O café dolorido

Era muitas décadas atrás, vocês vão concluir que faz muito tempo mesmo porque aconteceu na minha infância. Não sei não mas teria eu uns 8 ou 9 anos, um pouco pra menos porque pra mais eu acho que não.

Ah! Então estava a chaleira de água em cima de um fogareiro, talvez movido à querosene, era para fazer o café lá de casa. - Porque não estava no fogão a gás? Porque naquele tempo parece que não tinha fogão à gás, de repente nas casas de gente de mais posses houvesse, pra saber teria que pesquisar, mas deixa pra lá.

Minha mãe lidava na igreja, catequista famosa dedicava na sua missão fervorosamente (era muito católica, alguns diziam que era católica até no fundo d’água) deixava os filhos menores com minhas irmãs mais velhas, sua missão além do catecismo era trabalhar na igreja.

E a chaleira estava no fogo a vasilha com água já estava fervendo. Eu aos berros dizia:

--- Quero café!

Uma de minhas irmãs dizia irritada:

--- Espera aí, Lourenço, que porcaria também, você não sabe esperar?

Esperar nada, eu nas pontas dos pés fui segurar na vasilha e a água fervente derramou totalmente na minha barriga. A dor foi insuportável, dava pra imaginar o desespero das minhas irmãs, só argumentavam incessantemente que aconteceu porque eu era muito birrento...

As minhas irmãs foram inocentadas, mas minha mãe foi repreendida pelo meu pai que era manso que nem um cordeiro, mas minha mãe não era e seus argumentos de que estava fazendo suas obrigações sagradas, declarou que até poderia ser pior. Foi minha enfermeira durante minha convalescência, e não é que cuidou direitinho? As dores eram amenizadas pelo carinho que me dispensava, e com certeza muitas rezas também, Ela e meu pai agora descansam junto do Senhor, estou contando porque fui pivô daquela discussão.

Tá pensando que eu era levado, não é?

Não era não, dos meus 16 irmãos eu era o mais santinho...

Um dos meus irmãos mais velhos quando tinha os seus 5 aninhos, brincando mas queimava a perna do meu bisavô, os outros dois... não espere aí esses ainda estão vivos, não posso relatar não...