Um dia após o outro

A lua lá fora não mente. É noite e meu peito quente me acorda, me acorda para viver e pular enquanto a essa hora todos dormem. Dormem, mas mesmo assim eu canto, canto como se fosse gregoriano para quem sabe espantar os pesadelos.

No entanto, meus olhos abertos não são as garantias para dizer que venci o sono, por isso me espreguiço e desfaço dos meus laços com a preguiça, para começar uma nova aventura. Ainda no escuro, o meu combustível repousa no prato reforçado de comida, mastigo sedento e entre cada engolida deixo uma nota perdida da minha alegria escapulir da garganta para outra vez anunciar que está dada a partida.

Primeiramente, haveria outra criatura viva além de mim neste recinto? É o que indagam os meus sentidos, mas a principio nada sentem, apenas um vento quente invadindo a sala pela janela e é nessa entrada que acho a minha saída para a tão aguardada liberdade.

Assim, um ato de coragem me toma o corpo e no embalo me lanço como se conquistasse o topo do mundo, por mais que as grades da janela tentem, elas já não são obstáculos e logo escapo para o mundo afora. Agora estou no meu reinado, aqui cada passo em falso pode ser seu último e diante deste aviso, eu já capto que alguém está em perigo bem a minha frente. Bem diante dos meus sentidos, uma presa desperta minha animalidade. Logo eu que nesta noite procurava a paz sobre a benção enluarada, encontro uma vítima azarada que será a oferenda aos meus ancestrais.

A noite é minha, a lua é minha rainha e a fera quietinha são as combinações para uma noite tranquila. Noite que canto e por mais que soe como um pranto aos demais ouvidos, a esta hora da madrugada sou puro romantismo. É por isso que mio sem parar até que meus votos preguiçosos se renovem e o sol volte a brilhar para me alertar que é preciso dormir e sonhar com uma noite de aventuras, enquanto todos acordam.