A geladeira e seu bilhete.

O amoroso despertou

E escreveu um bilhetinho que se alegrou e destacou-se entre tantos outros bilhetinhos

Este, feliz saiu pela janela voando

E agarrou-se na mão roliça da criança chorona, que sorriu

O pai arrancou-o do seu amado filho e marejou os olhos ao ver o que tinha escrito

Chegando em casa, colou-o na geladeira, que ao receber este recado derreteu-se o gelo, levando o bilhete ao chão.

E o chão brilhou, como se ali tivesse encerado

O bilhete deslizou e passou por baixo da porta que dá para a rua

E voou

E colou na camisa de um

Na bolsa de outro

No copo de mais outro

E todos tentavam prender o bilhete

Todos queriam usar o bilhete

Para entregar a pessoa amada

E o bilhete se dava

Mas ali não dormia

Ficava apenas o tempo dos olhos nos olhos

E voava

E colava

E ria

E voltava para o seu escritor amoroso

Que te deu vida

A geladeira, jamais imaginaria que o fato de apenas conservar o alimento, seria um motivo para receber tal mensagem... e depois deste dia, nunca mais gelou... hoje, ela vive num ferro-velho, servindo de armário ouvindo músicas melancólicas sobre desamor.

Adriane Neves
Enviado por Adriane Neves em 30/06/2018
Reeditado em 30/06/2018
Código do texto: T6378361
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