O Variante da Luz

O Variante da Luz

Passar um dia no campo, era o sonho para quem morava na cidade. Eu garoto que era, alimentava sempre este desejo.

O plano para o passeio estava pronto, o primo Hélio chegara a tarde e já conseguira da mamãe o consentimento.

A noite foi longa, a expectativa da viagem, e as estórias contadas por ele, proporcionaram-me uma noite envolto em mistérios, a fugir de fantasmas, e a desenterrar botijas. Acordei com um pesadelo ao ser puxado pela mãe d’água para o fundo do rio. Finalmente raiou o dia, trazendo com ele os guardas do sol nascente e suas flechas que venceram as trevas expulsando os demônios da escuridão, as pálpebras foram ficando mais leves, para abrirem-se totalmente após

o café da manhã.

Feita as recomendações costumeiras, despedimo-nos, e logo saímos da cidade, percorrendo em uma estrada lamacenta que devido a chuva estava bastante escorregadia.

A vista da imensa serra no horizonte, fazia o local não parecer distante. Economicamente andarilhos, chegaríamos por volta de meio dia, tínhamos a esperança de conseguir uma carona, por conhecer-mos todos os carros que rodavam por aquela estrada, porém disposição não faltava, mesmo assim algumas vezes, parávamos embaixo das mangueiras com o pretexto de descansar, e uma vez abastecidos de “sombra e fruta fresca”, seguíamos em frente, para chegar a tão esperada Chapada Azul.

Ficamos o resto da tarde em casa, ao anoitecer, junto com os garotos da vizinhança sob a luz amarelada de uma lamparina a querosene, ficamos no terreiro a brincar do que fosse possível. A noite sempre uma criança, deu lugar ao gargalhar do um novo dia que nos despertou com uma sinfonia de gritos de aves e bichos. Recuperados da fadiga, estávamos prontos para qualquer aventura que viesse, entre elas, a mais esperada conhecer o variante da luz. Não sabia o que era, mas em torno do nome imaginávamos toda a fantasia possível para a nossa pouca idade.

Chegando a um pequeno córrego de águas frias, descemos até chegar a um paraíso, nome mais próximo que poderia definir com todas as letras este local, e ao êxtase proporcionado por tamanha beleza!

Havia um pequeno lago cercado de grandes pedras, com águas transparentes que corriam lentas, fazendo uma cortina espessa descendo em cascata ao saltar sobre as pedras.

Podia-se ver no fundo, pequenos peixes a circular pelo fundo de cascalhos brancos. Era uma visão relaxante, o frio das lajes a pouca distância da superfície já não incomodava.

Tudo fascinava, a sombra sobre as águas, as pequenas corredeiras, e a voz da mata.

Ficaríamos ali o dia inteiro se o primo não nos chamasse para continuarmos a caminhada em busca do nosso objetivo.

O sol baixando no horizonte com seus raios oblíquos refletia na água colorindo a névoa formando pequenos arco-íris. Parecíamos petrificados enquanto olhávamos aquele calidoscópio sem fim. Com cuidado entramos aos poucos em uma gruta, e por passagens estreitas fomos acompanhando a luz e descobrindo coisas incríveis. A água jorrava das paredes engrossando mais e mais um veio maior que apressadamente se dirigiam para a saída. Levados pela curiosidade, fomos vencendo o medo e seguimos em frente a procura da nascente.

Saímos num grande salão iluminado, lindo e assustador!

Tudo ali parecia falar, ouvíamos sons estranhos, pareciam vozes que ecoavam entre gargalhadas e gritos ensurdecedores que nos deixava arrepiados!

Quando saímos já escurecera, de volta para a casa grande, encontramos muita gente no local, estavam todos preocupados, querendo saber ao mesmo tempo onde estávamos nestes três dias em que nos procuravam.