PICOTADOR DE PASSAGEM

Morais Vicente de Paula, seu Morais como era conhecido na parangaba, homem calmo, Alto, sempre bem vestido, era viúvo fazia tempo, de la pra cá continuava donzela, comentava a vizinhança, ele sabia da promessa que vez para dona Albertina no leito de morte, que jamais a esqueceria, sempre guardando seu amor, por vezes tentou ignorar tal promessa mais sempre continuava sem se envolver com mulheres, depois veio a idade e contribuiu para mante-la viva. Hoje seria a última vez que ele faria uma viagem no trem pois estava compusoriamente se aposentando, comentava os amigos que teriam de colocá-lo para fora do trem com um rodo, mesmo assim, como um sapo, voltaria. Ele estava fazendo setenta anos, conhecia cada dormente daquela estrada de ferro, cada curva, cada casa, cada árvore. Era uma lenda viva, tinha ajudado na construção da ferrovia com quinze anos, primeiro tomando conta dos animais, burros, cavalos e jumentos, depois quando completou dezoito anos o Coronel Francisco Ivo o convidou para trabalhar na construção da estrada de ferro, no trecho que ia dar na estação Daniel Queiroz, no município de Quixadá. No princípio começou levando dormentes com os burros para o local da sua fixação, depois trabalhou segurando a vareta para medição do topógrafo, até a colocação dos trilhos. Depois quando a estrada tava para terminar no Crato, ele arranjou com o Coronel um emprego na REFESA, onde passou pelo posto de vigia de estação, para vendedor de passagem até chegar no cargo que hoje ocupava, o de condutor do trem, onde ele passou a maior parte de sua vida.foram anos e anos de viagens, milhares de quilômetros, muitas histórias para contar, só não tinha pra quem conta-las, pois não tinha quase amigos, embora todos na rede ferroviário o admiracem e gostassem do seu jeito calado, além do fato dele sempre estar emprestando dinheiro, mesmo com juros, mais todos gostavam dele pelo fato de ter dinheiro para arranjar para os mais necessitados. Naquela viagem, seu terno estava passado com coma, chega brilhava, seu chapéu escovado, seu sapatos engraxados, seu cinto limpo, e seu instrumento de trabalho fora polido a gosto, o picotador de passagens.

PICOTADOR DE PASSAGEM

Fred Coelho
Enviado por Fred Coelho em 21/09/2017
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