Há uma possibilidade

[Continuação de "A porta se abre"]

- Harthford? O que você vai fazer lá? - Questionou Corinne Marshall, quando o filho lhe disse à mesa do café da manhã que iria visitar o vilarejo vizinho.

- Um trabalho de pesquisa... sobre a fundação da cidade. Para o Museu de História Natural - despistou Jay Marshall, passando pasta de amendoim num waffle.

- O seu trabalho como monitor agora inclui fazer pesquisa de campo? - Corinne não parecia muito convencida, a xícara de café suspensa no ar.

- Estou tentando conseguir uma grana extra, fazendo serviços para o departamento de documentação... vão me indicar um historiador de Harthford, que vai me dar acesso ao material - explicou ele, após tomar um gole de leite maltado. A primeira parte da justificativa era mentira, e embora realmente fosse fazer contato com um historiador, não pretendia ainda declarar que seu interesse não era propriamente nele ou no seu trabalho, mas na filha adotiva do mesmo, Graciela Henderson. Corinne, todavia, pareceu tranquilizar-se com a ideia.

- Fico feliz que esteja se desenvolvendo no trabalho - aprovou ela, levando a xícara aos lábios.

- Acho que.no futuro, pretendo trabalhar lá, mãe - revelou Jay.

- Você pode, - retrucou a mãe, olhos fixos nele - desde que termine uma universidade antes. Ou então, só irá conseguir uma vaga de zelador ou vigia.

- Posso tentar conseguir uma bolsa de estudos para atletas... - divagou Jay.

- É uma ideia... - reconheceu a mãe, servindo-se de mais café. - Mas com tanto tempo que está dedicando ao museu e seus trabalhos paralelos, talvez não sobre muito para dedicar ao basquete.

- Eu... vou tentar organizar minha agenda - prometeu Jay.

- É bom que o faça - advertiu a mãe. E passando geleia de morango numa torrada:

- Quando vai à Harthford?

- Ainda estou definindo a data... depende da disponibilidade do historiador - declarou ele em tom evasivo.

- Isso parece bem sério - avaliou ela. - Então, antes de ir, faça um favor a você mesmo e pesquise sobre a história do lugar, para não chegar lá totalmente leigo. E você poderia conversar com sua avó Simone... ela sabe histórias sobre Harthford, embora eu acredite que muitas são lendas.

- Que tipo de lendas, mãe? - Inquiriu Jay.

- Oh, você já deve ter ouvido... porque não há negros em Harthford, etc.

Terminou de comer a torrada enquanto Jay comia seu waffle.

- E qual é a sua opinião, mãe? - Indagou ele finalmente.

Corinne deu de ombros.

- Harthford é como se fosse um condomínio fechado, exclusivo para gente branca. Provavelmente, simplesmente não gostam de negros... ao menos, não vivendo entre eles - opinou, após esvaziar a xícara de café.

E, pousando a xícara no pires, dedo em riste:

- Mais um bom motivo para você não chegar lá ignorando a história deles! Demonstre que recebeu uma boa educação em casa!

Jay prometeu que o faria - e que também iria procurar a avó materna, Simone.

[Continua em "Credibilidade online"]

- [06-01-2019]