava ali, impotente, assistindo à destruição de uma mulher que ele conhecia, uma mulher que ele nunca imaginou que chegaria a esse ponto. Ele sabia que o fogo que ela queimava não era apenas o fogo da vingança, mas o fogo de um sofrimento profundo. Ela havia sido sua amiga, e agora, aquele mesmo fogo a consumia de dentro para fora.

O Conflito Interior de Pedro

O que Pedro não sabia, o que ele ainda não conseguia entender completamente, era que ele estava sendo consumido também, de dentro para fora. O peso da culpa o esmagava a cada segundo, e ele não conseguia afastar o pensamento de como havia chegado a esse ponto. Como tudo o que havia sido construído entre ele e Lucimar, toda aquela amizade que parecia indestrutível, havia se transformado em algo tão sombrio, em algo tão devastador.

Ele pensou em sua vida, nos momentos de alegria que compartilharam, nas conversas que tinham feito no passado, nas risadas que trocaram. Mas também pensou no que ele havia feito. Como ele havia se afastado de Lucimar quando ela mais precisou dele. Como ele havia, de alguma forma, alimentado o ódio nela ao rejeitá-la, ao abandonar a amizade deles, a confiança que ela havia depositado nele.

Ele pensou no seu pai, no homem que sempre o ensinou a viver de forma honrada, a ser forte, a tomar as decisões certas. Como ele poderia explicar para o seu pai o que havia se tornado? Como ele poderia encarar a vergonha de ser responsável pela dor de Lucimar, pela dor de alguém que ele realmente amava? Seu pai não merecia saber que ele havia falhado tão miseravelmente.

Mas o pior pensamento que o consumia naquele momento era o filho de Lucimar. O pequeno, que ainda era uma criança, com a inocência estampada no rosto e os olhos curiosos, não merecia viver sem a mãe. Ele era a razão pela qual Lucimar tinha alguma esperança. Ele era a única coisa que a mantinha viva, que a fazia seguir em frente.

O Peso da Escolha

Pedro se ajoelhou, seu corpo tremendo, seus olhos fixos em Lucimar. Ela estava ali, queimando, e ele sentia que não podia simplesmente se afastar, que não podia apenas virar as costas para aquilo. Mas ele também sabia que não podia permitir que o ódio consumisse mais uma vida. Não podia ser o responsável pela morte de Lucimar, não podia ser o responsável por destruir o futuro de um menino inocente.

A batalha que se travava dentro dele era insuportável. Ele pensou em como tudo poderia ter sido diferente. Se ele tivesse feito escolhas diferentes, se tivesse sido mais atento, mais compreensivo. Mas agora, naquele momento de dor e destruição, ele estava cercado por uma sensação de impotência que parecia esmagá-lo.

“Lucimar...” Ele conseguiu sussurrar, sua voz fraca, quase inaudível. Mas ela o ouviu. Seus olhos, antes cheios de ódio, se suavizaram por um instante, e ela o olhou, como se questionasse sua presença.

“Pedro... não adianta mais,” ela murmurou, sua voz rouca pela dor. “Já não há mais salvação para nós. Estamos queimando... juntos.”

As palavras de Lucimar eram um veneno que corroía tudo ao seu redor. Ela acreditava que já não havia mais redenção, que o ódio havia tomado conta deles para sempre. E, naquele momento, Pedro também sentia isso. Sentia que o que restava entre eles era apenas destruição.

O Último Desejo

Mas, no fundo, Pedro sabia que ele ainda poderia fazer algo. Ele ainda poderia tentar salvar o que restava, por mais improvável que fosse. Ele olhou para Lucimar, o sofrimento estampado em seu rosto, e fez uma promessa silenciosa a si mesmo. Ele não deixaria aquele fogo destruir tudo. Ele não deixaria o ódio ser o fim.

Mas o que Pedro não sabia, o que ele ainda não conseguia compreender, era que a luta deles estava apenas começando. Mesmo que ele quisesse extinguir aquele fogo, mesmo que ele desejasse, no fundo de sua alma, evitar que mais dor fosse causada, ele sabia que o preço que ele teria que pagar seria alto demais.

