Inferno na Torre - Parte III - Resgates, Medos e Uma Cilada Mortal

Chegamos a torre do observatório e descobrimos que o local é grande o suficiente para enfrentarmos perigos inimagináveis, armadilhas ocultas e – quem sabe – obtermos algum tipo de tesouro.

A torre era fortemente protegida por magia arcana e mesmo com os esforços combinados de Myrymia e Corinna, essa proteção não seria removida tão facilmente.

Ao menos, Alexander foi solícito o bastante para responder a indagação das duas sobre esta proteção mágica.

Nesse meio tempo, Albert tentou mais uma vez jogar seu charme para Ivana que novamente não deu bola pra ele.

Com Cassandra rindo dele pelo seu “fracasso” amoroso, Albert resolveu então cuidar dos cavalos e testar suas ferraduras em um deles.

Enquanto isso, eu resolvi verificar as estantes da biblioteca do observatório para ver se naqueles livros havia informações a respeito deste lugar bem como descobrir mais a respeito daqueles estranhos desenhos no diário de Alexander, mas tudo o que consegui foi uma estante destruída e os livros carcomidos pelas traças e pela umidade do local.

Um dos cavalos estava agitado demais por causa da violenta tempestade e Albert, depois de colocar as ferraduras em suas patas, tentou leva-lo até a entrada da torre, mas tropeçou e caiu de cara no barro.

Ele então resolveu montá-lo assim mesmo e levou-o por entre as ruínas da torre na tentativa de acalmá-lo.

Montar um cavalo agitado no meio de uma grande tempestade, sem dúvida, foi uma das ideias mais estúpidas de meu amigo e ele logo sentiu os efeitos de seu erro.

Nesse instante, começou a cair granizo e uma das pedras acertou o ombro de Albert fazendo-o cair de costas e ser arrastado por mais de 20 metros dependurado em um dos estribos.

A chuva apertou ainda mais e Albert estava sozinho e perdido na floresta com o cavalo fugindo assustado por causa de um relâmpago.

Assobiou várias vezes tentando chamar o cavalo, sem sucesso.

- O que mais poderia dar errado? – Perguntava-se Albert, quando sentiu um formigamento em seu braço.

Era um monstro esverdeado que surgiu do nada e o mordeu. O famoso afogador, como era chamado pelos habitantes locais.

Logo seus companheiros sentiram o gosto de sangue e o cercaram prontos para aniquilá-lo.

Foi um erro fatal.

Albert havia começado seu massacre.

* * *

Enquanto isso, Alexander e eu tínhamos amarrado o outro cavalo em uma estante quando ouvimos ao longe um grito de dor.

Myrymia então bolou um plano para resgatarmos Albert. Usando seu conhecimento das florestas, a elfa foi a frente orientando-nos pelo caminho em meio a imensa tempestade que caía.

E tínhamos a esperança de encontra-lo são e salvo em algum ponto da floresta.

* * *

Depois de muito procurar pela floresta, encontramos Albert combatendo ferozmente os afogadores e já matando três deles deixando os outros quatro totalmente moribundos.

Myrymia matou o primeiro com sua magia, Corinna liquidou o segundo com cajadadas e deixou o terceiro “no ponto” para que eu desse o golpe certeiro na cabeça.

Albert liquidou com o quarto afogador partindo-o ao meio com sua espada e um quinto afogador tentou ataca-lo pelas costas só para ser morto com um tiro de besta de Cassandra.

Estávamos furiosos com Albert por sua atitude intempestiva, mas não tínhamos mais forças nem pra brigar e só queríamos sair daquela maldita tempestade antes que alguém do grupo pegasse uma pneumonia.

Assim que chegamos, tiramos nossas roupas molhadas e sentamos ao redor da fogueira que Alexander havia preparado para aquecer-nos.

O problema todo é que por algum motivo desconhecido, Albert ficou alegre demais com as mulheres do grupo chegando até mesmo a tentar jogar seu charme pra cima delas.

Este problema foi resolvido através de bordoadas, cajadadas e com a ameaça de Cassandra de arrancar seu membro com um tiro de besta deixando-o eunuco pelo resto da vida.

Eu sempre soube desde a época de mercenário que essa luxúria dele iria causar muitos problemas.

Mas a equação para ele era esta: Albert + Cavalo = Problema.

Após este evento bizarro, todos nós dormimos um pouco e algum tempo depois, Alexander nos mostrou os andares do observatório que eram três.

Resolvemos então nos separar com Myrymia e eu indo para o terceiro andar, Ivana, Albert e Cassandra no segundo e Alexander e Corinna no primeiro.

