Antonio de Albuquerque

Cidade encantada

Quando a luz do Sol focou sobre a pedra, a fenda se abriu e eles penetraram numa misteriosa cidade localizada entre planícies e montanhas de grande altitude e baixa temperatura, Cauré contemplou o belo e fascinante lugar, com campos verdejantes, floridos, gigantescos pássaros a sobrevoar a cidade, águias, condores, gaviões, araras gigantes e tantas outras aves desconhecidas voavam sobre os prédios que ornamentavam a misteriosa cidade.

Animais desconhecidos por Cauré corriam pelos os campos verdes, animais que viveram nos oceanos antes mesmo da separação dos continentes, espécimes conhecidos como pré-históricos, que viveram na antiga civilização Atlântida sendo conservados por esse adiantado povo. Os prédios alinhados mostravam uma perfeita simetria, engenharia ultramoderna com paredes de cristal e luz solar. As construções se diferenciavam, porém, mantinham a mesma linha arquitetônica. Dois edifícios se destacavam entre os demais, um era o teatro e o outro um centro cultural, ambos seriam mostrados posteriormente a Cauré.

A energia utilizada era captada do Sol, de forma que à noite, grandes refletores transparentes e soltos no espaço clareavam a cidade parecendo ser o dia na Terra. Lembrava uma cidade cenográfica, mas tudo era natural. Belos homens, mulheres e crianças transitavam pelas ruas com grande alegria vendo a presença de Cauré com naturalidade parecendo que o conheciam. As naves espaciais que cruzavam o céu só eram vistas quando desciam, ao subirem, segundos depois, tornavam-se invisíveis incandescentes e silenciosas.

Tratava-se de um povo avançadíssimo em ciência, tecnologia espiritualidade. Cauré desconhecia tudo o que via, mas dentro de sua memória sentia que aquele lugar não lhe era estranho, provavelmente havia gravado na memória em vidas passadas em civilizações também adiantadas. Cauré foi recebido em um palácio e apresentado por Lou, sua acompanhante aos dirigentes da cidade. Naturalmente Cauré sabia que lidava com seres altamente evoluídos, pois tinham uma boa energia e transmitiam grandes ensinamentos, se expressavam na mesma língua que Cauré. As pessoas do lugar Vestiam-se com roupas leves prateadas e coladas ao corpo, pareciam pessoas comuns. No entanto, tinham os sentidos mais aguçados, e se comunicavam por pensamento e a alimentação básica era água, frutas, legumes e mel silvestre. Eles possuíam um corpo mais perfeito, tendo uma matéria menos densa que a dos habitantes da Terra, e viviam em harmonia entre si e a natureza.

Finalmente Cauré pôde abraçar os pais que não pareciam envelhecidos e estavam ansiosos para voltar a Tutóia e continuar o trabalho de proteção e conservação ambiental que vinham realizando ao longo de gerações. Os pais de Cauré eram habitantes de Tutoia antes de conheceram essa cidade encantada. Nir, pai de Cauré dirigindo-se ao filho disse: Sua mãe e eu acompanhamos sua trajetória de vida ao longo desses anos que estivemos separados. Nossa ausência física foi necessária para que você sozinho passasse por grandes experiências e adquirisse o conhecimento necessário para chegar aonde chegou. Queríamos que você se tornasse um defensor das florestas, conhecesse o valor da água, plantas e animais e descobrisse os segredos da natureza. Aqui junto a esse povo avançado pudemos aperfeiçoar nosso conhecimento e em outro momento viajaremos novamente com eles a outros planetas. Até aqui nos foi dado o direito de conhecer os fenômenos da terra, ensinamentos que de alguma forma vamos transmiti-los a outras pessoas, sempre em benefício da preservação do meio ambiente; O que mais vocês aprenderam junto a esse misterioso povo? Perguntou Cauré.

