NO ALTO MAR - mergulhador cap 2

NO ALTO MAR

Heitor está colocando o capacete em seu filho enquanto Sara balança a cabeça negativamente. (Ela está impossível. Sempre assim, sempre assim, sempre discordando de tudo o que eu faço. Mas ela vai ver, ela vai ver sim!)

−Não acredito que você vai fazer isso, Kaleb.

Heitor não podia deixar o clima sair do suave, não, não.

−Ah, Sara. Relaxa. É suave.

Mas viu os pés de Sara batendo com força no chão do barco, o que fez Heitor sorrir (É isso, sempre procurar relaxar. Esse é o seu papel de marido, Heitor. É isso que lemos no livro de etiqueta).

Então soltou mais uma gracinha.

−Ainda bem que você não veio de salto.

Sara o olha dos pés à cabeça. Abaixa a cabeça e sorri.

Heitor percebe algo. Depois de perceber que o sorriso já havia acabado, somente depois, Sara levanta a cabeça.

Heitor sente que é o momento. Tira uma pequena bússula e a agenda da mochila.

−É aqui.

Heitor maneja o leme e desliga o motor do barco. Desce a âncora. Olha para a esposa que está olhando o mar.

Kaleb está ao lado de Heitor.

−Vamos logo, Heitor.

Heitor vai até Sara e a beija. Os olhos estão frios, perdidos. Ela não está feliz.

−Sabe o que eu acho engraçado nisso tudo?

−O quê, querida?

−Você nem mesmo me consulta para fazer qualquer coisa. (Droga, então era daquilo que se tratava?)

Ela bate os dedos freneticamente sobre o parapeito do barco. Ela vai para o lado de Kaleb.

Heitor apenas observa (Que teatro bem feito! Mas não vai alterar meu bom humor, não vai não!).

−Eu fico sempre ao lado do meu filho e você? Parece que sempre quer buscar seus interesses? (Era um sermão, sim mais um. Daqueles que sempre aconteciam nos momentos em que a família estava feliz. Parabéns, querida. Mas não vai conseguir, não vai não!)

−Acha que pode usar um adolescente de dezessete anos para fazer o que bem entender?

Kaleb está com a cabeça baixa, nitidamente sem graça. Coça a cabeça.

Heitor vai para o lado de Kaleb, aperta o regulador de oxigênio grudado à máscara dele. Olha fixamente para a esposa que desvia o olhar e cruza os braços.

Heitor sabia que realmente Sara deveria ter alguma razão no que falava. Talvez fosse algo como a segurança do garoto. (Já sei, já sei o que vou dizer, Sara, para manter a leveza)

−Eu vou estar ao seu lado, filho. Mas não vai poder ir tão fundo está bem?

Ele coloca as mãos no rosto de Kaleb.

Sara se afasta.

Kaleb sorri.

−Ok, Heitor. Obrigado.

Os olhos de Heitor se voltam para Sara que balança a cabeça em discordância mais uma vez. Ela corre para o convés, chorando. O barco começa a balançar. E o coração de Heitor também (Choro, não, amor! Isso não pode acontecer!).

−Espere aqui, filho. Já volto.

Mas, antes que Heitor pudesse chegar do lado de Sara para consolá-la, Kaleb o interrompeu.

−Veja.

Heitor passa os olhos e vê a esposa procurando algo dentro do compartimento de roupas. Expirando, volta o olhar para onde o filho está olhando. Vários pássaros no horizonte voando rapidamente. O sinal da urgência.

−Que droga. Parece que uma tempestade se aproxima. Temos pouco tempo.

−O que está havendo?

Abaixado, já pegando o que tinha eu ser pego de materiais de mergulho, Heitor acena para o filho.

−Venha para dentro. Vou fazer o que tem quer feito e já volto.

Heitor veste máscara, se sentado de costas na amurada e mergulha.

A mente de Heitor está acelerada. Nuvens cinzentas se aproximavam em uma velocidade enorme. Olha para seu relógio. 07:08h. A água ainda está clara, mesmo na profundidade que estava. E então, depois de vinte e três metros de profundidade, ele finalmente viu o que esperava há anos de pesquisa. Só uma moeda de ouro. Mas era o sinal. Havia mais e mais e mais. Muitas delas! A imagem do Golum do Senhor dos Anéis veio em sua mente, de súbito e ele sorriu. (Meu precioso! Meu precioso! Ele é meu! Ele é meu!)

Checou, por mais alguns minutos, o lugar, mas tinha que voltar. A tempestade deveria estar muito perto. Perto mesmo! Não podia abandonar sua família.

Já no barco, vendo que a tempestade ainda demoraria uns cinco minutos para alcançá-los se ficassem parados, sentiu que tinha que comemorar. O clima estava bom, muito bom mesmo!

−Achei. Ficaremos ricos, meus amores. Estou certo de que o tesouro de uma das esquadras dos navios europeus está aqui mesmo. Ninguém mexeu!

Orgulhoso ele exibe a moeda de ouro.

Alexandre Scarpa
Enviado por Alexandre Scarpa em 15/11/2018
Código do texto: T6503414
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