E assim, ele permaneceu ali, diante de Lucimar, sentindo a dor, o peso da culpa, e ao mesmo tempo, a esperança distante de que, de alguma forma, o destino ainda pudesse ser alterado. Mas as chamas continuavam a crescer, e ele sabia que, em algum momento, ele teria que tomar uma decisão.

Enquanto o fogo consumia Lucimar, consumia a si mesmo, e consumia tudo ao seu redor, Pedro fez um último esforço para tentar entender o que havia se perdido. Ele não sabia se ainda havia tempo para reverter tudo, mas sabia que, se algo pudesse ser feito, ele faria. Porque, no fundo, ainda havia uma chance.

A chance de redimir-se. A chance de mudar o destino. Mesmo que fosse tarde demais.

Capítulo 5: O Que Restou

A noite em que tudo parecia ter chegado ao seu fim era marcada por uma escuridão densa, uma sensação de que não havia mais luz, nem esperança. Mas Pedro sabia que dentro de si ainda restava uma pergunta, algo que o consumia enquanto ele observava a fumaça das chamas que engoliam Lucimar. Era uma dúvida que nunca poderia ser respondida, mas que o corroía profundamente: o que realmente existia entre eles?

Lucimar, que um dia havia sido sua amiga, sua confidente, agora era uma estranha em seus olhos, uma mulher consumida pela dor e pelo ódio. Seus olhos, antes vibrantes de energia, estavam vazios, refletindo o mesmo fogo que as chamas que a cercavam. O que ela havia se tornado era o reflexo do que ele havia causado. Pedro sentia que a culpa que carregava em seu peito era uma sombra indesejável, uma dor constante que ele não sabia como afastar. A fogueira ainda queimava em seu peito, uma chama que o consumia como uma peste silenciosa, que se espalhava sem que ele pudesse fazer nada para impedir.

O Vazio Entre Eles

Após o grito final de Lucimar, depois que tudo parecia ter se consumido no fogo, Pedro ficou ali, olhando para a cena diante de si, como se estivesse tentando encontrar uma explicação para o que havia acontecido. Ele não sabia o que era real e o que era ilusão. A mente dele estava sobrecarregada, e a linha entre o que havia acontecido e o que ele ainda desejava acreditar estava turva e distorcida.

Ele tentava entender se tudo o que tinha vivido com Lucimar, toda a amizade, toda a conexão, havia sido verdadeira ou se ela fora apenas uma criação de sua própria mente. E a dor que ele sentia não era apenas pelo fogo que ela havia lançado sobre ele, mas pela certeza de que algo essencial havia sido perdido entre os dois, algo que ele não conseguia sequer nomear.

Enquanto o vazio tomava conta de seu coração, Pedro se viu completamente imerso nas incertezas da vida. Ele não sabia como isso começou, nem quando a amizade se transformou em algo mais complexo. Ele sabia apenas que Lucimar tinha sido sua amiga, uma pessoa que ele pensava conhecer profundamente, mas a verdade é que ele nunca soubera o que ela realmente sentia, o que ela pensava.

A Última Lembrança

Foi então que, no meio daquele caos, uma última lembrança surgiu na mente de Pedro. Ele se viu de volta ao início, ao tempo em que a amizade deles era simples e descomplicada. Lucimar, com seus olhos brilhantes e seu sorriso confiante, e ele, sempre disposto a escutá-la, a estar ao seu lado. Ele se lembrou das tardes em que eles conversavam sobre tudo, das risadas que compartilhavam, dos momentos em que a vida parecia ser apenas uma jornada de descobertas e alegria. Ele se lembrou dos sonhos, dos planos que fizeram juntos, do futuro que imaginavam.

Mas, e se tudo aquilo fosse apenas um sonho? Uma ilusão criada por suas mentes? Pedro olhou ao seu redor, sentindo uma dor crescente em seu peito. O fogo, a destruição, o ódio que agora existia entre ele e Lucimar, tudo parecia surreal, como se fosse um pesadelo do qual ele não conseguia acordar.

O Despertar

Foi quando Pedro acordou, suando frio, em sua cama. Ele estava completamente desorientado. O que tinha acontecido? O fogo, a dor, o ódio – tudo parecia ter sido uma fantasia. Ele olhou ao redor, atordoado, tentando entender o que era real e o que era sonho. As sombras da noite ainda pairavam sobre ele, mas o ambiente era silencioso e pacífico, muito diferente da loucura que ele tinha vivido em sua mente.

