DO LIVRO BARRIGA DE ALUGUEL EDITADO EM 2007
TROVADOR DAS ALTEROSAS.



                                  A MINEIRINHA 02


 
     Foi o dia de se lavar roupa suja, sobrou até para dona Deusa por não ter informado ao chefe da casa as safadezas de Marcela. As mulheres mineiras desta geração também não acompanhavam a cabeça da juventude e eram tão ou mais apegadas aos velhos costumes do que o marido, por isto, sua reação foi chorar e lamentar a sua sorte, mas disposta a acatar as decisões do seu amo. Se ficasse contra o marido, seria taxada de conivente com a safadeza da filha por todos os parentes e conhecidos.

     O pai em desatino expulsou de casa a filha. Triste, subiu na boléia do seu caminhão e foi à transportadora onde conseguiu uma carga que o afastaria de cidade pelo menos por um mês. Voltou a casa e deixou dinheiro para as despesas enquanto estivesse fora, deixou também uma boa quantia para que a esposa entregasse a Marcela com recomendações expressas de que ela não deveria nunca mais voltar. No fundo tinha esperança que ela não fosse e acatasse sua decisão, mas não cederia agora, mesmo com os pedidos chorosos de Deusa.

     Marcela, sabendo que o pai partira, retornou à casa da mãe para recolher suas roupas e depois de muito choro saiu. Naquela noite se esbaldou, deu para a molecada toda e acabou dormindo na casa que servia de alojamento aos soldados e durante o resto da noite deu para o cabo Aldir, que era casado, mas não morava na cidade e como era um tipo bonitão Marcela aproveitou para matar a vontade. Desta vez ela não se contentou apenas em ser comida, comeu também como se estivesse vingando-se do pai.

     No outro dia levantou-se cedo e foi à rodoviária onde comprou uma passagem para a capital mineira que só estava nos seus planos como local de passagem, para ela era conveniente que as pessoas pensassem que era este seu destino, mas queria mesmo era ir para o Rio de Janeiro, onde as coisas estavam sempre acontecendo, quando chegasse lá veria o que fazer. Não estava com medo, era jovem e juventude e coragem são parceiras.

     Tomou um copo de café e comeu um pão com manteiga, entrou no ônibus e, com um olhar que não conseguiu abranger toda a cidade porque era construída sobre morros, murmurou um adeus e prometeu que aquela cidade de merda não a veria mais.

     Chegou a Belo Horizonte por volta de treze horas e procurou o guichê que vendia passagem para o Rio de Janeiro, comprou para o horário de vinte duas horas, chegaria ao destino pela manhã e teria o dia inteiro para organizar-se e resolver suas necessidades mais urgentes, que era alojamento e comida.
Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 25/09/2018
Reeditado em 01/10/2018
Código do texto: T6459644
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