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Antonio de Albuquerque
Conto dos encantos

Voando a uma hora e meia, avistei o lago da Serra Nublada, próximo a São Gabriel da Cachoeira. O hidroavião manobrou baixinho e suave sobre a floresta e pousou num lago, verdadeiro espelho d’água. Solicitei ao piloto Teodoro que aguardasse alguns minutos, e como de praxe surgiram dois nativos que em Nheengatu cumprimentaram-me pedindo para segui-los. Adentramos a floresta, os índios com seus jamaxins às costas e eu com a minha Mochila Samsonite a tiracolo, sentindo que os guerreiros sorrindo testavam a minha capacidade de caminhar por trilhas em selva densa, creio que se convenceram da minha destreza.

Pela trilha caminhamos quarenta minutos chegando à pequena aldeia, morada do meu bom amigo Ibert e sua filha Nayra, que haviam me convidado para aquela visita, que segundo Nayra era para me revelar uma coisa que ainda guardavam em segredo. Nayra havia perdido a mãe sendo criada com carinho pelo pai. Menina inteligente de treze anos, falando alguns idiomas, entre tantos o de sua preferência o Nheengatu. Tivemos um almoço farto e saboroso servido ao vinho de cupuaçu e outras iguarias da floresta. Deitado numa rede de fibra tirei um cochilo visto que à noite haveria uma festa surpresa. Eu querendo dormir e Naya fazendo mil perguntas sobre a cidade, mas ganhei e adormeci sentindo o cheiro da flor dos ipês amarelos da densa floresta, muito distante de qualquer povoado.

A noite chegou silenciosa qual aroma, Ibert me ofertou uma bebida dizendo tratar-se de um chá, sendo este a revelação que havia anunciado e que nos conduziria a outras dimensões. Hesitei, porém junto com ele e Nayra bebi. O chá era amargo, mas em poucos minutos cessou o gosto. Permaneci em completo silêncio ouvindo a floresta e seus belos pássaros da noite. Meus sentidos se ampliaram e passei a ver e sentir pela própria consciência expandida e viajei pelo interior do meu corpo, visitando o cérebro, coração e todos os órgãos, numa extraordinária aula sobre o corpo humano, esta fantástica obra de engenharia genética que o Criador nos concedeu para nela habitarmos.

Também viajei pela floresta, rios, cachoeiras, enxergando o menor inseto, ou animais maiores; onça, anta, jacaré e uma infinidade de outros animais e os mais diversos pássaros bailando sobre lagos, rios e cachoeiras. No silêncio da noite escutei o barulho dos macacos guaribas, dos sauins e das grandes onças. Como também visualizei e até toquei nelas; cobras sucuris, jiboias e no interior dos lagos acarinhei botos Rosa querendo me levar para a beira do lago, imaginando eles que eu estava perdido. Despertei como se fosse de um sonho encantador numa graciosa e risonha manhã com o Sol dourando meu semblante.

Haviam se passado quatro horas de visões e encantamentos da Natureza. Com grande sentimento amoroso, nos abraçamos, ora chorando ou sorrindo de imensa alegria e felicidade. Meio dia o avião sobrevoou a Aldeia, sendo este o sinal que havia chegado a hora da partida. Com os olhos nevoados de saudade, voltei para o lago e embarquei no hidroavião prometendo a Nayra voltar para ela me conduzir ao santuário dos Colibris. 

Sorrindo de alegria  Nayra me abraçou dizendo: Mairamé reyuí. “Em Nheengatu: quando você volta? ”. Voltarei breve, quero me encontrar com os colibris e borboletas do santuário, beijos
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Antonio de Albuquerque
Enviado por Antonio de Albuquerque em 28/02/2019
Reeditado em 15/04/2019
Código do texto: T6585999
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