Ao Sul do Pacífico

Nos despedimos dos tripulantes da Guarda Costeira, que nos haviam transportado em seu cúter, o USCGC "Taney", do Havaí até a ilha Enderbury, e que agora, após uma última parada na vizinha ilha Canton, iriam fazer o longo caminho de volta até Honolulu. Fundeado além da arrebentação, a embarcação era nosso último vínculo com os EUA, e quando levantasse âncora, deixaria a mim e aos meus três companheiros, todos havaianos, como os únicos habitantes daquela ilhota isolada no Pacífico Sul. Não era uma ideia das mais agradáveis, embora todos nós estivéssemos preparados para enfrentar as semanas de isolamento até a chegada do próximo navio com suprimentos.

- A presença de vocês em Enderbury é de extrema importância - nos dissera o comandante da Guarda Costeira quando embarcáramos em Honolulu. - Os Estados Unidos precisam assegurar a posse dessas ilhas desabitadas do Pacífico Sul, para que possamos implantar a rota aérea que vai ligar o Havaí à Nova Zelândia.

Então, afinal de contas, haveria um modo de sair da ilha que não fosse navegando dias a fio até Fiji ou de volta ao Havaí.

- Certamente - nos assegurou o comandante. - A partir de 1939, a PanAm deverá começar a construir uma pista de pouso na ilha. Vocês estarão somente à algumas poucas horas da civilização!

Em tese, isso era verdade. Na prática, a PanAm terminou construindo o aeroporto em Canton, e em 1942, quando os japoneses ameaçavam nossas posições, fomos evacuados de volta ao Havaí. Coincidentemente, pelo mesmo cúter que nos havia levado até ali, quase três anos antes.

- E é seguro navegar por estas águas, com japoneses por todos os lados? - Indagou um dos meus colegas, ressabiado.

- Fique tranquilo, filho - asseverou o comandante. - Este barco sobreviveu à Pearl Harbor.

Muito provavelmente, pelo simples fato de que o "Taney" estava ancorado em Honolulu quando ocorreu o ataque. Mas, de fato, ancoramos naquela cidade sem incidentes, em 5 de março de 1942.

- [21-03-2018]