Lua Nova

Joshua Aaronsohn telefonou-me de Nova Iorque para informar que estava trabalhando numa nova opereta, depois de assistir ao grande sucesso de Romberg e Friml, "A Lua Nova", no Imperial Theatre, Broadway.

- "A Lua Nova"... já é a terceira opereta que eles emplacam em sequência - recordei. - Mas espero que não esteja pensando em roubar-lhes o argumento...

Aaronsohn grunhiu um palavrão, antes de expôr o seu ponto de vista.

- "A Lua Nova" deve ser complicado de produzir... incluindo o coro, pode chegar fácil a 100 pessoas em cena; os cantores têm que ser de primeira linha, e requer uns bons 12 atores. 15 músicos e um regente. Não, pensei em algo menos dispendioso: uma história de amor que se passa durante a Revolta dos Cipaios de 1857, na Índia.

- Isto não me parece exatamente uma ambientação econômica - ponderei.

- Fiz as contas e podemos montar a peça com um elenco de cerca de 40 pessoas, coro incluído - garantiu.

- Parece razoável... e já tem um nome de trabalho?

- "Amavasya". É sânscrito.

- Exótico. E quer dizer exatamente o quê?

- "Lua Nova". Touché!

- Parece uma deferência à opereta dos nossos concorrentes - retorqui.

- Podemos fazer disso uma piada interna... - aduziu ele. - Uma "Lua Nova" econômica, com a qual esperamos faturar muito mais.

- E quando acha que terá um rascunho do libreto?

- Creio que... em janeiro próximo. Assim que passar essa confusão de eleição e as festas de fim de ano.

- Ah, a eleição... quem acha que leva? Hoover ou Smith?

Aaronsohn riu com ironia.

- Hoover, é claro. Ainda não chegou a hora de um católico ser presidente dos Estados Unidos.

- Isso nunca vai acontecer - prognostiquei. - Ah, e nem um judeu, anote!

- Eu não estou me candidatando! - Retrucou Aaronsohn.

- Ainda acho que deveríamos estar produzindo filmes... filmes sonoros - refleti. - É aí que está o futuro; você só tem que pagar os atores uma vez.

Aaronsohn fez silêncio durante alguns instantes. Finalmente, manifestou-se:

- Ou não pagar nada...

- Como assim? Trabalhar com amadores? - Inquiri.

- Não. Desenho animado - explicou ele. - Um sujeito lançou um desenho sonoro, aqui em Nova Iorque, faz alguns dias... "Steamboat Willie". Tem um rato como protagonista, mas o que interessa é que a trilha sonora é perfeitamente sincronizada com a ação. Fiquei impressionado.

- No futuro, quem sabe, poderemos estar trabalhando até com a tal televisão - refleti. - Se 1929 for melhor do que este ano...

- Halevai - respondeu Aaronsohn.

E, sabedor de que eu não falava iídiche, traduziu:

- Oxalá.

- [27-06-2018]