Ele sentiu o cheiro da terra, o frescor da manhã. As chamas e a dor haviam se dissipado, mas o peso da dúvida continuava a lhe apertar o coração. Ele olhou para o teto, tentando encontrar alguma resposta. Será que havia realmente queimado com Lucimar? Será que ela estava ali, em algum lugar, sofrendo as consequências de suas ações? Ou tudo não passara de um pesadelo, um reflexo distorcido da culpa que ele carregava?

Mas uma dúvida persistente não o deixava em paz. E se, de alguma forma, isso fosse mais do que um simples sonho? E se fosse uma realidade paralela, um vislumbre de um futuro que poderia acontecer, um futuro onde os dois se encontrariam novamente? Ele sentiu a presença de Lucimar em seus pensamentos, como uma chama que ainda queimava dentro dele, mesmo que ele não soubesse o que exatamente isso significava.

O Que Realmente Existe Entre Eles?

Ele pensou sobre o que havia restado entre eles. O que realmente existia entre Pedro e Lucimar? Era apenas uma amizade que se desfez em meio à dor e ao ódio? Ou havia algo mais profundo, algo que ainda os ligava, mesmo depois de tudo o que aconteceu? Pedro se via diante de uma encruzilhada, com seu coração partido e sua mente cheia de perguntas sem respostas. Ele sabia que o que aconteceu não poderia ser desfeito, mas ele também não conseguia deixar de pensar que talvez, em algum lugar do mundo, em algum outro tempo, ele e Lucimar pudessem se encontrar novamente.

O Olhar

O que mais incomodava Pedro era o desejo de ver o olhar de Lucimar mais uma vez. Ele se lembrava de seus olhos, aqueles olhos que, no passado, brilharam com sinceridade, com confiança. Agora, no entanto, ele só via a dor, a angústia, o vazio. Mas, mesmo assim, o desejo de encontrar aquele olhar, de ter uma última chance de ver o que restava da amizade deles, continuava a consumir sua mente.

E se eles se encontrassem em algum outro lugar, em algum outro tempo? Pedro não sabia. Ele sabia apenas que, de alguma forma, aquele desejo de encontrar Lucimar, de olhar nos seus olhos, era o que restava entre eles. Era o fio tênue que ainda os ligava, mesmo que o mundo ao seu redor estivesse destruído e as chamas já tivessem se apagado.

A Nuvem de Incerteza

Enquanto ele pensava nisso, Pedro sentia que a nuvem de incerteza que havia tomado conta dele não o deixaria em paz tão cedo. Ele sabia que as perguntas que surgiam em sua mente não tinham respostas simples. Talvez ele nunca soubesse o que realmente existia entre ele e Lucimar, talvez as coisas jamais se resolvessem, mas uma coisa ele sabia com certeza: o vazio entre eles não era definitivo.

Pedro ficou ali, olhando para o vazio, o mesmo vazio que ele imaginava existir dentro de Lucimar. Ambos estavam paralisados pelo peso de seus próprios pensamentos, pela dúvida que parecia nunca se dissipar. Mas, mesmo assim, havia uma chama lá dentro, uma chama que dizia que, em algum momento, seus caminhos se cruzariam novamente.

O futuro era uma incerteza, mas a esperança de encontrar Lucimar, de olhar em seus olhos uma última vez, era o que Pedro desejava mais do que qualquer coisa. Ele não sabia se isso seria possível, mas ele sabia que, no fundo, ele jamais poderia desistir de procurar. Eles estavam perdidos, ambos consumidos pela dor e pelo ódio, mas algo mais forte os unia: o desejo de encontrar uma resposta, o desejo de se encontrar de novo.

E assim, com o coração pesado e a mente cheia de dúvidas, Pedro fechou os olhos e se entregou à incerteza. Talvez um dia, em algum outro lugar, em algum outro tempo, ele e Lucimar se encontrassem novamente. E quem sabe, se isso acontecesse, eles poderiam, juntos, encontrar a paz que ambos buscavam.

