1015-TRÊS HOMENS INDÔMITOS... OU MALUCOS?

O DESAPARECIMENTO DO CORONEL FAWCETT

3º. Capitulo - TRÊS HOMENS INDÔMITOS — OU MALUCOS?

O tempo estava bom: seco e ensolarado, durante o dia. Fresco à noite, apesar das nuvens de mosquitos, pernilongos que os atormentavam. Era ocasião do estio, e as águas dos rios estavam baixas, proporcionando travessias não muito difíceis. A expedição constava de três brancos – Fawcett, Jack e Ralleigh, com a perna machucada. Três mulas de sela, quatro mulas de carga e a mula “madrinha”, que ia à frente, com sininho no pescoço guiando as demais mulas. E três índios que ajudavam no acampamento, e os guiavam pelos caminhos virgens de pés humanos.

A primeira fase da expedição fora tranqüila, tanto quanto possa ser tranqüila uma expedição com um homem machucado, gemendo o tempo todo, e os guias índios medrosos por estarem entrando em terreno de tribos selvagens e comedores de gente.

Demoraram alguns dias no local que estivera anteriormente e pela perda de uma montaria, fora nomeado como “Acampamento do Cavalo Morto”. Situava-se aproximadamente a 600 quilômetros ao norte de Cuiabá.

Fawcett estava ansioso por prosseguir. A expedição fora financiada pela North American Newspaper Alliance, dos Estados Unidos, que comprava, assim, os direitos de publicar a história da aventura. Sua meta era: saindo de Cuiabá; ir em direção nordeste, até encontrar o Rio Araguaia; atravessar o Rio, subir mais. Ir mais para nordeste, e à altura do meridiano dez ao sul do Equador, virar totalmente para o leste, até a cidade de Juazeiro, na Bahia, e de lá, no rumo sudeste, chegar a Salvador. Uma jornada de aproximadamente quase dois mil quilômetros.

Fawcett era como todo aventureiro: acreditava em lendas e em mapas sem precisão, com referências quiméricas. Ouvira dos índios uma incrível história, segundo a qual “haveria um largo rio ao lado do qual estão as ruínas de uma cidade muito grande. Outras ruínas estariam também às margens de um lago. No fundo do tal lago de águas puríssimas, esta a figura de um homem escavada em rocha branca (cristal)”.

No caminho para estas estranhas ruínas, diziam os índios, havia ainda uma torre alta, do topo da qual brilhavam luzes para manter longe os viajantes que por ali transitavam. Essas lendas em nada contribuíam para animar os guias.

E Fawcett aliava estas histórias ao tesouro dos Cruzados, pois sabia que uma das naus de Pedro Álvares Cabral estaria carregando uma fabulosa riqueza para o Mundo Novo: essa nau, justamente essa, se perdeu e Cabral nada fez para procurar o navio de sua frota. Ele, como depositário do tesouro — ou do que restava dele — dos Cruzados, havia planejado tudo a fim de tirar a riqueza da Europa.

Cada vez mais com a idéia fixa em tesouros, ele pensava:

Talvez essas histórias tenham a ver com a nau desaparecida. Provavelmente o navio aportou às costas do Brasil ou embrenhou pelo Rio Amazonas e o tesouro tenha sido escondido nas selvas.

Fawcett tomou então uma decisão arriscadíssima: resolveu seguir sem os guias, que, dali para frente iriam atrasar a caminhada. Mandou-os de volta a Cuiabá, com as montarias para serem vendidas e o dinheiro distribuído entre eles.

Dali em diante seguiriam os três homens, com sacos nas costas com barracas, equipamentos, roupas e presentes miúdos para os índios; e embornais de provisões — praticamente, farinha e carne seca — dependurados nos ombros. Fawcett e seu filho Jack portavam dois revólveres, facões e facas de caça. Raleigh além de um revólver e um facão, tinha uma lança, que servia de apoio pois ainda estava mancando, devido à perna cuja ferida já apresentava melhoras.

Qualquer escritor das mais ousadas aventuras de exploradores jamais pensaria numa loucura como esta: três brancos em terras de selvagens, a pé, sem guias e com armas de pouco ou nenhum efeito contra feras ouu índios hostís que poderiam lhes aparecer pela frente.

Pois foi assim que Fawcett entrou no Inferno Verde, à procura de cidades de ouro e tesouros lendários, de caminhos inexistentes e ao encontro de seu destino.

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Continua: A seguir : CONTO # 1016- O ÍNDIO INVISÍVEL

ANTONIO ROQUE GOBBO

BELO HORIZONTE – 28 DE MAIO DE 2017.

Conto # 1015 da Série 1.OOO HISTÓRIAS PLUS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 06/07/2017
Reeditado em 07/07/2017
Código do texto: T6047547
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