1013-EXPEDIÇÃO NO INFERNO VERDE -

O DESAPARECIMENTO DO CORONEL FAWCETT -

1O.CAPÍTULO

EXPEDIÇÃO NO INFERNO VERDE

Para o legendário explorador inglês Coronel Perry Fawcett os insetos — mosquitos, pernilongos, mosca, borrachudos e outras espécies inoportunas — representavam mais dificuldade e aborrecimento do que os perigos que enfrentava nas suas inúmeras explorações na selva amazônica.

Fawcet se sentia melhor caminhando pelas trilhas das florestas do que em qualquer outro lugar. Não havia um mínimo de conforto, e as caminhadas eram exaustivas, mesmo quando feitas em lombos de burros. Pelas trilhas enfrentavam o calor úmido, as chuvas constantes, o solo nada firme, por vezes de lama escorregadia, por vezes pedregoso e esburacado, a ameaça constante dos animais selvagens e os insetos. Ah! Os insetos eram um incômodo constante, pois havia de todas as espécies: os que apareciam de manhã, os que atacavam ao meio dia, os do entardecer, e os que enfezavam a vida dos exploradores durante toda a noite, não respeitando os rústicos e frágeis mosqueteiros armado para evitá-los.

Os rios infestados de jacarés e piranhas, sucuris gigantescas capazes de engolir um homem. Porcos selvagens costumavam surgir aos bandos, e por onde passavam, a morte era certa e a devastação, geral.

E a presença dos índios das muitas tribos, ainda selvagens, que não gostavam dos brancos em suas terras, havendo até mesmo antropófagos. Fawcett ouvira falar dos Kuiu-Kuos, selvagens ferozes, e dos Kalapaios ou Kalapagos, sobre os quais se dizia serem antropófagos.

Os exploradores e missionários que se atreviam a caminhar pelos domínios dos índios, não os viam senão quando atacados mas sentiam a sua presença, olhos vigilantes e cheios de ódio durante todo o tempo.

Era o “Inferno Verde”, nome dado a mais vasta região de mata continua do planeta, onde, à época desta aventura de Fawcet, o homem branco havia penetrado apenas pelas bordas ou às margens dos caudalosos rios, afluentes do rio-mar Amazonas. (1)

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Estacionado por alguns dias no local que Fawcett e seus companheiros chamavam de Acampamento do Cavalo Morto, ele escreveu uma carta à esposa, na Inglaterra, cuja ênfase era dada antes aos bichinhos do que aos demais problemas da sua expedição.

Alguns trechos da carta relatam:

“... A tentativa de escrever (a carta) é feita com muita dificuldade, devido às legiões de insetos voadores que nos importuna desde o alvorecer até o anoitecer, e muitas vezes durante toda a noite. Os piores são os miudinhos, menores do que uma cabeça de alfinete, quase invisíveis, mas que ferroam como os mosquitos grandes. Aparecem o tempo todo em verdadeiras nuvens. Milhões de abelhas aumentam o flagelo, acompanhadas também por pequenos besouros. O horror das ferroadas nas mãos é de enlouquecer.

"Os chapéus com finas redes protetoras não nos protegem, pois são atravessadas pelos mosquitos que chegam como se fossem nuvens.”

Em outro parágrafo, conta:

“... Eu já fui picado por carrapatos, e por piuns, como são chamados os mosquitinhos, não só no rosto, mas também por todo o corpo.”

E no último trecho da carta, repete:

“... As noites são muito frias e as manhãs são frescas. O calor aumenta após o meio dia, trazendo consigo as legiões de insetos que nos atormentam até as seis da tarde, transformando nosso campo de descanso em um lugar miserável para se permanecer.”

Os insetos de asas, carrapatos e besouros não impediram o intrépido explorador prosseguir na sua expedição, que seria a última de sua vida.

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(1) Inferno Verde = expressão usada pela primeira vez por Alberto Rangel em seu livro “Inferno Verde” em 1908.

A Seguir: conto 1014 – O Mapa do Tesouro

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 26.05.2017.

Conto # 1013 da Série 1.OOO HISTÓRIAS PLUS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 06/07/2017
Reeditado em 06/07/2017
Código do texto: T6047471
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