Antonio de Albuuerque
 Caçadores de Sonhos II

 
O Sol dourava o infinito céu vermelho qual uma manzorra de fogo, mostrando que tão cedo não choveria naquele inóspito sertão habitado por viageiros do tempo. Pela estrada empoeirada três retirantes com matulões às costas e alpercatas nos pés caminhavam vestindo o manto sagrado do amor, arco-íris da vida. Tinham os olhos regados de sonhos e o coração de amor. Alegres e felizes fugiam do nada em busca do imaginário, talvez o Amazonas fosse o sonho dos retirantes em procissão.
 
Fugindo das incertezas do Nordeste, da morte decretada por Caetano, seu antigo patrão, e após uma longa viagem, por veredas, caminhos, cerrados e estradas, andando a pé ou de carona em caminhões ou barcos, pagando o transporte a troco de trabalho pesado, Chico Labareda, Aparecida e Tição chegaram ao Amazonas que tinham como a terra prometida pelo Criador. O primeiro contato deles com a natureza amazônica foi de esplendor, contemplando a deslumbrante fauna e flora amazônica. Assim, viajaram num barco de linha com destino ao Alto Rio negro, muito além do Pico da Neblina. Queriam encontrar um lugar sossegado onde pudessem morar, trabalhar e ter uma vida digna sem patrão ameaçador. - Aqui vocês podem desembarcar, a esquerda desse rio são terras devolutas que vocês podem habitar, tenham cuidado com animais e índios, alguns nem aculturados são, disse o barqueiro. - Chico Labareda, meu bem, parece que nossa viagem não tem fim, comentou Aparecida.

Por alguns dias caminharam margeando um rio e encontraram um belo lugar para viver, e no pé de uma montanha próximo a um lago construíram um Tapiri para morar, caça e peixe tinha com fartura e seringa para cortar. Começaram a trabalhar esperando chegar um dia para a seringa vender. Nessa região amazônica tudo era diferente do Nordeste e levaram algum tempo para se adaptar à canoa e aos rios para navegar. Passaram-se seis meses que pareciam infindos, até que um dia no rio um barco surgiu para a alegria dos três moradores. Eram pessoas amigáveis que vinham promover negócios, trocando mantimentos e ferramentas de trabalho por látex subproduto da seringa, e a vida deles melhorou. Compraram mantimentos, roupas e material de trabalho.

Um dia, então, receberam uma visita inesperada de nativos. Eram muitos, vindo em paz e para eles se apresentaram. As visitas foram constantes e um dia apresentaram uma bela nativa, umas das filhas do Pajé para de Tição ser mulher, e assim outro Tapiri construíram.

Distante da civilização, tendo contato direto com a natureza e civilizações indígenas, observando sua milenar cultura, Francisco Labareda tornou-se um conhecedor da floresta, dos animais, das plantas medicinais, promovendo uma completa transformação, Se guiando pelo Sol, Lua e estrelas, tendo como guia nas matas sua própria intuição. Aprimorou o conhecimento sobre os nativos, sua cultura milenar, línguas e dialetos e uma forma prática de viver melhor, conheceu as águas o segredo dos rios, cultivando, assim, nova forma de viver e sobreviver com qualidade de vida na selva. Meditando por horas e dias se conectou com a força das florestas e águas desvendando seus mistérios e descobrindo seus segredos, tornou-se, assim, um sábio homem, um referencial onde cientistas com ele vinham em busca de aconselhamento sobre a fauna, flora e civilizações indígenas do Amazonas.

Certo dia chegou ao seu Tapiri um pesquisador acompanhado por outros também cientistas de uma universidade e conversando com Chico Labareda descobriram ser ele um sábio, capaz de transmitir conhecimentos adquiridos na floresta para famosos pesquisadores da Universidade do Amazonas e da Flórida nos Estados Unidos da América. E, assim, um dia estava Chico Labareda palestrando sobre a floresta amazônica na Universidade da Flórida para uma seleta plateia de cientistas que buscavam conhecimento na floresta.

 
Tição e Maria Aparecida num cantinho da plateia,
Ele sorrindo, ela chorando de alegria, admiravam Labareda,
Com maestria, aos doutores ensinava o valor que a floresta tem
Mas, ainda sentindo saudade das noites enluaradas do sertão
Do deleitoso cantar da acauã no alto da aroeira
Trazendo, ainda, com eles o cheiro da roseira
Na varanda da Tapera onde felizes outrora viveram
Antonio de Albuquerque
Enviado por Antonio de Albuquerque em 15/07/2018
Reeditado em 20/03/2019
Código do texto: T6390548
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