Viajando com eles a outros lugares no Universo tomamos conhecimento de algumas realidades desse e de outros planetas. Agora sabemos que não estamos sós. Existem outros planetas habitados por seres com as nossas mesmas características, uns mais adiantados que nós, outros que ainda precisam do nosso auxílio para desenvolver-se. A Terra está se transformado num caos, onde os homens estão destruindo os recursos naturais, se os ecossistemas acabarem especialmente a água e os micro-organismos, não haverá condições de existir vida nesse lugar, mas isso não acontecerá, pois estamos trabalhando no sentido de salvar o planeta terra, disse Nir.

Nadina explicou ao filho Cauré: Partindo dessa cidade base, viajamos em naves espaciais em visita a outros planetas do sistema solar, conhecendo outros povos e outros graus de desenvolvimento científico, tecnológico e espiritual, muitas coisas que vimos ainda não podemos revelar, visto que o povo da terra ainda não está preparado para entender. Pelo pensamento povos de planetas mais adiantados emitem ondas positivas para manter o equilíbrio. Nós somos preparados por pessoas evoluídas para auxiliá-los a manter essa harmonia até a terra passar por grandes transformações e seu povo adquirir conhecimento suficiente para poder observar os fenômenos da natureza. Não nos foi permitido permanecer em outros planetas mais desenvolvidos em virtude de não estarmos preparados, material e espiritualmente para tanto, mas em breve poderemos atingir esse grau de evolução.

Lou fez a apresentação de todos que ali estavam, dizendo serem eles cientistas pertencentes a outros planetas que na terra têm a missão de preparar pessoas para o trabalho de preservação ambiental. Quem e como serão essas pessoas, perguntou Cauré. Serão pessoas excepcionalmente bem preparadas, pois a peleja se dará em um teatro de operações onde a contenda será travada com poderosas nações, cegas pelo poder e domínio, porém será um trabalho de conscientização e nunca de confronto. Para nós, as armas e os conflitos são coisas de um passado bem distante, respondeu Lou, a bela jovem.

A luz do dia foi esmaecendo e com a chegada da noite, cascatas de luz em cores envolveram o recinto onde um seleto número de pessoas recebia o convidado Cauré e aguardava um pronunciamento de Lou. Na ampla sala existia um mapa terrestre ocupando o centro do salão. Com desenvoltura Lou explanava sobre as áreas de risco marcadas no mapa. Os lugares em destaque indicavam as queimadas na floresta, mananciais de água poluída, depósitos de armas atômicas, laboratórios de armas bacteriológicas, áreas de degelo nos Polos e oceanos por onde navios e submarinos transportavam ogivas nucleares entre outros perigos que indicavam a situação de risco que envolve a terra e seus habitantes.

Naquela ocasião, Cauré recebia cumprimentos daquele povo especial, que num momento de encantamento lhe desejavam boa sorte por ser ele mais uma criatura unida ao grupo para defender a preservação do planeta. Estava ele vivenciando um momento fascinante de pura realidade ecológica. Parecia não estar na terra e, lembrava que quando criança a mãe falava de um paraíso imaginário, onde tudo era perfeito, um lugar sagrado que abrigava as almas dos que haviam feito à passagem para outra dimensão. Ela denominava aquele lugar de Éden, de céu imaginário, por parecer tudo perfeito.

Depois da cerimônia uma suave música envolveu o espaço, e Lou sentou-se ao lado de Cauré que se sentia embasbacado pela música, pela dança e pela beleza de Lou, e seu perfume. Seus olhos cor de esmeralda se destacavam no corpo, sedoso e macio de perfeitas formas que fez Cauré esquecer por alguns momentos a floresta e seus habitantes. A festa continuava no salão onde centenas de pessoas conversavam, mas Lou só tinha olhos para Cauré, ele era realmente o homem mais belo que ela havia conhecido em toda sua longa existência, para ela, Cauré representava o deus da beleza e lamentava que vivessem em dimensões diferentes.

