Berchtop

O telefone público para o qual Derre levou Sjutsje, fora instalado numa tradicional casa de pasto da vila, a Berchtop, localizada na praça do Mercado; na verdade, havia três aparelhos operados à moeda alinhados em cabines de madeira abertas, logo após a entrada do estabelecimento.

- Você tem outras três opções que funcionam 24 h, caso o Berchtop esteja fechado: - explicou didaticamente o motorista - a agência de correios, o posto de abastecimento de combustível, e o posto de saúde.

Sjutsje pensou que se pudesse usar o telefone do castelo, tudo seria mais fácil, mas as regras não haviam sido feitas para atendê-la, é claro.

- De longe, esta é a opção mais confortável - avaliou Derre. - Vá fazer a sua ligação, enquanto eu tomo um café...

O salão do restaurante tinha apenas ocupação parcial, com clientes que pareceriam deslocados andando pelas ruas de Reeddak: gente de terno e sobretudo, e mulheres com roupas sóbrias e escuras, de trabalho. Sjutsje logo concluiu que Derre não a havia levado até ali apenas pelo conforto: era muito provável que aquele fosse um ponto de encontro de agentes do governo, e certamente os telefones sofriam algum tipo de monitoramento. Não que ela tivesse algo a esconder, naturalmente...

- Mãe?

Desta vez, Taitske Ykema demorou três toques para atender o telefone.

- Oi filha, que bom te ouvir! Está ligando de Hegestap?

- Não, mãe, dum restaurante na vila, uma "casa de pasto" como chamam aqui... Berchtop. Não sei se anotam recados, mas pelo menos tenho de onde ligar quando puder sair do castelo.

- E quando vai ser a sua próxima saída?

- Essa é uma boa pergunta, tudo ainda está muito vago... mas consegui ser aprovada na primeira fase de quaisquer que sejam os testes necessários para trabalhar na biblioteca. Desculpe se não lhe dou maiores detalhes, mas...

Olhou em torno. Nenhum dos presentes parecia particularmente interessado nela ou na sua conversa, e Derre estava sentado numa banqueta à frente do balcão, no fundo do estabelecimento, de costas e aparentemente flertando com a balconista, obviamente casada: ostentava um vistoso bracelete de cobre no pulso direito. Prosseguiu, cautelosamente.

- Eu mesma ainda não entendo bem como as coisas funcionam por aqui, mas Reeddak é um lugar bem simpático, fora o fato de que é longe de tudo, e telefones particulares ainda são raridades.

- Parece um local bem antiquado. Mas então, você está gostando?

- Creio que poderíamos morar na vila... mas talvez Bintse tenha que ir estudar num semi-internato; na serra, só há ensino fundamental. Nem sei como ele iria reagir a isso...

- Bom, ainda é cedo para discutir o assunto, não acha? Podemos deixar para o início do ano que vem, depois que tiver certeza de que esse trabalho é o que realmente você quer.

Sjutsje lembrou de Jant e ficou em silêncio. Do balcão, Derre virou-se para ela na banqueta e bateu o dedo no relógio de pulso: hora de ir. Sjutsje suspirou.

- Sim, mãe, vamos ter tempo para discutir isso com calma. Agora, eu vou ter que desligar...

- O mais difícil dessa situação, é não saber quando vamos nos falar de novo - lamentou Taitske Ykema.

- Em breve, mãe - prometeu Sjutsje.

Derre vinha se aproximando e Sjutsje saiu da cabine.

- Há alguma restrição do Birô Central quanto a linhas telefônicas em Reeddak? - Questionou a jovem em tom de desabafo.

O motorista a encarou com simpatia.

- Talvez aqui os moradores não precisem realmente de linhas telefônicas... ou de rádio, ou TV - comentou. - Você os acha antiquados? E se, na verdade, eles estiverem muito além do que você imagina?

E sem aguardar resposta, dirigiu-se ao automóvel estacionado lá fora.

- [Continua]

- [04-12-2021]