Myrymia e eu tivemos sorte e encontramos um baú misterioso. Tentei erguer o baú como na história que ouvi falar sobre um rei britânico que tirou uma espada da pedra para provar que era o verdadeiro monarca e com esse gesto, derrotou todos os outros pretendentes ao trono, mas como na história, eu não consegui tirar o baú com Myrymia erguendo-o com facilidade semelhante aquele rei britânico.

Uma coisa era certa.

Os elfos são mais fortes do que os homens.

* * *

Quando Cassandra abriu o baú, ficamos embasbacados com o que encontramos.

Era uma Power Stone.

Uma pedra capaz de dar poder quase ilimitado a aquele que a possuir. E se encaixava exatamente naquele desenho que encontrei no diário de Alexander.

Apesar do receio que essa pedra caísse em mãos erradas, Cassandra ficou com ela e selou-a fortemente em sua bolsa.

Então uma escada secreta foi revelada e todos se perguntavam o que nos aguardava lá embaixo.

A escada era espiralada e estávamos descendo mais profundamente quando tudo ficou escuro ao nosso redor.

Ficamos sozinhos e isolados uns dos outros enfrentando nossos medos mais profundos e lembranças mais trágicas.

Myrymia com seu triste passado, Cassandra com o medo de ser linchada pela multidão, Albert com seu medo de fracassar como guerreiro e amante, Corinna com o medo de decepcionar sua deusa Meliteli e eu com a lembrança daquele dia trágico onde vi minha mãe ser assassinada pelos cristãos e sendo menosprezado por eles por ser muçulmano.

Depois de muito sofrimento, repentinamente nos juntamos em uma sala adjacente a escada com Corinna sofrendo alguns sérios ferimentos devido aos golpes que acertei nela durante a ilusão.

Para minha sorte, a sacerdotisa havia usado seus poderes de cura para salvar-se.

Depois de tudo isso, seguimos em frente e encontramos salas e mais salas desta estranha torre. Algumas delas eram de pesquisas e outras serviam de dormitório a julgar pelas camas carcomidas pelos insetos.

No meio do caminho, ouvimos uivos e latidos ao longe. Eram alguns cachorros zumbis que avançavam pra cima de nós loucos para estraçalhar-nos.

Precisava de um movimento perfeito para ataca-los e atraí os cachorros para o corredor esperando o momento certo de atacar.

Matei o primeiro cão com um golpe certeiro na garganta e Corinna matou o segundo com uma bela cajadada no peito.

E Cassandra esquivou-se com maestria pelo terceiro cão e deu uma bela flechada na garganta, fazendo o cão agonizar até a morte.

Chegamos enfim a porta que levava a sala principal da torre. A porta era estranha e sem fechaduras, o que seria inútil usar as capacidades de Cassandra.

Assim que a porta abriu, surgiu um monstro tão pavoroso e com uma força tão grande que nos fez pensar que a luta contra o Horror foi mera brincadeira de criança.

A batalha foi feroz e o monstro só foi vencido graças a outro golpe desferido por Albert.

A cabeça se abriu ao meio e o monstro caiu de todo comprimento.

Foi então que a sala se revelou por completo. Havia imensos baús e uma cadeira com um fosso vazio nas laterais da sala.

No canto esquerdo da sala, havia pilhas de ossos com farrapos cobrindo-os. E isso nos preocupava, pensando que ali jazia os corpos dos pesquisadores mortos há anos ou de aventureiros em busca do tal pergaminho poderoso.

No entanto, Cassandra estava exultante com os baús e Albert teve, digamos, sua recompensa ao lado de Ivana.

Tudo que estava represado entre os dois explodiu em um prazer inenarrável.

Armaduras e roupas se espalhavam pelo chão e o amor aconteceu de forma feroz entre eles, com Albert finalmente sorrindo depois de tantas cantadas frustradas.

Corinna rezou para Meliteli em agradecimento pela missão cumprida, mas Myrymia e eu ainda estávamos desconfiados daquilo tudo.

E essas desconfianças infelizmente tinham fundamento.

Ouvimos uma risada macabra em nossas costas e o grito de horror de Cassandra ao descobrir que ao invés de moedas de ouro, havia dentro dos baús mais ossos humanos.

E a risada era de Alexander. Seu alaúde caiu, seus dentes cresceram caninamente, seus olhos ficaram vermelhos, suas calças rasgaram até a altura do joelho e sua túnica ficando em farrapos.

Ivana, mesmo nua, também se transformou em uma espécie de demônio que paralisou Albert com seu beijo fatal.

Agora descobrimos o que significava tudo aquilo.

Era uma armadilha mortal.

E do pior jeito entendi o significado da palavra morte que Alexander havia escrito em seu diário.

A morte era para nós.

MarioGayer
Enviado por MarioGayer em 22/01/2018
Código do texto: T6233480
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