Fiel guardião

E quando os funcionários do serviço postal em Toledo abriram as portas do carro correio, no trem procedente de Albany, dali pulou para a plataforma um pequeno Border terrier, de aparência tristonha e pelo hirsuto preto e branco. Tinha uma coleira marrom com uma plaqueta de metal pendendo do pescoço.

- Ei, Owney! - Saudou-o Ben Edwards, um dos escriturários que supervisionava a descarga dos malotes postais.

O terrier abanou o rabo e recebeu uma coçadela no lombo. Em seguida, correu para um dos postes de ferro que sustentavam a cobertura da plataforma e "batizou-o", perna erguida. Outro funcionário assoviou para o cachorro, chamando-o para dentro do posto dos correios na estação. Ali, o animal encontrou duas tigelas aguardando por ele, com água e comida. Isaac Thompkins, que auxiliava Edwards na conferência dos malotes, parou para assistir a movimentação criada pelo animal.

- Então é esse o Owney de que tanto você falava? - Indagou para o colega. - Imaginei que fosse maior, para ser vigia de malotes...

- Não é preciso ser grande para ter senso de responsabilidade - replicou Edwards. - E isso o Owney tem mais do que muita gente que eu conheço...

- Quem é o dono dele?

- Era de um escriturário dos correios de Albany... - explicou Edwards. - Ele saiu do serviço, mas o Owney não. Agora, é o nosso mascote, de todo o serviço postal ferroviário. Provavelmente, deve conhecer mais estações de trem do que jamais viremos a conhecer.

O terrier havia acabado de fazer sua refeição e deitou-se sobre uma pilha de malotes recém-desembarcados. Ficou ali, cabeça erguida, muito atento, enquanto o carro correio era abastecido com uma nova carga de malotes.

- Tudo conferido! - Avisou Thompkins para Edwards.

- Vem, Owney! - Chamou Edwards, batendo na porta do vagão.

O cachorro saltou da pilha de malotes, abanando efusivamente o rabo. Pulou para dentro do carro correio e aboletou-se sobre os sacos de lona carregados de correspondência, cabeça entre as patas.

- Até a volta, Owney! - Despediu-se Edwards acenando.

O terrier agitou a cauda, mas não mudou de posição. As portas do vagão foram fechadas, e sacolejando, o trem deixou a estação de Toledo rumo ao próximo destino.

- Quando ele volta? - Indagou Thompkins, enquanto o trem desaparecia resfolegando numa curva da ferrovia, deixando atrás de si um rastro de fumaça.

- Pode demorar meses - avaliou Edwards, ajeitando o quepe na cabeça. - Amanhã ele poderá estar indo para Chicago... ou Boston... ou Nova Iorque...

E dando uma palmada afetuosa no ombro do colega, acrescentou:

- Venha! Vou telegrafar para Albany avisando que Owney passou por aqui e estava bem. Eles vão gostar de saber!

- [17-01-2019]