Fundações do medo

E estando em seu caminho rumo à Towada, Isamu viu surgir numa curva do caminho uma jovem descalça e com o quimono rasgado, que corria em sua direção.

- Fuja! Fuja! - Ela gritou em desespero. - Eles vêm aí!

- Quem são eles? - Indagou Isamu sem se mover um milímetro do meio da estrada, mão no cabo da ninja-to que trazia atravessada no cinto. Impressionada com sua frieza, a jovem curvou-se à frente dele, mãos no colo. Isamu retribuiu o cumprimento.

- Os homens do general Takamoto! - Exclamou a garota.

Havia um bambuzal próximo à estrada e Isamu apontou para lá.

- Esconda-se ali atrás. Eu vou subir numa das árvores do outro lado da estrada, de onde poderei acompanhar o avanço desses perseguidores de donzelas...

E assim foi feito. Pouco depois que Isamu empoleirou-se num galho grosso de onde podia observar a estrada sem ser visto, um grupo de seis soldados passou abaixo dele.

- Ela veio por aqui... - disse o homem que estava à frente. - Deve ter fugido para a aldeia vizinha.

- O general não vai ficar nada satisfeito se ela conseguir escapar - comentou outro.

- Sigamos em frente - atalhou o primeiro soldado. - Não deve estar muito longe.

E retomaram o caminho.

Isamu aguardou pacientemente que se distanciassem, e só então chamou a jovem escondida no bambuzal. Ela apareceu pouco depois, ainda nervosa.

- Por que estão à sua procura? - Inquiriu Isamu. - E como você se chama?

- Eu sou Wami - respondeu ela. - E o general quer me usar como hitobashira.

Isamu franziu a testa.

- Eu sou Isamu e estou a caminho de Towada - apresentou-se. - Hitobashira é algo muito sério... imaginei que os candidatos fossem voluntários.

- Eu pareço estar me voluntariando, Isamu-san? - Indagou a jovem, muito séria.

- De fato, não... mas então porque o general resolveu "voluntariá-la"?

- Dizem, na vila onde moro, que ele sonhou com uma donzela que dançava na rua... eu! Seja isso ou não verdade, o general acredita que para dar sustentação ao castelo que está construindo na colina Hokusan, é necessário um hitobashira. Quer me enterrar viva, sobre a pedra fundamental!

- Se ainda fosse uma ponte que servisse a comunidade, eu até poderia entender a necessidade do sacrifício - ponderou Isamu. - Mas isso me parece puramente egoístico.

- Creio que sou muito jovem para morrer de forma tão trágica - suspirou Wami, retorcendo as mãos.

- Tem razão - declarou Isamu. - Eu vou ajudá-la.

- Mas como fará isso, Isamu-san?

- Primeiro, preciso descobrir porque o general Takamoto precisa de um hitobashira. Você tem alguém que more fora da vila e possa abrigá-la... e que não seja alvo da suspeita do general?

- Bem, sim... tenho uns parentes distantes que moram no sopé das montanhas. Imagino que não irão me procurar ali.

- Muito bem; irei acompanhá-la até lá. Depois, vou tentar desvendar este mistério.

E, caminhando lado a lado, a dupla seguiu pela estrada no rumo contrário ao dos soldados de Takamoto.

[Continua em "Um dia a casa cai"]

- [18-12-2018]