Companheiros de viagem

O kombibus para Efterwetter tinha uma cabine fechada, com cinco bancos duplos para dez pessoas, e uma carroceria aberta, ambos pintados de vermelho, com o teto do ônibus em branco. Um letreiro acima do para-brisa indicava o destino, escrito em branco contra um fundo preto. Depois de ter seu bilhete picotado por Goaris, Sjutsje entrou pela única porta de acesso, no lado oposto ao do motorista, e acomodou-se na janela do primeiro banco, imediatamente atrás do grande motor do veículo, que dividia o espaço frontal com o assento do motorista. Pôs a mala sob o banco e aguardou enquanto os demais passageiros subiam a bordo; eram apenas cinco, três homens e duas mulheres de meia-idade, todos aparentando ser da região, pelo tipo de roupas que vestiam.

- Pessoal, vou ter que fazer o itinerário completo - anunciou Goaris, ligando o motor.

Sjutsje, que havia se sentado sozinha, deu uma rápida olhada para trás e captou as expressões de insatisfação dos seus companheiros de viagem. Ninguém havia ficado alegre com a notícia.

- Vai subir a serra? - Indagou um tipo de terno barato surrado, sentado no último banco.

- A parada em Reeddak está confirmada - redarguiu o motorista, sem entrar em detalhes e engatando uma primeira. - Vamos embora, que a estrada é longa!

Sjutsje agradeceu aos céus por não ter sido identificada como a responsável pelo inconveniente; quando chegasse em Hegestap, a sua ideia era descer do ônibus o mais rápido possível, e torcer para que não lhe xingassem.

* * *

Durante todo o trajeto pelas terras baixas das Middenflakte, Sjutsje tinha à sua direita a sombra azulada da serra dos Papegaaien, no alto da qual estava a vila de Reeddak e seu destino preciso, o castelo de Hegestap. Enquanto seguiam rumo oeste, acompanhando o sol poente, parando de fazenda em fazenda e de povoado em povoado, entregando e recolhendo encomendas, as montanhas aproximavam-se sutilmente, como que fechando um cerco ao redor do kombibus. Finalmente, quando já tomavam toda o horizonte ao norte, uma placa na estrada assinalou o início da subida para Reeddak.

Se no caminho para Efterwetter haviam cruzado com poucos veículos (de carga, em sua imensa maioria), agora Sjutsje tinha a impressão de que ninguém tinha assuntos a resolver em Reeddak; exceto, talvez, ela mesma.

Finalmente, após meia hora ziguezagueando por uma estrada estreita e sinuosa, avistou o vulto imponente de Hegestap desenhando-se contra o céu crepuscular. Antes que o motorista anunciasse a parada, ela já estava de mala na mão.

- Alguém vai ficar em Hegestap? - Indagou Goaris em tom casual, olhando a cabine pelo retrovisor.

- Eu! - Gritou Sjutsje, acenando.

O kombibus parou bem em frente ao portão duplo de ferro trabalhado que fechava o acesso ao castelo, ladeado por uma verdadeira floresta de lado a lado. Sjutsje ergueu-se, apreensiva; será que a estariam esperando, conforme havia sido prometido?

- Toque a campainha - sugeriu Goaris. - Eu espero, até alguém responder.

Os dois últimos passageiros, o homem de terno surrado e uma das mulheres, acompanharam sua passagem com curiosidade, enquanto ela descia do veículo com a mala e apertava o botão da campainha. Por um momento, nada pareceu acontecer, e o castelo estava distante o suficiente para que som algum pudesse ser ouvido dali, mas finalmente, uma janela iluminou-se numa das torres voltadas para a estrada, e uma silhueta desenhou-se contra a luz. No instante seguinte, os portões abriram-se de par em par, num convite silencioso para que a jovem entrasse. Ela voltou-se para o kombibus, e viu Goaris ao volante, observando-a com atenção.

- Se vai entrar, faça isso logo; aqui, escurece rápido - disse ele.

- Grata por tudo, senhor Goaris - despediu-se Sjutsje.

- Não se esqueça da Libeltsje! - Gritou Goaris, antes de engatar a marcha e continuar o caminho para o centro de Reeddak, como se houvesse alguém esperando lá para embarcar.

Não seria por ele que iriam saber que Sjutsje havia sido o motivo de não terem pego o atalho...

- [Continua]

- [24-11-2021]