Em companhia da bela moça, Cauré visitou as dependências da casa onde havia dormido e descobriu coisas que jamais imaginou existir, porém nem fez comparações porque antes nada conhecia sobre outros povos que não fosse o seu. Lou teceu profundas considerações sobre a existência da terra como planeta, adiantando que para vencer a barreira da destruição feita pelo homem, dependia do comportamento dele nos próximos cinquenta anos. Os recursos naturais estão sendo devastados, a água escasseando em muitos países. Lou considerava que pouca coisa ou quase nada o homem estava fazendo para conter a destruição. Por isso a necessidade de salvar a terra para que ela possa completar o penúltimo ciclo e chegar a um grande desenvolvimento científico, tecnológico, espiritual e, consiga se preparar para o recomeço como já aconteceu algumas vezes. Lou adiantou ainda que todos os conhecimentos adquiridos pelo homem em épocas passadas estavam armazenados na memória do povo e era transmitido de acordo com as necessidades do momento e a capacidade de memorização do homem, buscando dentro de si a ciência.

Cauré gravava todas essas informações em sua memória, diante dos lógicos ensinamentos de Lou. Estava cada vez mais consciente do valor da preservação dos recursos naturais da terra e, recordou que aquela luta era milenar e naquele momento ele estava adquirindo também o direito de se lembrar de vidas passadas. Lou o fazia recordar sem traumas vidas anteriores. Então ele percebeu que ela era mais do que uma simples criatura, era sim um mestre em ciência e espiritualidade. Lou pertencia a uma sociedade possuidora da mais alta evolução, um povo consciente, vivendo em comunidades, buscando equilibrar o meio ambiente do planeta, usando poderes adquiridos com o desenvolvimento científico desde um passado distante, quando no planeta existiram civilizações altamente desenvolvidas.

Lou expunha seus pensamentos sobre a natureza e o que poderia ser feito para salvar a terra. Muitas espécies de vegetais e animais desapareceram e outras estão ameaçadas. As causas da extinção são diversas; as mudanças no meio ambiente, dificuldade de reprodução, fome e, sobretudo a ação predadora do homem. Além de lançar na água, no ar e no solo, substâncias tóxicas e contaminadas. Cauré debatia com Lou e cientistas presentes que diversas espécies de plantas foram extintas por descaso das autoridades responsáveis e citou como exemplo a derrubada de florestas para dar lugar à construção de estradas, plantações, pastagens e retirada ilegal de madeira. Os incêndios criminosos são comuns, provocados por pessoas maldosas e cruéis. Outros cientistas concordaram com as colocações de Lou e Cauré afirmou que  algumas  pessoas destroem o meio ambiente por desconhecerem a importância da floresta e não reconhecem a água como fonte da vida, e a influência das plantas no  clima impedindo que os raios solares incidam diretamente sobre o solo, além de tantas outras funções. As florestas tornam a temperatura mais branda, aumentam a umidade por meio da transpiração das plantas, tornam as chuvas mais frequentes, renovam o ar atmosférico durante a fotossíntese, liberam oxigênio retirando o excesso de gás carbônico, diminuem a velocidade do vento e a incidência direta da chuva no solo, reduzindo a erosão.

Concluída a reunião, alguns ficaram refletindo sobre tudo que foi debatido, dava para perceber o constrangimento dos participantes só em pensar no processo de destruição do meio ambiente, reinante na terra nos dias atuais. Cauré sabia que não estaria solitário na luta pela preservação dos mananciais de riquezas naturais existentes no planeta. E, ainda absorto em pensamentos refletindo sobre o que ouvira, lembrou-se de voltar à floresta. Ternamente Lou olhava Cauré lendo seus pensamentos. Sim, querido Cauré, está chegando o momento de sua volta à floresta, nós estaremos sempre juntos, disse ela.
─ Sim Lou, estaremos sempre nos encontrando.























 
Antonio de Albuquerque
Enviado por Antonio de Albuquerque em 04/03/2018
Reeditado em 15/04/2019
Código do texto: T6270808
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