Capítulo 6: O Tempo Parado

Dois anos se passaram desde aquele incêndio, desde o momento em que Pedro e Lucimar haviam se destruído mutuamente, e ainda assim, tudo parecia tão recente. O tempo, que deveria ter curado feridas, em vez disso, parecia apenas reforçar as cicatrizes que agora marcavam as almas dos dois. Pedro olhava ao redor e sentia como se o mundo tivesse parado. O ódio, o amor, a tristeza, tudo permanecia no mesmo lugar. Nada tinha mudado.

Era como se o universo tivesse congelado no momento em que tudo aconteceu, e agora, duas almas perdidas estavam apenas vagando em um ciclo infinito de lembranças dolorosas. Pedro acordava todas as manhãs com um vazio no peito, o mesmo vazio que sentia todos os dias desde a última vez que viu Lucimar, e o pior de tudo: ele não sabia como seguir em frente. Ele ainda se perguntava todos os dias se aquilo era real, se a dor que sentia não era apenas um reflexo de sua própria culpa, uma culpa que ele não conseguia abandonar.

A Incerteza do Passado

Ele andava pela cidade, e as ruas ainda lhe pareciam as mesmas. As casas, os rostos conhecidos, tudo parecia imutável, mas dentro de si, ele sentia que nada mais era como antes. As lembranças de Lucimar estavam sempre presentes, e tudo o que ele conseguia lembrar era o olhar de dor dela, o fogo que a consumia, e suas palavras carregadas de raiva e tristeza.

Ainda assim, havia algo ali, um eco persistente, algo que Pedro não conseguia afastar. Ele ainda se perguntava se poderia ter feito algo diferente. Se tivesse sido mais forte, se tivesse reconhecido os sinais, se tivesse agido antes, talvez o que aconteceu nunca tivesse acontecido. Mas, como todas as dúvidas, elas não levavam a lugar algum. Ele só sabia que o ódio que os unia ainda estava vivo, mais forte do que nunca.

Lucimar em Sua Mente

Lucimar, por sua vez, também não havia mudado. Ela ainda estava presa a um passado que não conseguia esquecer, e suas lembranças de Pedro eram como fantasmas que a assombravam em cada canto de sua mente. Ela caminhava pela cidade com a mesma indiferença, mas no fundo, seus olhos ainda estavam marcados pela dor. Cada vez que ela passava por algo familiar, como o local onde costumava encontrar Pedro, uma pontada de saudade a atingia, seguida pela raiva que surgia do fundo de seu peito. Mas essa raiva já não era mais algo que a queimava como antes. Era uma raiva controlada, uma raiva que se tornara parte dela, uma chama que se havia transformado em cinzas, mas que nunca deixava de existir.

O tempo, para Lucimar, havia sido um inimigo silencioso. Ela não sabia como lidar com o peso da solidão, mas sabia que precisava carregar isso. A vida seguia, mas tudo parecia vazio. O amor que ela sentia por seu filho era o único consolo, a única coisa que ainda a fazia acreditar que havia algo de bom neste mundo. Mas a dor causada pela traição de Pedro, o homem que ela uma vez considerou como irmão, ainda estava ali, em cada passo que ela dava, em cada respiração que ela tomava.

O Ódio Como Companheiro

Pedro e Lucimar, ambos, continuavam vivendo suas vidas, mas a presença um do outro era um espectro, uma sombra que os seguia. Eles não se encontravam mais, mas, em suas mentes, ainda estavam sempre juntos. O ódio que os consumia havia se tornado uma parte deles, e a cada dia que passava, esse ódio só crescia.

Pedro tentava seguir com sua rotina. O trabalho, as amizades, os dias em que tentava se distrair... tudo isso eram tentativas de afastar a lembrança do que acontecera. Mas, em algum lugar, ele sabia que nunca poderia fugir disso. O fogo que havia incendiado sua amizade com Lucimar nunca se apagaria, e o ódio que ela sentia por ele não diminuiria com o passar do tempo. E isso era algo que ele não sabia como resolver.

As Memórias Não Apagam

Era no silêncio da noite que Pedro sentia a dor com mais intensidade. As memórias, as conversas, os sorrisos de Lucimar, estavam sempre em sua mente, como uma tortura constante. Ele se lembrava de quando ela contava sobre seu filho, a paixão com que falava dele. Ele a via como uma mãe forte, uma mulher que tinha seus próprios demônios, mas que, ao menos, amava incondicionalmente. Pedro ainda sentia uma tristeza profunda por tudo o que acontecera, pela dor que ele causara, pela amizade que havia destruído sem sequer perceber.

