A MINEIRINHA 05
 
     Foi revirar os guardados dos patrões, tinha o cuidado de decorar primeiro as posições dos objetos, depois de satisfeita colocaria tudo como estava na mais perfeita ordem. Já tinha feito isto de outra vez, mas apenas por curiosidade, desta vez tinha um objetivo: “descobrir a causa do suspiro de Irene”. Fuça aqui, arruma, vai noutra gaveta, faz o mesmo, até que numa gaveta encontrou uma porção de papéis e um pacote de notas de dólares, que era uma boa quantia, entre os papéis tinham exames médicos e viu uma infinidade de exames de gravidez. Nenhum deles positivo, continuou procurando e descobriu que Irene era dada como estéril, guardou tudo como estava e foi ver televisão, mas incomodada com as informações, desligou e foi-se deitar, demorou a dormir e ficou matutando... O que lhe valeria no futuro a descoberta? Esperaria com calma, era jovem, tinha tempo e "a pressa é má conselheira", riu dos ditos mineiros. Irene, à medida que convivia com Marcela, foi cada vez mais gostando e confiando nela e se abrindo, contou que trabalhava numa grande empresa e que não dependia do marido.

     Era uma engenheira civil brilhante e apesar do marido insistir para ela não trabalhar, não abria mão do seu emprego muito bem remunerado. Tinha pavor de avião e não gostava de dirigir, sabia e era habilitada a dirigir, tinha seu próprio carro, mas era tão pouco usado que, apesar de tê-lo comprado há mais de ano, parecia ter saído da concessionária naquele dia. De vez em quando falava uma a duas palavras referentes a filhos, Marcela espichava a orelha, mas ela sempre se calava, como se tivesse medo de tocar no assunto. Mas falara sobre a agência de imóveis do marido com filiais em todas as grandes cidades do país, eram como ela dava a entender muito ricos.

     Era sexta-feira e Jorge chegara cedo. Tinham combinado de ir ver um filme que estava sendo lançado nos Estados Unidos e um amigo seu trouxera uma cópia para fazer uma média com os amigos no Brasil. Irene expressou a Jorge o fato de Marcela ficar sozinha no apartamento, ele disse que não haveria mal em levá-la, desde que não a apresentassem como empregada. Poderiam dizer que ela era uma sobrinha de Irene, e que estava no Rio para estudar, claro que a moça concordou logo, mas fez charminho: - Ah seu Jorge, vão o senhor e dona Irene, eu não tenho nenhum vestido para ocasiões assim e não fica bem uma sobrinha ir mal vestida.

     Imaginem... Roupa era o que Irene tinha sobrando, e tudo de grife até internacional. Levou logo a moça para o quarto e num minuto a perereca virou princesa e sem beijo de príncipe. Um vestido longo de cor bege ascendendo para o marrom, com etiqueta de Dior e com uma boina ao estilo Che Guevara azul bem claro, um sapato de salto médio, claro... Uma sorte ela ter o pé trinta e seis igual ao de Irene, uma bolsa delicada com uma orquídea pintada em cada lado. Batom, ela usou o seu, pois, os de Irene eram claros, e para ela com a pele morena clara, ficavam bem tons mais fortes. Escolheu uma cor vinho e Irene espargiu um borrifo de perfume suave que não agredia, e combinava com seu aspecto juvenil. Pensou... Levar empregada em festa é muita comodidade, mas, pode servir para alguma coisa. Era a lei de Gerson funcionando, "levar vantagem em tudo”.

     Quando saíram, Jorge tremeu na base, vinha já alimentando uma vontade de dar uns agarros nela e apesar de se mostrar sem afetação, a menina deu um banho de beleza, charme e até elegância, se tinha uma coisa que Marcela sabia bem, era sobre desfiles de moda que acompanhava pelas revistas da época, era inteligente e sabia como deixar os homens zonzos sem matar de uma vez, notou todo o interesse do patrão, sem dar a entender que estava sequer olhando para ele, ele foi sincero quando disse: - Nossa, que transformação, vamos perder a funcionária, vão pedir esta moça em casamento com certeza.
Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 30/09/2018
Reeditado em 30/09/2018
Código do texto: T6463391
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.