O CAVALEIRO DO TEMPLO

Era uma manhã fria quando cheguei ao casarão. Fui gentilmente recebido no pátio pelo meu amado mestre, Jacques Demolay. Caminhamos pelo belíssimo jardim, ornamentado com incontáveis plantas exóticas. O mestre Jacques me mostrou os domínios da propriedade do casarão, enquanto caminhávamos hora por entre frondosas árvores, hora sob o agradável sol da manhã, nos fundos do castelo que costumávamos chamar de casarão.

Jacques Demolay era o Grão-Mestre dos Templários e havia me chamado, pois queria me fazer prior da Ordem de Vera Cruz, ou seja, me passar o comando dos Cavaleiros Templários no priorado do casarão. Eu era apenas um jovem cavaleiro e apesar de toda experiência que tinha, estava encantado com a beleza do lugar. O mestre me alertou que batalhas sangrentas inevitáveis estavam por vir; como eu estava acostumado com esse mundo, não dei a devida importância para aquela previsão que ele estava fazendo sobre o seu próprio destino.

Dias depois, em uma nobre cerimônia realizada a céu aberto, recebi as chaves do templo das mãos do meu amado mestre Jacques Demolay, que apontou para o castelo e me lembrou do dia da minha Iniciação. Ele me falou da espada, da luta e dos irmãos ali presentes. O mestre me apresentou a todos os cavaleiros, que a partir daquele momento, estavam sob o meu comando no casarão e deu ordens expressas para que me seguissem como seu mestre prior. Todos se curvaram em reverência. Fiquei um pouco sem graça com aquela demonstração de apoio daqueles valorosos irmãos.

Jacques Demolay partiu no dia seguinte para uma nova e importante missão na Europa; e eu fiquei como o mestre do templo no casarão de Vera Cruz. Durante conversa privada onde eu recebia instruções do Grão-Mestre, ele apontou na direção do sol e me disse que Deus estava comigo. Senti certo tom de tristeza em sua fala, mas achei que poderia ser por conta da sua partida; em minha opinião, Demolay já estava velho para esses compromissos que assumia em nome da Ordem dos Cavaleiros Templários.

Eu me instalei no casarão e Jacques Demolay seguiu na companhia de alguns irmãos; cavalgaram até o litoral e de lá, embarcaram para a Europa. Eu não sabia que era a última vez que eu o viria. Dezoito meses depois, Jacques Demolay, nosso amado Grão-Mestre, foi queimado vivo em uma fogueira em frente à Catedral de Notre-Dame.

Demolay, assim como outros irmãos, foi acusado absurda e injustamente por inimigos caluniadores e interesseiros; o Rei da França, Felipe IV (o Belo), o chanceler Guilherme de Nogaret e até o próprio Papa Clemente V, que estava ciente daquela injustiça e mesmo assim, não teve a coragem para contrariar Felipe. Todos os Cavaleiros Templários foram considerados criminosos e também condenados. Muitos de nós nos dividimos em pequenos grupos e assim, conseguimos fugir para terras distantes.

Eu segui com meus irmãos para uma nova fase. A Ordem jamais foi extinta; ela se remodelou, se modernizou. Os séculos foram se passando e os Cavaleiros Templários deixaram de usar cavalos, armaduras e espadas. As cruzadas já não existiam mais. Porém, a missão dos verdadeiros templários continua. Com o passar do tempo, a Ordem ganhou outros nomes; outras lutas e novos cavaleiros. O lema ainda continua vivo; “Non nobis Domine, non nobis, sed nomini tuo da gloriam”. Traduzido como “Não para nós Senhor, não para nós, mas toda glória ao Teu nome”.

Adriano Besen
Enviado por Adriano Besen em 23/11/2021
Código do texto: T7392045
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