Mas, ao mesmo tempo, havia uma parte dele que queria acreditar que poderia encontrar um caminho para recomeçar, para buscar uma solução, para encontrar a Lucimar que ele conhecera antes de tudo aquilo. Talvez, em algum lugar, ainda existisse uma chance de reconstruir o que haviam perdido. Mas, ao mesmo tempo, ele sabia que aquela esperança era em vão. O ódio entre eles era muito grande para ser superado com facilidade.

O Encontro Impossível

Por mais que Pedro tentasse se afastar da dor, havia uma força que o puxava em direção a Lucimar, como um ímã invisível. Ele não sabia o que significava, mas sentia que, de alguma forma, os destinos deles estavam entrelaçados de uma maneira que ele não compreendia completamente. A cada passo que ele dava para seguir em frente, algo o fazia olhar para trás, para o que ficou para trás, para o que ele perdera.

Lucimar, por sua vez, vivia na mesma prisão. Ela sentia a falta de algo, mas não sabia o quê. O ódio ainda queimava em seu peito, mas havia um vazio imenso, uma lacuna deixada pelo que ela perdera. O que restava de Pedro em sua vida parecia ser apenas uma lembrança distante, uma figura que, embora dolorosa, nunca se afastava de sua mente. Ela sabia que ele era parte de sua história, mas o que exatamente isso significava agora, ela não conseguia entender.

O Passado Nunca Morre

O tempo, aparentemente, tinha seguido seu curso, mas para Pedro e Lucimar, ele estava parado. As marcas do que aconteceu continuavam frescas, como se o incêndio nunca tivesse se apagado, como se as feridas não tivessem cicatrizado. Tudo o que restava eram os vestígios do que um dia fora uma amizade verdadeira, agora corrompida e transformada em algo que nenhum dos dois conseguia entender.

O ódio os envolvia, mas o amor também estava presente, embora fosse uma forma distorcida e complexa. Eles eram dois seres quebrados, tentando encontrar algum significado no que restou de suas vidas. O passado, o ódio, a dor – tudo isso os mantinha presos a um ciclo que parecia impossível de romper. E, talvez, era exatamente isso que os unia: o fato de que, independentemente do que acontecesse, as marcas que o outro deixou jamais desapareceriam.

O Fio da Esperança

No entanto, no fundo, Pedro e Lucimar ainda carregavam algo dentro de si: uma chama de esperança. Uma esperança silenciosa, quase imperceptível, mas presente. Talvez fosse um dia, em algum outro momento, que eles se encontrassem novamente, que seus caminhos se cruzassem em algum lugar, em algum tempo. Talvez fosse no olhar um do outro que, finalmente, o peso da culpa, da raiva, do amor e do ódio se dissipasse, e eles pudessem, finalmente, seguir seus próprios caminhos. Mas isso, eles sabiam, era algo que o tempo decidiria. Por enquanto, tudo o que restava eram as lembranças e o desejo de entender o que realmente havia entre eles.

Mas a verdade é que nada estava resolvido. O ódio e o amor continuavam ali, entrelaçados, esperando o momento certo para se desfazerem ou se aprofundarem ainda mais.

Capítulo Final: O Último Abraço

O tempo havia passado, mas as marcas do passado não se apagaram. O ódio e o amor ainda se entrelaçavam nas almas de Pedro e Lucimar, como correntes invisíveis que os prendiam em uma dança complexa e dolorosa. Eles estavam marcados pelas escolhas, pelos erros, pelas palavras não ditas e pelas ações impensadas.

Pedro, agora com o peso dos anos e das memórias, sentia que o ódio não fazia mais sentido. O tempo o havia ensinado que a raiva só o consumia, que a dor não trazia resposta. Ele olhava para a cidade, as mesmas ruas, os mesmos rostos, mas não encontrava mais espaço para o ressentimento. No fundo de sua alma, ainda havia algo que nunca desapareceu: o amor. O amor que ele um dia sentiu por Lucimar, a amizade que os uniu, e que, mesmo dilacerada, nunca deixou de existir.

Lucimar, por outro lado, também chegara ao ponto de reconhecer que o ódio não a levava a lugar algum. Ela vivera por tanto tempo com aquele fogo queimando dentro de si, achando que a raiva fosse a única forma de lidar com a dor. Mas, conforme os anos se passavam, ela percebeu que, na verdade, o ódio a tinha consumido mais do que qualquer outra coisa. O que restava dela era um vazio que nem o ódio poderia preencher.

E, finalmente, o momento chegou.

Era uma tarde qualquer, o sol se pondo lentamente no horizonte, quando Pedro encontrou Lucimar na mesma praça onde, muitos anos antes, haviam compartilhado risadas e segredos. Seus olhares se cruzaram, e naquele instante, tudo que haviam vivido, tudo que haviam sentido, estava ali, entre eles. Não havia mais palavras a serem ditas. O que mais precisavam?

Pedro caminhou até ela, a passos lentos, com o coração pesado, mas com uma sensação de paz que ele não sentia há muito tempo. Lucimar olhou para ele, e por um breve momento, seus olhos brilharam com algo que ela não sentia há anos: compreensão.

"Eu... não sei como chegamos aqui", disse Pedro, a voz baixa, carregada de arrependimento. "Mas sei que não quero mais viver nesse inferno, Lucimar."

Lucimar, com a expressão fria de quem já não se importa mais com nada, respirou fundo. "Eu também não. Mas o que aconteceu entre nós... nunca será esquecido."

O silêncio se fez entre eles, mas não havia mais raiva, nem rancor. Havia dor, sim, mas uma dor que agora parecia ser parte do passado, como uma cicatriz que, apesar de visível, não mais feria. O ódio que os unira durante tanto tempo finalmente começou a se dissolver, dando lugar a algo que nenhum dos dois esperava: uma compreensão mútua. Eles se olharam mais uma vez, e nesse olhar, Pedro e Lucimar entenderam que, mesmo que o amor e o ódio sempre tivessem coexistido entre eles, a presença de um não poderia mais existir sem a outra. Onde havia um, o outro não permaneceria.

Pedro, então, estendeu a mão, um gesto simples, mas carregado de uma vida inteira de arrependimentos e promessas não cumpridas. Lucimar hesitou por um instante, mas depois, com um suspiro profundo, tomou a mão dele.

“Você nunca vai entender o que aconteceu entre nós, Pedro. E talvez eu também não consiga compreender completamente", disse ela, com a voz cheia de dor, mas também de alívio. "Mas sei que, onde houver amor, o ódio não pode sobreviver."

Pedro sorriu, finalmente sentindo que, mesmo que fosse tarde demais, havia algo bom ainda no final da sua história com Lucimar. “Eu sei. Eu sei, Lucimar. O amor tem a força de curar, mas também a de transformar."

Eles ficaram ali, juntos, mas com a certeza de que o caminho deles seguiria por direções diferentes. O amor, embora sempre presente, agora era uma força que os empurrava para novos horizontes. O ódio, que uma vez os uniu, agora se afastava, como uma nuvem dissipada pelo vento.

Lucimar olhou uma última vez para Pedro, e antes de se afastar, disse apenas: “Que um dia, o amor nos encontre de novo, mas sem mais sombras entre nós.”

Pedro, com um olhar triste, mas ao mesmo tempo pacificado, acenou, sentindo que, finalmente, ele havia encontrado a liberdade. O fogo que os consumira tanto tempo atrás agora se extinguia, e com ele, o peso que ambos carregavam.

"Eu espero", foi tudo o que ele respondeu, com a certeza de que o que aconteceu entre eles jamais seria esquecido, mas que, de alguma forma, seria necessário seguir em frente.

E assim, o ódio e o amor seguiram seus próprios caminhos. Onde um estava, o outro não poderia permanecer. E, apesar de tudo, o que restou foi a certeza de que o futuro, talvez, ainda guardasse algo para eles — talvez a reconciliação, talvez a paz, ou até a perda definitiva. Mas uma coisa era certa: onde havia amor, o ódio não permaneceria.

Fim.

CELIO SILVA O POETA DO AMOR
Enviado por CELIO SILVA O POETA DO AMOR em 06/02/2025
Reeditado em 06/02/2025
Código do texto: T8258292
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